Quem paga pela mitigação das mudanças climáticas?

Apenas uma minoria das empresas multinacionais investem em “ações climáticas”, faz-nos saber reportagem de hoje. Se é assim com as multinacionais, imagine só as nacionais…

O que leva esses dirigentes a ignorar o alerta vermelho do Inmet sobre as temperaturas recordes que nos aguardam nesse fim de semana? Será que não entendem a emergência climática que vai nos carbonizar a todos muitos bilhões de anos antes da programada expansão do Sol?

A pista é dada na própria matéria: “consumidores continuam com o mesmo padrão de consumo e investidores continuam cobrando retorno”. What a surprise!

Há um gigantesco esforço regulatório para que empresas e investidores profissionais se adequem a regras de investimentos que têm por objetivo mitigar as mudanças climáticas, além de outras questões sociais que não são o foco dessa reportagem. A ideia parece simples e genial: convença os donos do dinheiro de que os consumidores e investidores estão ávidos por mitigar as mudanças climáticas, de modo que aquelas empresas e fundos de investimento que não sigam por esse caminho estão fadados à extinção.

Só que não. A realidade nua e crua é que a ameaça das mudanças climáticas ainda está longe de tocar os corações e mentes da imensa maioria dos consumidores e investidores. Por alguma estranha razão, o senso comum atribui esse calorão de fim de inverno a oscilações normais do padrão climático. E, pior: mesmo que houvesse uma consciência maior do perigo que nos ameaça, a imensa maioria simplesmente não tem orçamento para investir em mitigantes para o problema, preocupados que estão em sobreviver ao dia. Mitigar as mudanças climáticas custa caro, e ninguém está realmente disposto a pagar por isso.

Empresas e investidores profissionais não passam de escravos dos seus clientes, que são os verdadeiros “donos do dinheiro”. Se os consumidores insistem em escolher produtos pelo seu preço e investidores insistem em exigir retornos maiores, o que empresas e investidores profissionais podem fazer a respeito, a não ser obedecer a esses desejos expressos?

Uma solução para a ecoansiedade

Quando eu era um “jovem adulto”, o medo do fim do mundo estava ligado a uma potencial guerra nuclear. O filme The Day After, de 1983, impressionou-me profundamente, a ponto de sentir uma certa ansiedade a respeito. Na época não costumavam dar nomes pra essas coisas, mas seria uma espécie de “bombanxiety”.

Ontem assisti ao Oppenheimer, que trata justamente desse tema. Mas, arrisco dizer, o filme chegou com uns 40 anos de atraso. A cena final, com os foguetes levando ogivas nucleares, já não causa comoção. A possibilidade de uma guerra nuclear já não dispara mecanismos de ansiedade na juventude. Hoje, as mudanças climáticas assumiram o lugar de porta do inferno.

A boa notícia é que, ao contrário da hecatombe nuclear, que dependia da decisão de governantes, a reversão das mudanças climáticas está em nossas mãos, inclusive dos jovens. Para evitar a catástrofe, basta que, digamos, os 20% mais ricos do planeta diminuam seu consumo em, digamos, 20%. Como os 20% mais ricos devem representar algo como 80% do consumo do planeta, teríamos uma redução de consumo de energia da ordem de 16%. Acho que seria o suficiente para reverter, ou pelo menos atrasar, as mudanças climáticas.

Ah sim, essa sugestão vai contra a percepção comum de que a “solução” para as mudanças climáticas estaria nas mãos dos governos, assim como eliminar os mísseis nucleares. Isso tem um fundo de verdade, na medida em que os governos têm a capacidade de coordenação necessária para induzir a redução de consumo sugerida acima. O único problema é que esse tipo de indução costuma ser pouco popular. Que governo democrático faria isso? Muito melhor vender a ideia de que são petrolíferas as culpadas pelas mudanças climáticas.

O fato é que ninguém quer dar a má notícia: não temos, hoje, tecnologia para manter o atual nível de consumo sem emitir gases de efeito estufa. Fontes de origem limpa são agregadas todos os anos, mas são suficientes somente para, mal e mal, fazer frente ao aumento marginal do consumo. Seria ainda pior sem essas fontes, mas está longe de resolver o problema.

