Não gosto disso, mas vou usar argumento de autoridade aqui. Alguns dos economistas que mais respeito assinaram um manifesto em apoio ao projeto de reforma tributária. São eles:
Afonso Celso Pastore
Armínio Fraga
Bráulio Borges
Bruno Carazza
Edmar Bacha
Fábio Giambiagi
Mailson da Nóbrega
Manoel Pires
Márcio Garcia
Marco Bonomo
Marcos Mendes
Otaviano Canuto
Samuel Pessôa
São pessoas que entendem do que estão falando e não têm interesses próprios na defesa da tese. Não vi, até o momento, qualquer manifesto em contrário, a não ser patrocinado por entidades de classe ou políticos defendendo o seu pedaço.
“Votaremos em Lula no 2º turno. Nossa expectativa é de condução responsável da economia”.
Em nota com apenas 14 palavras, os chamados “país” do Plano Real declararam voto em Lula no 2o turno. Apesar de lacônica, são muitas as mensagens transmitidas.
Em primeiro lugar, o apoio em si. Malan, Arida, Arminio e Bacha fazem parte do velho PSDB, aquele que entregou de bandeja o país para o PT e definhou. Essa declaração de voto, portanto, segue a mesma linha do apoio de FHC, Serra, Zé Aníbal, Tasso, sem falar em Alckmin. Trata-se de pura e simples síndrome de Estocolmo.
Em segundo lugar, a nota sacrificou a precisão para ser sintética. Uma nota mais precisa teria um complemento do tipo “Nossa expectativa é de condução responsável da economia e o não uso de esquemas de corrupção em estatais para sustentar máquinas partidárias”. Seria um pouco mais longo e menos elegante, mas ampliaria os compromissos sugeridos ao candidato.
Por fim, os “pais” do Plano Real deram a fórmula perfeita para quem quer votar em Bolsonaro posando de limpinho. “Votaremos em Bolsonaro no 2o turno. Nossa expectativa é de respeito às instituições”. Pronto! Está aí um voto lavado, enxaguado e pronto pra uso.
O ex-presidente do Banco Central, Arminio Fraga, ”desistiu” de votar nulo e agora vai votar em Lula no 2o turno.
A coisa é mais ou menos a seguinte: enquanto estava clara a vantagem de Lula segundo as pesquisas, Arminio declarava voto nulo com a certeza da vitória de seu candidato in pectore. Estava em uma posição confortável, delegando a outros o trabalho sujo e posando de virtuoso no cenário. Agora, com uma diferença bem menor do que mostravam as pesquisas, Arminio decidiu que ele mesmo vai precisar sujar as mãos.
De Arminio na cena política, lembro apenas do memorável debate com o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, na campanha de 2014. Arminio, no papel de ministro da Fazenda designado pelo candidato Aécio Neves, era muito mais preparado, mas foi jantado com farinha por Mantega, sob o olhar atônito da mediadora Miriam Leitão. Aquele debate foi simbólico de quanto o PSDB estava despreparado para fazer oposição ao PT. Arminio representa o espírito desse velho PSDB que está morrendo (que já morreu).
Ninguém ousará duvidar das credenciais ortodoxas de Arminio Fraga. No entanto, para quem tem acompanhado suas últimas manifestações, causa estranheza sua ênfase no “combate à desigualdade” como condição sine qua non para a retomada do crescimento econômico. Parece mais o Piketti falando.
Arminio é um cara muito esperto. Ele já percebeu que esse negócio de “igualdade” é uma pauta que veio para ficar. Ao invés de lutar contra isso, ele arrumou um jeito de usá-la a favor de uma agenda para destravar a economia.
Note que ele não usa o bolsa-família como exemplo de política redistributiva, apesar de não ser necessariamente contra. Ele sabe que isso não passa de esmola que não muda a estrutura de um país. O que ele defende então?
