<Atenção! Spoilers!>
O filme Mente Brilhante conta a história do matemático John Nash, prêmio Nobel de Economia. Além de ser uma das inteligências mais prodigiosas do século XX., Nash sofria de uma esquizofrenia profunda, o que o fazia conviver com personagens fictícios tão reais, que quem assiste fica boa parte do filme achando que aquilo é real.
Nash percebe seu engano quando nota que uma das personagens, uma menina, não envelhece ao longo do tempo. Este é o momento chave do filme, que separa a realidade de suas alucinações.
Bolsonaro vem claramente atuando para barrar investigações contra seus familiares. COAF, Receita e, agora, PF. Existe realmente algo de podre na família Bolsonaro ou é tudo “perseguição política”? Onde está a realidade?
Quando começou a vir à tona o grande esquema de corrupção do PT, o mantra do partido e de seus seguidores é que tudo não passava de “perseguição política”, engendrada pela mídia e pelos perdedores da eleição para interromper um projeto político popular. Aliás, até hoje a narrativa não mudou, mesmo depois de tudo. As conversas raqueadas de Moro e Dalagnol serviram para reforçar essa, digamos, interpretação da realidade. Os petistas ainda não notaram que a menina não envelhece.
Obviamente, não há termos de comparação entre o esquema industrial de corrupção do PT e o “rachid” na Assembleia do Rio ou eventuais sonegações fiscais. São ordens de grandeza completamente diferentes. Mas (e esse ‘mas’ é importante) Bolsonaro foi eleito com uma agenda fortemente calcada no combate à corrupção. Esta pauta e a agenda de costumes foram os pilares de sua eleição. A agenda liberal para a economia foi um adendo que interessava somente à turma da Faria Lima que, como sabemos, não elege ninguém.
Estamos diante de duas realidades, as mesmas da época do PT: perseguição política ou corrupção real? Não vai adiantar dizer que se trata de “manipulação da mídia”. “Globolixo” foi uma expressão inventada pelos petistas, e não adiantou nada, a realidade acabou se impondo.
Neste caso, a realidade também acabará se impondo. E mesmo depois, se restar provada a corrupção (e este ‘se’ é importante), ainda haverá bolsonaristas convencidos de que “tudo não passou de uma urdidura das elites e da mídia para abortar o projeto de um novo país”. Se esta leitura da realidade lhe parece familiar, é porque é mesmo.