Então, a única saída é diminuir drasticamente o consumo de tudo, com os mais ricos puxando a fila. Quem sabe se os jovens tivessem consciência de que a reversão das mudanças climáticas está em suas mãos, bastando andar menos de carro e comprar menos roupas, a ecoansiedade não desaparecesse?

O bom e velho e sujo petróleo

Um artigo até certo ponto surpreendente de Fareed Zakaria, traduzido no Estadão de hoje. Quer dizer, surpreendente para quem vive no planeta Greta. Aqui na Terra, continuamos (e, segundo Zakaria, continuaremos ainda por muitos anos) dependendo do bom e velho e sujo petróleo.

Esse artigo parece um deja vu, por isso me chamou a atenção. O articulista descreve os rios de dinheiro que os sauditas e seus vizinhos estão gastando para comprar torneios de golfe e times de futebol. Faz-me lembrar da “reciclagem dos petrodólares” na década de 80. É de estranhar que o articulista do Washington Post gaste sua tinta com um fenômeno que já dura 50 anos, e não parece que vai cessar tão cedo.

No início de 1973, o barril de petróleo era negociado a cerca de US$ 3. Passado um ano, após o primeiro boicote da OPEP, o mesmo barril estava sendo negociado a US$ 11. Consideram que a inflação americana foi de aproximadamente 600% nesses últimos 50 anos, a dinheiro de hoje o barril de 1974 estaria valendo R$ 77, que é mais ou menos o seu preço atual. Ou seja, passaram-se 50 anos, e o preço do petróleo continua lá, firme e forte, enriquecendo os árabes. Como qualquer mercadoria, o preço do petróleo cairá de maneira definitiva somente quando a demanda cair de maneira definitiva. Esse será o sinal de que a era do petróleo chegou ao fim.

PS.: claro que, no curto prazo, os produtores podem manter os preços altos regulando a produção. Mas essa é uma tática que funciona somente no curto prazo. A saúde econômica desses países depende visceralmente da exportação de petróleo, e eles não podem deixar de vender eternamente. Então, os produtores mais caros saem do mercado, estabelecendo um novo equilíbrio a preços mais baixos.

A matemática é cruel

Tem muito frenesi sobre hidrogênio verde ultimamente. O Brasil seria candidato a ser grande produtor do combustível, por contar com uma matriz de geração de energia elétrica menos poluente. Para quem não sabe, o hidrogênio verde recebe esse nome porque, para a sua produção, só é usada eletricidade com origem “verde”, ou seja, de combustíveis não fósseis. O hidrogênio do mal recebe outras cores.

Fui tentar entender onde estamos nesse assunto. Fiz uma rápida pesquisa na internet e descobri alguns números interessantes. Por exemplo, para se produzir 1 kg de hidrogênio verde são necessários 55 kWh de energia. Esse número em si não quer dizer muita coisa, mas se juntarmos com a informação de que a bateria de um Tesla precisa de uma carga de 80 kWh de energia para ficar completa, concluiremos que uma bateria de Tesla equivale a aproximadamente 1,5 kg de hidrogênio.

Pois bem. Se a autonomia de um Tesla com essa bateria é de 500 km, qual seria a autonomia de um automóvel movido com 1,5 kg de hidrogênio? Considerando a informação da reportagem de que o poder calórico do hidrogênio é de 3 vezes o da gasolina (1 kg de hidrogênio = 3 kg de gasolina), e que cada litro de gasolina pesa mais ou menos 0,75 kg, podemos afirmar que 1 kg de hidrogênio equivale a mais ou menos 4 litros de gasolina em termos de poder calórico. Considerando um consumo de mais ou menos 8 km/l de gasolina, um tanque de 60 litros equivaleria a mais ou menos uma bateria de 80 kWH, ambas podendo rodar 500 km. Se 1 kg de hidrogênio gera o mesmo poder calorífero de 4 litros de gasolina, então teríamos que ter um tanque de 15 kg de hidrogênio para andar os mesmos 500 km. Ou, de outra maneira, cada 1,5 kg de hidrogênio serve para andar 50 km, 10 vezes menos do que a bateria de lítio que usa a mesma quantidade de eletricidade. Visto de outra forma, se para gerar 1 kg de hidrogênio são necessários 55 kWh de energia elétrica, para 15 kg seriam necessários 825 kWh . Ou seja, para andar 500 km, um Tesla gasta 80 kWh enquanto um carro movido a hidrogênio gastaria 825 kWh. Peço a alguém entendido no assunto que confira as contas acima.

