Hoje, o Valor traz algumas declarações de um diretor do BNDES em evento na Abimaq (sim, segurem suas carteiras!). Entre outras pérolas, consta que o diretor soltou essa: “Se o valor (da devolução dos recursos do BNDES para o Tesouro) de R$180 bilhões colocar em risco a missão do BNDES, não será R$180 bilhões”. Aplausos da Abimaq.
Em dezembro de 2007, o Tesouro tinha o equivalente a 0,2% do PIB no BNDES. Veio a crise (a “marolinha”) e, em dezembro de 2009, o Tesouro havia aumentado seus aportes no BNDES para 4,0% do PIB. Isso, para enfrentar a “maior crise do capitalismo desde a depressão de 29”. O investimento saiu de 18,1% para 19,8% do PIB nesse período, atingindo o pico de 21,5% do PIB em meados de 2010.
Pois bem. Hoje, o Tesouro tem aportado no BNDES a bagatela de 6,9% do PIB, isso depois de ter devolvido R$ 100 bi no final do ano passado, quando a dívida do BNDES para com o Tesouro estava em 8,5% do PIB. O investimento representava, no final de 2016, 15,6% do PIB. É isso mesmo que você leu: os aportes no BNDES do seu, do meu, do nosso, aumentaram de 4% para 8,5% do PIB, e os investimentos recuaram de mais de 20% para pouco mais de 15% do PIB!
Agora, o Tesouro quer mais R$180 bilhões de volta, o que deve reduzir a dívida do BNDES, no final de 2018, para cerca de… 4% do PIB!, o mesmo montante do final de 2009, naquele hiperesforço para combater os efeitos da crise do subprime. Ou seja, estamos apenas enxugando os excessos da política mal sucedida dos anos Dilma.
O barulho do corpo técnico do BNDES, a começar de seu presidente, e do “empresariado nacional”, só pode ser entendido como espírito de corpo (mais um!) diante das necessidades do país de resolver a sua grave crise fiscal. Todas as corporações têm “motivos nobres” para não pagar a sua parte na conta.
Como diz o velho ditado, ajuste no olho do outro é refresco.