Proteção de quem, cara-pálida?

“[…] se concede um HC para alguém […] irrita muitas pessoas, mas a gente está protegendo aquele que está irritado, porque o desmando do poder vai atingir também aquelas pessoas que antes torciam para a prisão de A, mas depois vem o B, o C”.

Este é Gilmar Mendes, dizendo que o cidadão comum estará mais protegido se o STF soltar Lula hoje. Excelentíssimo Ministro Gilmar Mendes: B e C são Aécio Neves e Michel Temer, não sou eu, nem qualquer outro cidadão que busca cumprir a lei. Se Sua Excelência quer proteger B ou C, não nos meta em sua equação.

Na verdade, o cidadão honesto fica mais desprotegido quando A, B, C e todo o resto do alfabeto não cumprem pena pelos seus crimes.

Onde estão?

Lista de senadores que assinaram pedido de manutenção do cumprimento de pena após condenação em 2a instância, entregue hoje à Carmen Lucia.

Onde estão Aécio Neves, Antônio Anastasia e José Serra?

Mais um curral

A privatização da Eletrobrás é dessas coisas em que só acredito vendo. FHC, na época das grandes privatizações, até que tentou, mas não conseguiu. Fez privatizações localizadas, de concessionárias estaduais. Mas na vaca sagrada do setor elétrico, não tocou.

O que me chama a atenção nesse episódio é o contraponto que o governo federal está fazendo em relação a Minas Gerais. Enquanto políticos mineiros dos mais diversos partidos lutam sofregamente para manter mais essa ilha de ineficiência chamada Cemig, o governo federal vende a Eletrobrás, para aumentar a eficiência e baratear a energia para o consumidor.

Por que tamanha sofreguidão em manter a Cemig nas mãos do estado? Difícil de entender, sem lançar mão da hipótese de manter nas mãos desses mesmos políticos um instrumento de, digamos, acomodação de interesses. “Interesses estratégicos” ou “patrimônio do povo mineiro” seriam motivos cômicos se não fossem trágicos. Minas, como todos os outros Estados do Brasil, está quebrada. Mas esses políticos irresponsáveis não veem problema em tomar uma dívida de R$11bi para pagar pelas concessões que, de outro modo, seriam leiloadas. E R$11 bi do BNDES, que estaria, assim, perpetuando a ineficiência.

Aécio Neves, o político mineiro que está liderando esta patacoada, posou de moderno na campanha de 2014. Está se mostrando, na verdade, mais um coronel que quer manter o seu curral intacto.

Narrativas

16/10/2014: terceiro debate presidencial entre Aécio e Dilma, no SBT. Aécio está especialmente agressivo, e Dilma termina o debate nocauteada. O massacre foi tão forte, que Dilma perde o rumo na entrevista pós-debate. Como se enrola diante da repórter (o que não é incomum, diga-se de passagem), Dilma começa a passar mal (ou faz de conta que está passando mal, tanto faz). Senta-se, e é socorrida por João Santana. Ali nasce a estratégia “Aécio maltrata mulheres”, que roubará preciosos pontos do tucano na reta final da campanha. A durona, aquela que havia sobrevivido à tortura, o coração valente, havia sido maltratada por um monstro misógino. A mistificação colou, e o resto é história.

16/03/2016: Dilma e Lula são gravados em uma conversa telefônica, aparentemente tramando a posse antecipada de Lula como ministro, para fugir da jurisdição do juiz Moro. O telefone grampeado era de Lula, com a devida autorização judicial. Mas Dilma começa uma campanha, martelando dia e noite que a presidente foi grampeada sem autorização do STF. E mais: que houve “vazamento seletivo”, e não levantamento legal do sigilo. A mistificação está sendo repetida dia e noite, por Dilma e por todos os militantes do PT, incluindo “juristas”, com o claro objetivo de colar em Sérgio Moro o rótulo de “juiz parcial, que age ilegalmente com fins políticos”.

Funcionou com Aécio em 2014. Vai funcionar com Moro em 2016?