Hoje o Estadão traz uma extensa reportagem sobre regimes democráticos que descambaram para o autoritarismo. Tem um bom histórico do que ocorreu na Venezuela, vale a pena ler.
Mas vou aqui destacar a entrevista do cientista político Yascha Mounk, autor de “O Povo Contra a Democracia”. Destaco o trecho abaixo, em que o alemão atribui à incapacidade das democracias liberais de distribuir renda a causa das aventuras populistas. Claro que Bolsonaro aparece como a ilustração perfeita da tese.
É uma pena que a realidade simplesmente não converse com a tese.
Tivemos, no Brasil, 6 governos ditos “democráticos”. Durante esses governos, a distribuição de renda melhorou, não piorou. Segundo a propaganda petista, inclusive, nunca na história do Brasil os pobres foram tão incluídos, de várias formas e maneiras.
Então, de repente, esses esquecidos pelo sistema capitalista liberal se revoltaram e votaram em Bolsonaro, mesmo tendo sido incluídos pelos governos petistas. Uma contradição em termos.
Eu tenho uma outra tese, mesmo não sendo um aclamado cientista político alemão: o povo se revolta quando as elites do país são coniventes com a roubalheira e as ditas instituições democráticas servem para manter na rua pessoas que deveriam estar atrás das grades. O povo se revolta contra a injustiça, mas não a econômica. O povo se revolta contra a injustiça moral.
Isso explica porque em lugares como EUA, Inglaterra e outros países onde a justiça funciona e a lei é realmente igual para todos, a democracia liberal continua em pé, não caindo refém de aventureiros populistas. Ou, pelo menos, não de maneira definitiva, como a derrota de Trump mostrou nos EUA.
A miséria é, sem dúvida, uma chaga. Deveríamos todos trabalhar para diminuir este problema em nosso país. Mas as pessoas não se revoltam porque falta pão. As pessoas se revoltam quando constatam que ser honesto é coisa de otário. E, quando isso acontece, escolhem o primeiro aventureiro que afirma que vai acabar com essa pouca vergonha. Foi o que aconteceu no Brasil. Essa é minha tese. Mas não sou cientista político alemão. Então, posso estar enganado.