Mas não é só isso. Em 2022, foram produzidos 28.700 TWh de energia elétrica no mundo. Se para andar 500km são necessários 825 kWh, o total de energia elétrica produzida no mundo poderia mover todos os carros, por ano, por cerca de 17,4 trilhões de quilômetros. Para os aproximadamente 1,4 bilhões de carros no mundo, isso equivaleria a cerca de 12,4 mil km/ano. Ou seja, se toda a eletricidade do mundo fosse transformada em hidrogênio, isso seria o suficiente para que cada carro rodasse por pouco mais de 10 mil km/ano.

Mas, obviamente, trata-se de um hipótese heróica. Não podemos abrir mão de toda a eletricidade do mundo só para mover carros. Além disso, grande parte da eletricidade é gerada de fontes sujas, que não servem para produzir hidrogênio verde. De todas as fontes de eletricidade, somente 39% são de fontes “limpas”. Então, a conta seria de 4,8 mil km/ano/carro se toda a energia elétrica limpa fosse transformada em hidrogênio verde.

As contas acima, se estiverem corretas, mostram que estamos longe, muito longe, de ter um substituto para a bateria de lítio, quanto mais para o petróleo. Obviamente, não se trata de desmerecer iniciativas como a do hidrogênio verde. Um dia teremos tecnologia para que esse combustível seja economicamente viável. O problema é achar que estamos às portas de uma revolução, quando, na verdade, estamos muito distantes. E o pior é que, por mais que tenhamos crescimento na geração de energia limpa, a demanda por energia, essa danadinha, cresce ainda mais rápido, fazendo com que a geração de energia suja mantenha seu crescimento. E se a demanda por hidrogênio verde aumentar, adivinha, não vai ter como manter a oferta de energia elétrica sem aumentar a geração de energia suja.

Bem, tudo isso pra dizer que palavras são bonitas, mas no final do dia o que importa é a matemática. É ela que vai definir qual tecnologia será adotada. Discursos inflamados e chamadas para a ação não substituem uma boa conta econômica. E, no caso do hidrogênio verde, a julgar pelos números acima, ainda temos muito a caminhar até chegar lá.

As ideias “certas” e a legitimidade popular

No início do governo Bolsonaro, quando o então presidente ainda estava em sua fase “eu e as ruas”, cansei de escrever aqui que o Congresso tinha (e tem) tanta legitimidade popular quanto o presidente. Em minha timeline, bolsonaristas esfregavam na minha cara os quase 58 milhões de votos conquistados pelo ex-capitão, contra o esquálido número de votos do demônio da vez, Rodrigo Maia, então presidente da Câmara. A matemática, no entanto, era outra: os deputados do PSL, então partido do presidente e, supostamente, sua base no parlamento, tinham conquistado apenas uma fração dos votos totais. Em número de cabeças, eram 52 deputados (10% do Congresso), menos até do que a bancada do PT, que havia eleito 54 deputados. Agora em 2022 ocorreu o inverso: o PL, partido do ex-presidente, elegeu 99 deputados, contra 68 do partido de Lula.

Agora que Lula está no comando, os artistas fazem o papel dos bolsonaristas de 4 anos trás: pedem que o presidente ignore o Congresso e governe com base na força das ideias. Das ideias “certas”, que fique claro. É a negação da legitimidade dos congressistas e do próprio regime democrático representativo.

