Tenho um amigo que votou em Bolsonaro em 2018 e vai votar em Lula em 2022. Não pude acompanhar o seu processo de transformação, mas hoje ele se diz com muito mais “consciência social”. Ele continua usufruindo de todos os confortos de sua vida de pequeno burguês, mas passou a falar mal da “classe média” e do “imperialismo estadunidense”. Foi então que me caiu uma ficha.
Muitos apontam esse comportamento como hipócrita ou contraditório. Seria o popular “socialista de iPhone” ou “esquerda caviar”. Nada mais errado. Estes pequenos luxos são absolutamente compatíveis com a vida de quem tem “consciência social”. Ter “consciência social” não significa abrir mão da vida classe média, ou abrigar sem-teto ou menores infratores em casa ou viver em Cuba. Essas coisas são irrelevantes quando se tem “consciência social”.
E no que consiste, então, essa “consciência social”, se não em atos concretos? Simples: em empurrar a sociedade para um “outro mundo possível”. E como se faz isso? Votando em candidatos alinhados com essa agenda, que implementarão a desconstrução da “classe média escravagista, patriarcal, heteronormativa”.
Assim, a única forma de uma pessoa demonstrar que tem “consciência social” é o seu voto. Os seus atos pouco importam. Nesse sentido, por exemplo, a filantropia burguesa não passa de uma forma hipócrita de “consciência social”, se a pessoa que faz caridade não vota em um partido de esquerda. De que adianta dar migalhas do que cai da mesa dos ricos se não se vota em candidatos que vão “mudar as estruturas da sociedade”?
Escolas como a Avenues, quando convidam políticos de esquerda para dar palestras, estão justamente procurando desenvolver a “consciência social” dos seus alunos. E essa “consciência social” os levará ao ato que define a “consciência social”: o voto em candidatos de esquerda.
É irrelevante o fato de governos de esquerda terem sido desastrosos para os pobres em países como Brasil, Argentina e Venezuela. Isso é apenas um detalhe, assim como o iPhone. O que importa é desfilar “consciência social”, almejando “um outro mundo possível”, somente possível quando entregamos o governo nas mãos de políticos de esquerda. Portanto, se você ainda vê contradição e hipocrisia na “esquerda caviar”, é porque você não entendeu o real significado de “consciência social”.