Tem se falado muito que a Globo e a grande imprensa em geral estariam perseguindo Bolsonaro pelo fato de seu governo ter cortado verbas de publicidade. Ontem alguém me mandou esse gráfico como prova dessa afirmação. Fui verificar.
Em primeiro lugar, não consegui checar diretamente os dados. No site do SECOM não existem esses dados, seria necessário pedir com base na lei de acesso à informação. Fui checar em fontes alternativas.
O primeiro lugar foi o portal da transparência do próprio governo, que informa os gastos aprovados e empenhados do orçamento. O problema é que aquilo se refere apenas aos gastos com publicidade de utilidade pública, feitos pelos diversos ministérios. Isso aí soma apenas algumas dezenas de milhões de reais. O grosso da publicidade do governo é (era) feita pelas estatais.
Fui verificar a lista dos maiores anunciantes do Brasil em 2016 (abaixo), curiosamente o último ano mostrado no gráfico, que depois pula para 2019. Por que será? Tenho uma hipótese, que exponho adiante.
Pois bem, na lista dos maiores anunciantes, temos Caixa, BB e Petrobras, com gastos somados de aproximadamente R$3,5 bilhões. Bem mais, portanto, do que os R$1,5 bi que aparece no gráfico. Não consegui compatibilizar um número com o outro, mas não tem problema, porque o ponto é outro: na lista de 2019 (também anexado abaixo), não há estatais! Ou seja, o grosso da retirada de patrocínios deve ter sido por parte das estatais.
Agora, vem a questão: por que são omitidos os números de 2017 e 2018? Provavelmente porque, com a saída do PT e o início do saneamento das estatais já no governo Temer, esses gastos com publicidade devem ter recuado muito já em 2017. Ora, isso vai contra a narrativa de “punição” à mídia. O que provavelmente ocorreu é que as estatais, quebradas, deixaram de investir em publicidade nos montantes anteriores. Essa é a explicação que tenho para a omissão de 2017 e 2018 nesse gráfico.
Outro ponto: os gastos das estatais foram de R$3,5 bi em 2016, em um bolo de R$130 bi. Ou seja, cerca de 2,7% dos gastos com publicidade. Mesmo que a iniciativa de cortar gastos tenha sido do governo Bolsonaro, não me parece que uma perda de faturamento de pouco menos de 3% seja capaz de quebrar uma Globo.
A imprensa tradicional tem enfrentado o desafio das novas mídias, aqui e no resto do mundo. Google e Facebook estão ficando com partes cada vez maiores do bolo publicitário. Este é o problema que esta indústria está enfrentando, não o fato do governo Bolsonaro ter supostamente cortado verba de publicidade.
Por fim, este mais um argumento para privatizar todas as estatais: serão um instrumento de coerção a menos na mão de governos de qualquer coloração, seja para agradar, seja para punir a imprensa.