Lula, a exemplo de Bolsonaro no início de seu mandato, levou várias bolas debaixo das pernas no Congresso por negar-se a fazer política. Comportamento que se entendia por parte de Bolsonaro, que representava o antissistema, mas difícil de entender por parte de Lula, supostamente alguém calejado nos meandros de Brasília. Mas tem sido assim, por algum estranho motivo. Os artistas deveriam estar cobrando Lula não por um veto (um expediente de enfrentamento que não costuma acabar bem para o presidente), mas para que assuma seu lugar como articulador político. E antes que me informem que “política”, no Brasil, significa “toma lá, da cá”, não percam seu tempo. Eu sei disso, mas essa é a regra do jogo. A alternativa é ficar brandindo as “ideias certas”, enquanto o Congresso governa de fato o país.

Eco-ansiedade

Eco-ansiedade. Trata-se de distúrbio psicológico já catalogado pela Associação de Psicologia dos EUA, que consiste em ter um medo descontrolado das mudanças climáticas.

A reportagem do Valor começa afirmando que as mudanças climáticas vêm causando impactos psicológicos. Bem, parece um pouco exagerado dizer que o aumento de um pentelhésimo de grau por ano possa causar ansiedade em alguém. O que provavelmente está acontecendo é que catástrofes climáticas, como furacões, enchentes e incêndios florestais, estão agora sendo relacionados às mudanças climáticas. Então, cada evento desse tipo aumenta a ansiedade de que, talvez, estejamos às portas do fim do mundo.

Quando eu tinha a idade dessa garotada que aparece na foto, lembro de um filme, The Day After, que versava sobre um ataque nuclear aos EUA. Recordo de ter ficado angustiado com a possibilidade de uma guerra nuclear. Tratava-se de uma ameaça real, paupável. Bem, 40 anos depois, estamos todos aqui ainda.

Trinta anos depois desse filme, um outro com nome muito semelhante, The Day After Tomorrow, também versava sobre uma catástrofe iminente: as mudanças climáticas. Ainda estamos nessa vibe, a julgar pelos sintomas de eco-ansiedade em nossa juventude.

Aliás, observando as máscaras usadas por todos os alunos da foto em pleno 2023, a próxima catástrofe com que devem estar preocupados é uma nova pandemia global mortífera. Seria uma vírus-ansiedade.

O irônico é que os alunos aparecem segurando galões de plástico, feitos de petróleo em um processo altamente poluente. Aliás, grande parte de suas roupas deve ter algum derivado de petróleo. Suas iniciativas de reciclagem e economia circular são muito meritórias, sem dúvida, mas o buraco é bem mais embaixo se realmente quiserem diminuir sua “pegada de carbono”. Mas se servir para diminuir a sua eco-ansiedade, já estará valendo.

Falta a etapa 2

Estou cansado de ler e ouvir que o Brasil pode se aproveitar de suas florestas e seu clima para surfar a onda da “transição ecológica”, o que quer que isso signifique.

Sei que estarei sendo repetitivo, mas é incrível como aquele episódio dos duendes do South Park é um guia para entender o Brasil. Vejamos:

Etapa 1: temos florestas e fontes de energia limpa

Etapa 2: ?

Etapa 3: ficamos ricos

Lembrando que, na história dos duendes, a etapa 1 consistia em roubar cuecas, o que vem a dar na mesma, dado que não se sabe o que fazer na etapa 2.

Repetimos esse ciclo desde o descobrimento. Tivemos o ciclo da cana de açúcar, do ouro, do café, da borracha e, mais recentemente, do petróleo do pré-sal. Todos eram o passaporte para a riqueza, a sorte grande que nos levaria ao próximo nível. Só que não. Falta a etapa 2.

Continuamos exportando matéria prima, que tornará rico aqueles que conseguem agregar valor (etapa 2). O mesmo vai acontecer (já está acontecendo) com a nossa “biodiversidade”.

Achar que florestas e fontes limpas de energia nos tornarão ricos per si é tão non sense como querer ficar ricos juntando cuecas. Só que menos engraçado.

Discurso de adolescente

O secretário-geral da ONU, António Guterres, fez duro discurso, em Davos, sobre as mudanças climáticas. Mais um.

