Ainda sobre Bolsonaro e Amoêdo.
Tenho visto com mais frequência defensores da candidatura de Bolsonaro defendendo o voto útil por parte dos eleitores de Amoêdo, ainda no 1o turno, no candidato do PSL. Inclusive, mostram-se ressentidos pelo fato do candidato do Novo não ter aberto mão da própria candidatura, e cerrado fileiras em torno do ex-capitão.
A lógica parece ser a seguinte: se não houver uma união entre os candidatos anti-establishment de direita, este campo corre o risco de ficar de fora do 2o turno. Então, vale desde apelos à “racionalidade” do voto útil no 1o turno até ataques ao candidato do Novo pela sua falta de “credenciais de direita”. Sério, tem post que só falta dizer que Amoêdo tem um pôster do Che no escritório.
Vejamos.
Creio que o objetivo número zero de todos nós do lado de cá é evitar que o PT volte ao poder. Este risco parecia remoto dado tudo o que aconteceu nos últimos anos. Mas sabe como é, o eleitor brasileiro tem uma capacidade infinita de fazer zerda, então essa possibilidade vem crescendo a olhos vistos.
Para os eleitores do Bolsonaro que não concordam com a premissa acima, que ficariam mais contentes com Bolsonaro presidente do que tristes com o PT de volta ao poder, nada do que vai adiante vai fazer sentido. Eu, por exemplo, voto em Amoêdo. Mas abriria mão já do meu voto se alguém me garantisse que, com isso, o PT não ganharia a eleição. É disso que se trata.
Então, tendo esse objetivo principal em mente, podemos ter outro subordinado. Alguns querem o Bolsonaro, outros o Amoêdo, outros o Alckmin, outros a Marina. Para que o meu raciocínio daqui para frente funcione, é preciso concordar que Alckmin e Marina são menos piores que um governo do PT.
Alckmin e o PSDB podem ser “frouxos”, “ladrões”, “esquerdistas”. Mas não fazem sombra à ameaça que um novo governo do PT representaria, tanto em termos de diretrizes econômicas quanto à preservação das instituições. Basta ver o que os petistas têm feito com o judiciário brasileiro, achincalhando a imagem do país aqui e lá fora. Sem contar a promessa de “controle da mídia”, que não é brincadeira. Não dá para imaginar o PSDB fazendo isso.
Já Marina pode até ter “coração de petista”, mas está longe de representar essa máquina de moer instituições em que se tornou o PT. Podemos detestar seu programa de governo, mas nada se compara à mistificação em torno do Dom Sebastião de Curitiba.
Sendo assim, os eleitores de Amoêdo precisam verificar, para decidir sobre o seu voto útil no 1o turno, se: 1) é possível eleger Bolsonaro já no 1o turno ou 2) havendo 2o turno, se o PT tem reais chances de chegar lá, e 3) chegando o PT ao 2o turno, qual o candidato com maiores chances de derrotá-lo.
A hipótese 1 parece mais do que remota. Nem Lula, no auge de sua popularidade, conseguiu eleger-se (ou eleger o seu poste) no 1o turno. Ainda mais em uma eleição tão pulverizada quanto a atual. Esta pulverização parece garantir a existência de um 2o turno, o que nos leva à hipótese número 2.
A hipótese 2 parece cada vez mais provável, dado o incrível nível de intenções de voto do presidiário. Por menor que seja a capacidade de transferência de votos, a base para esta transferência parece estar aumentando. Mas isso só vai ficar mais claro ao longo de setembro. Trata-se de uma questão em aberto.
Se a hipótese 2 der pinta de que vai se confirmar, então o eleitor que quer votar útil deve buscar o candidato que demonstrar mais chances de derrotar o candidato do PT no 2o turno, qualquer que seja ele. Este candidato deve ser o que apresentar menor índice de rejeição.
Em todas as pesquisas, Bolsonaro aparece atrás de qualquer oponente no 2o turno, justamente por conta da sua rejeição. Contra Haddad, Bolsonaro teoricamente aparece na frente, mas este não é um resultado definitivo, dado que Haddad sequer é o candidato do PT ainda. Claro, nenhum resultado é definitivo a essa altura do campeonato, e ao longo de setembro teremos mais elementos para decidir sobre quem tem mais chance de, se for o caso, derrotar o PT no 2o turno.
Em resumo, se eu votar útil no 1o turno, meu voto irá para aquele candidato que tenha mais chance de evitar o abraço dos afogados, com o PT voltando ao poder.