Boa sorte para todos

Mais uma entrevista do personagem que promete ser o mais folclórico dos ministros que têm assento no governo Lula. E olha que a concorrência é pesada.

Luiz Marinho nos brinda com o seu conhecimento sobre o mercado de aplicativos. Segundo o ministro, se o Uber quiser ir embora, que vá, pois há aplicativos “aos montes” no mercado. E foi além: os Correios, com todo o seu know how em logística, poderia desenvolver um aplicativo semelhante ao Uber. Além disso, o cooperativismo poderia substituir com vantagem o Uber, basta que os motoristas descubram essa forma de trabalho.

Já tive a oportunidade de escrever sobre “aplicativos solidários” e “cooperativismo”. Basta dar uma busca no meu blog com o termo “Uber” para achar. A conclusão é sempre a mesma, e se resume à filosófica fala atribuída a Mark Zuckerberg no filme “Rede Social”. Durante o julgamento em que os irmãos Winklevoss processam o dono do Facebook por roubo de propriedade, em determinado momento Zucka se vira para os gêmeos e diz, irritado: “se vocês tivessem inventado o Facebook, vocês teriam inventado o Facebook”. Simples.

O Uber (assim como o Facebook) não é só uma ideia. Ideias existem “aos montes”, todo mundo têm ideias o tempo todo. O Uber é uma ideia executada, colocada em prática. Quem já tentou abrir uma empresa e administrá-la sabe do que estou falando. São centenas, milhares de decisões todos os dias. E toda e cada uma dessas decisões pode ser a desgraça da empresa, como normalmente o é. O índice de mortalidade de empresas é gigantesco. E você pode até estar certo, mas se não conseguiu convencer financiadores sobre a sua visão, ou mesmo não conseguiu liderar a sua equipe na direção da sua visão, nada feito, a empresa vai morrer.

Bem se vê que o ministro do Trabalho nunca administrou um carrinho de pipoca. Para ele, o Uber é dispensável, porque tem ”um monte” de substitutos: outros aplicativos, os Correios, cooperativismo. Por um estranho motivo, no entanto, o Uber continua aí, todas essas alternativas simplesmente não apareceram, pelo menos por enquanto. As que tentaram, com exceção da 99, falharam miseravelmente. Aliás, a 99 é o Uber brasileiro que deu certo, e “causa” os mesmos ”problemas” para os motoristas que a empresa americana. Se a legislação mudar e afugentar o Uber, a 99 vai junto.

No fim, o ministro afirma que as variadas necessidades dos motoristas (afinal, não são todos metalúrgicos da Volkswagen) exige uma regulação por parte do Estado! Ou seja, vai homogeneizar na marra. Nessa hora, só me ocorre dizer o que Henrique Meirelles disse em evento para participantes do mercado, e que já ganhou o seu lugar na história: “boa sorte para todos”.

Greve incompreensível

Eu realmente não consigo entender a lógica por trás de uma “greve” de motoristas de Uber.

Os aplicativos de transporte individual são das coisas que mais se aproximam do que chamamos de “livre mercado”. O Uber precisa lidar com duas forças competitivas: a concorrência com outros meios de transporte disputando seus passageiros e a concorrência com outros tipos de emprego disputando os seus motoristas. A empresa precisa cobrar o máximo de seus passageiros mas não a ponto de perdê-los para outros meios de transporte, e precisa pagar o mínimo para os seus motoristas, mas não a ponto de perdê-los para outros tipos de emprego.

Nesse contexto, a melhor greve dos motoristas é simplesmente abandonar o sistema. Mas, para isso, é preciso que esses motoristas tenham um emprego que remunere melhor o seu tempo. Ao fazer uma greve mas não abandonar o sistema, a mensagem que os motoristas estão passando para a empresa é que eles não estão contentes com a sua remuneração, mas não conseguem coisa melhor em outro lugar. A empresa agradece.

A remuneração dos motoristas somente vai melhorar quando a empresa começar a sentir dificuldade em atrair novos motoristas para o sistema, aumentando os preços dinâmicos e a insatisfação dos usuários. No Brasil, com 13 milhões de desempregados, parece que estamos muito, mas muito, distantes desse ponto. O que faz uma greve de motoristas ainda mais sem sentido.