Mas, desta vez, o chefe da repartição pública global inovou. Guterres defende que as empresas de produção de petróleo devem ser responsabilizadas pelas mudanças climáticas, a exemplo das empresas de tabaco, pelo mal que causaram à humanidade.

Observando de longe, parece uma bobagem. Mas, se olharmos mais de perto, concluiremos que é, de fato, uma bobagem.

O paralelo é estapafúrdio em várias dimensões. Em primeiro lugar, com todo respeito à indústria tabagista, não faria muita diferença se os cigarros não existissem no mundo. Já o petróleo é a base da incrível diminuição de distâncias dentro das cidades e entre países, permitindo a construção das cidades tal qual as conhecemos hoje e todo o comércio internacional. Além disso, uma parte relevante da eletricidade produzida e de materiais plásticos usados para os mais diversos fins tem como base o petróleo. Podemos dizer que a civilização, tal qual a conhecemos hoje, seria impossível sem o petróleo.

Além disso, a responsabilidade da indústria tabagista é direta. Ou seja, o produto vendido pela indústria prejudica diretamente o fumante. No caso do petróleo, por outro lado, há um sem número de co-responsáveis: fabricantes de automóveis, usinas termoelétricas, fábricas em geral, casas com calefação, etc. Todos esses agentes deveriam também ser responsabilizados pela agressão ao meio-ambiente, não somente a indústria petrolífera. Na verdade, cada um de nós que anda de carro deveria pagar uma indenização.

Por fim, o que pretende o dirigente das nações desunidas? Uma ação de indenização, como ocorreu com a indústria tabagista? No limite, a depender do tamanho dessa indenização, a indústria de petróleo pode se tornar inviável. Então, quero ver os mandatários do mundo explicando para os seus eleitores os preços estratosféricos dos combustíveis ou, até mesmo, a sua completa falta. Talvez Guterres possa ajudar, enviando tropas da ONU para conter os protestos.

O secretário-geral da ONU lembra uma adolescente que faz muito sucesso com esse tipo de ideia. O único problema é que António Greterres já passou da idade de achar que discursos furibundos e descolados da realidade vão resolver alguma coisa.

Vivendo como os índios

Thomas Friedman usa sua pena para lamentar os impactos da guerra da Ucrânia no meio ambiente e na luta contra o aquecimento global. Uns 80% do artigo são gastos louvando “os povos originários”, que estariam ali para “defender as florestas virgens”, e de como a guerra está ameaçando esses povos e florestas ao pressionar os preços de commodities agrícolas, o que estaria aumentando a pressão pelo uso dessas terras.

Nem vou entrar nos vários detalhes pitorescos do artigo (haveria muitos, como normalmente acontece com quem tem uma visão romântica da atividade econômica), mas um ponto me chamou especialmente a atenção. Está já nos finalmentes do artigo, como que um anexo, pois não tem nada a ver com “florestas tropicais” e “povos originários”. A questão é a seguinte: Rússia, Belarus e Ucrânia abasteciam 25% da madeira consumida como combustível até o ano passado. Por causa da guerra, outros países estão tendo que queimar suas próprias “florestas protegidas” no lugar.

Eu diria que preocupante não é o “relaxamento de leis ambientais” para permitir a exploração de madeira. O preocupante é a falta de uma mísera frase nesse artigo que lembrasse o PORQUÊ se queima madeira. Friedman, em seu confortável gabinete com calefação no inverno e ar-condicionado no verão, não liga lé com cré. Enquanto são madeiras exploradas na Rússia, Belarus e Ucrânia, tudo certo. Mas algumas árvores são mais iguais do que outras, então é preciso que a guerra acabe para proteger as árvores mais iguais, pois eu mesmo não vou consumir um kWh sequer a menos para diminuir meu conforto.

