Fala impensada

Existem pessoas essencialmente boas e existem pessoas essencialmente más. As pessoas essencialmente boas, quando dizem coisas más, é porque “cometeram um deslize”, “uma gafe”, ou falaram “de maneira impensada”. A fala saiu omo um peido irreprimível, sem querer. Já as pessoas essencialmente más, quando dizem coisas más, estão essencialmente expressando o que vai em seus corações. A fala é de caso pensado, só confirmando o que todos já sabem.

Se um tipo como Bolsonaro, ou qualquer bolasonarista notório, tivesse sugerido um boicote a negócio de pretos ou indígenas, isso renderia horas de debates na Globo News e um inquérito aberto ex-oficio no STF. No entanto, como Genoíno é uma pessoa essencialmente boa (segundo Cantanhede, sua pena no Mensalão foi a mais injusta de todas), sua fala foi “impensada”. Quem me dera ser protegido de meus próprios erros dessa maneira.

O editorial do Estadão foi menos condescendente. Descartou a hipótese de “fala impensada”, uma vez que Genoíno, até o momento, não se retratou. O editorial foi além, dando ao boi o nome correto: antissemitismo.

Não, Genoíno não falou de maneira “impensada”. Ele somente verbalizou o que Lula, os petistas e a esquerda em geral pensam (quem tem dúvida, é só dar uma passeada nos perfis à sinistra do Xwitter): sob a capa de antissionismo (que é basicamente negar aos judeus o seu direito à autodeterminação), pulsa um antissemitismo secular que, em um mundo dividido entre opressores e oprimidos, identifica os judeus com o lado opressor de uma maneira muito mais ampla do que as escaramuças em Gaza fazem supor. A menção às “empresas de judeus” por parte de Genoíno não foi extemporânea; por trás dessa frase emerge a imagem do judeu rico, poderoso, que move os cordões do mundo, e contra os quais se insurge o proletariado. Os judeus estão do lado errado da História, e por isso merecem ser boicotados.

Genoíno está pagando o preço de falar em público o que a esquerda fala em privado. Nesse sentido, vou concordar com a Cantanhede: sua fala foi “impensada”, pois inadvertidamente abriu a tampa do esgoto do pensamento da esquerda.

A sugestão de Genoino

Genoino sugeriu o boicote a empresas de judeus em uma live do Diário do Centro do Mundo no YouTube.

O YouTube faz parte do grupo Alphabet (que também controla o Google), que tem como um de seus fundadores e controladores Sergey Brin, um judeu russo.

O DCM poderia colocar imediatamente em prática a sugestão de Genoíno, fechando o seu canal do YouTube.

A anti-política

Este mimo de comentário foi feito no meu post sobre o Rodrigo Constantino.

De maneira geral, as discussões aqui na minha página se dão em alto nível, mesmo havendo discordâncias sérias e um certo calor na argumentação. O problema é quando a coisa descamba para o ataque pessoal.

Ser chamado de “esquerdopata” é até engraçado. Nunca fiz uma estatística, mas estimo que uns 3/4 dos meus posts sejam contra o PT. Aliás, provavelmente por isso, o cidadão abaixo pediu para ser meu “amigo” aqui no FB. Em um raro momento em que deixei meu coração bom e generoso dominar meu cérebro frio e calculista, aceitei. Errei, como se vê, mas o “amigo” já se encarregou de consertar o meu erro.

Ser chamado de “judeu”, por outro lado, não é nada engraçado. Não porque seja uma ofensa, muito pelo contrário, tenho muito orgulho de minhas origens. Mas por ter sido usado pretendendo ser uma ofensa, em uma clara demonstração de anti-semitismo, sentimento que pensei estar extinto no Brasil. A palavra diz mais sobre quem a pronunciou do que sobre quem a ouviu.

Não sou daqueles que tomam o todo pela parte. O fato deste sujeito ser bolsonarista fanático não tornam anti-semitas todos os bolsonaristas. A imbecilidade, infelizmente, não tem cor partidária.

Tenho muitos e bons amigos que defendem o voto em Bolsonaro, assim como tenho muitos e bons amigos que defendem o voto no PT. A política é o espaço onde se discute como diferentes visões de mundo conviverão em uma mesma arena. Este senhor representa a anti-política, aquela que não discute com o adversário, apenas o silencia, na impossibilidade de eliminá-lo.