Arminio defende a redução das transferências constitucionais para os mais ricos. Ele traz um dado espantoso: 25% da renda dos 20% mais ricos é fruto de transferências do governo. Isso inclui aposentadorias, salários de funcionários públicos, isenções fiscais das mais diversas naturezas. Ou seja, tudo aquilo que a esquerda defende a ferro e fogo.
Laura Carvalho, a musa dos desenvolvimentistas, estava no mesmo evento, e parece que ficou meio sem ter o que dizer, tendo a sua agenda espertamente roubada por Arminio para defender o contrário de tudo o que ela defende, principalmente no que se refere à reforma do Estado.
Na quinta-feira, o Valor Econômico publicou artigo sobre a reforma da Previdência do famoso Thomas Picketty, autor do best-seller “O Capital do Século XXI”. Por esta obra, Picketty é considerado o patrono da causa das desigualdades causadas pelo capitalismo. Sim, não foi fácil, mas li este livro até o fim.
Quando li o artigo de Picketty e outros autores (incluindo um professor da (surpresa!) Unicamp) tive imediata vontade de escrever um post apontando seus vários erros. A começar pelo título malandro, que insinua que a reforma da Previdência estaria atendendo a interesses escusos. Quando começa assim, difícil chegar a boas conclusões.
Não tive tempo para escrever, pois demandaria muita pesquisa. E também pensei: bom, Pedro Fernando Nery deve também estar lendo este artigo e vai escrever algo muito melhor do que eu seria capaz. Batata!
Abaixo, o artigo de Picketty do dia 11, e a resposta de Nery, publicado hoje no Estadão. Não preciso dizer mais nada.
Este é o resumo do projeto de reforma da Previdência proposto por Paulo Tafner e Armínio Fraga, e que foi entregue a Paulo Guedes na 2a feira. Tafner é um dos maiores especialistas em previdência do Brasil e Armínio dispensa apresentações.
Este projeto economizaria R$1,2 trilhão aos cofres públicos em 10 anos e, de quebra, melhoraria o índice de Gini da previdência em 16% (o índice de Gini mede a desigualdade de renda). Para se ter uma ideia, o projeto do Temer, antes de ser aguado no Congresso, economizaria R$800 bi.
Se aprovado, este projeto significaria um choque de tal monta nas expectativas, que a redução dos juros e a apreciação do câmbio decorrentes dariam um impulso incrível ao crescimento econômico.
Me faz lembrar o já histórico debate entre Guido Mantega e Arminio Fraga na campanha eleitoral de 2014, mediado por Miriam Leitão. Apesar de ser infinitamente melhor preparado que Mantega e contar com uma sutil ajuda da Miriam, Arminio foi jantado pelo então ministro da Fazenda.
Seu erro? Achar que a verdade se impõe sobre a narrativa pelo simples fato de ser a verdade.
Pochmann expõe uma narrativa de uma desonestidade intelectual sem limites. Espero que os economistas que apoiam as candidaturas liberais não caiam no mesmo erro.
Nas eleições de 2014, houve um debate entre Guido Mantega e Armínio Fraga. Apesar de Fraga sabidamente ser muito mais preparado, Mantega saiu-se muito melhor. Por que? Porque Armínio foi preparado para um debate técnico, enquanto Mantega disputou na arena política. Resultado: jantou o Armínio com farinha.
Reali Junior e Janaína Paschoal foram brilhantes hoje na Comissão do Impeachment. Foram brilhantes porque decidiram fazer um discurso político, não técnico. Claro, deixaram claro todo o embasamento jurídico do pedido de impeachment, mas não perderam muito tempo com isso. Enfatizaram os efeitos dos crimes de responsabilidade sobre a vida do povo. Janaína foi especialmente feliz quando citou o quase fim do FIES. E quando ligou o Petrolão às pedaladas, algo não muito preciso tecnicamente, mas perfeito politicamente.
Os dois mereceram 10 minutos de Jornal Nacional, com direito a comentários favoráveis dos âncoras.