Estou sendo repetitivo, eu sei. Mas artigos desse tipo se sucedem, então não resta outra alternativa. Formadores de opinião de países ricos estão muito preocupados com o meio ambiente, mas não estão dispostos a abrir mão de seu conforto pela causa. Como diria Adam Smith, enquanto houver demanda haverá oferta. E a demanda por conforto não tem limites. Enquanto não ficar claro para todos que proteger o meio ambiente como os índios supostamente o protegem significa viver como os índios, vamos continuar com esses artigos bem-intencionados que só apontam culpados. Friedman faria bem em se mudar para uma aldeia isolada para entender o que é viver sem as benesses da civilização que agride o meio ambiente.

A tese do decrescimento econômico

Este post tem tudo a ver com o anterior, sobre as dificuldades que os ambientalistas colocam em relação à construção de linhas de transmissão de energia. Na verdade, é sobre a questão de fundo que organiza todo o pensamento ambientalista: a humanidade é a grande inimiga do planeta, e sua busca incessante por crescimento econômico e lucros é um pecado que será punido, mais ou mais tarde, com a ira de Gaia, a Mãe Natureza. Trata-se da versão científica do Juízo Final, com a diferença de que mesmo os “bons” serão punidos junto com os “pecadores”. Afinal, estamos todos no mesmo barco planetário.

O tema deste artigo é a tese do “decrescimento econômico”. Segundo essa tese, não basta “crescer de maneira sustentável”. Em um planeta com recursos finitos, mesmo esses recursos sendo consumidos de maneira mais lenta, um dia acabarão. A figura utilizada por um dos economistas citados é a de um trem que vai a alta velocidade na direção errada. Não basta reduzir a velocidade, pois a direção continuará errada. É preciso inverter a direção.

Bem, se o efeito do crescimento contínuo é a exaustão dos recursos naturais, o efeito do decrescimento continuo é, no fim da linha, a volta da humanidade às cavernas. O crescimento do PIB nada mais é do que a medida monetária do aumento do padrão de vida da população global. Vivemos hoje com um nível de conforto médio inimaginável para o homem comum do início da Revolução Industrial. O consumo de recursos naturais foi (tem sido) o preço pago para manter e aumentar este conforto.

Sabemos que diminuir o padrão de vida é das tarefas mais difíceis. Uma pessoa que perde o emprego e é obrigada a reduzir o seu padrão de consumo, sofre muito, por mais alto que seja o seu padrão anterior. O ser humano se acostuma muito rapidamente às coisas boas. Por isso, é mais fácil demonizar “os CEOs” e “a busca incessante por lucros”. Em resumo, culpar o “capitalismo selvagem”.

Na verdade, como sabemos, os CEOs das empresas respondem a incentivos. Os incentivos são dados pelos investidores das ações das empresas, que se valorizam na proporção de seus lucros. E os lucros, vejam só, ocorrem quando as empresas conseguem atender satisfatoriamente à demanda dos clientes. Então, na ponta final desse sistema que está levando o planeta Terra à destruição está, veja só, você, que sempre busca produtos e serviços melhores e mais baratos. E os CEOs, que são pagos para atender a esta demanda, levam a culpa.

A tese do “decrescimento do PIB”, além disso, é injusta. Países mais pobres, que não chegaram ainda a um padrão de vida decente, seriam os primeiros prejudicados por uma recessão global permanente. Se a diminuição do padrão de vida é ruim para os mais ricos, chega a ser cruel para os mais pobres. Não à toa, a tese é defendida por economistas de países mais ricos.

Se alguém fizesse a previsão, há dois séculos, de que o planeta seria capaz de sustentar uma população de quase 8 bilhões de almas com um padrão de vida muitas vezes superior ao que vigia à época, seria considerado um visionário utópico, com um otimismo desligado da realidade. Isso porque temos imensa dificuldade de antecipar tecnologias. Da mesma forma, prever o que acontecerá com o planeta daqui a dois séculos com base na tecnologia atual é um exercício fútil. Aqueles que advogam a tese do “decrescimento econômico” subestimam a incrível capacidade humana de fazer mais com menos, capacidade esta levada ao máximo com os incentivos do capitalismo. Trata-se de uma visão pessimista da humanidade. No limite, segundo essa visão, seria melhor que não existíssemos.