O que aconteceu com a Venezuela?

Afinal, o que aconteceu com a Venezuela?

Podemos aqui desfiar uma infinidade de hipóteses. Mas, se você quiser mesmo saber o que aconteceu com a Venezuela, leia Atlas Schrugged, de Ayn Rand.

Na obra dessa russa naturalizada norte-americana, a sociedade vai aos poucos perdendo o seu ímpeto empreendedor. A “preocupação social” domina, e o Estado solapa a iniciativa privada com leis e mais leis com o objetivo de fazer “justiça social”. Lobbies em Washington passam a ser mais importantes do que ter uma boa ideia de produto ou serviço. No final, o país simplesmente para, como a Venezuela parou.

Os que veem o Estado como o grande indutor de “justiça social” costumam apontar como exemplos os países escandinavos, com sua grande rede de proteção social. Seriam uma espécie de Nirvana da igualdade.

O problema desse tipo de comparação é que países como Venezuela e Brasil não são nórdicos. Não somos homogêneos, não somos educados e, principalmente, não somos ricos. A “preocupação social” tende a nos transformar em uma Venezuela, não em uma Suécia.

PS.: para os corações mais sensíveis, informo aqui que não sou contra o Bolsa Família. Pelo contrário. Acho que deveríamos eliminar uma boa parte do aparato estatal e transformar o dinheiro poupado em auxílio para as famílias mais pobres. Dinheiro nas mãos das famílias é mais produtivo do que dinheiro na mãos do Estado. Mas receio que não seja esse o entendimento, no Brasil e na Venezuela, do que seja “justiça social”.

Ayn Rand e o Procon

Uma empresa faz uma promoção aberta na Internet, praticamente doando um número ínfimo de seus produtos. Metade desses produtos é comprado por atacadistas. O que tem de errado nisso?

Pois o órgão governamental de defesa do consumidor viu nisso “prática abusiva”. O PROCON afirma que a Gol deveria garantir que as suas passagens a preços promocionais deveriam ser compradas somente por consumidores finais.

Ora, em tese, qualquer empresa vende o que quiser para quem quiser pelo preço que quiser. Não no entendimento do PROCON. O órgão governamental entende que a empresa é obrigada a fazer suas promoções exclusivamente para os consumidores finais. Onde está escrita essa regra? Aliás, por que existiria uma regra como essa?

Isso é muito Ayn Rand.

Visionária

Quando li Atlas Shrugged, de Ayn Rand, achava aquela estória dos empregados mais talentosos desaparecerem sem deixar vestígios de um realismo fantástico meio exagerado.

Na verdade, Ayn Rand foi uma visionária.

Parado no meio do nada

O livro “A revolta de Atlas”, de Ayn Rand, termina com um trem parado, por falta de combustível, no meio do nada. Esta cena simboliza o estado da civilização na falta absoluta da iniciativa privada.

Lembrei dessa cena final ao ler a reportagem de Veja sobre o estado lastimável da Uerj, que ainda não tem data para iniciar suas aulas. Luiz Fux e Luis Roberto Barroso, dois ministros do STF, se formaram e lecionam lá. Obviamente, os dois acham a situação lamentável. Não pude deixar de pensar que o país que estes dois senhores estão ajudando a construir, a mentalidade corporativa que impera na elite brasileira, teve o seu papel nesse estado de coisas.

O reitor da universidade aponta como uma possível saída o auxílio de ex-alunos através de doações. “As grandes universidades americanas fazem isso com grande sucesso”. Sempre que ouço isso, não consigo deixar de pensar no preço da anuidade de uma Harvard. As doações de ex-alunos financiam os cursos deficitários e os alunos mais pobres. Os outros pagam, e pagam muito bem. Imagine você, ex-aluno da Uerj (vale para USP, Unicamp e todas as outras universidades públicas), sendo chamado a financiar a mensalidade de alunos criados com danoninho e filé mignon. É simplesmente desonesto pensar em uma solução desse tipo enquanto a universidade pública for gratuita para todos. O Insper é uma universidade paga (e bem paga). No entanto, recebe doações de ex-alunos e do empresariado em geral. Há um conselho que decide a distribuição de bolsas e financiamentos para alunos com bom potencial, mas que não têm condições de pagar. Este é o modelo que funciona.

O reitor teve outra “ideia”, e já está conversando com deputados a respeito: isenção fiscal para empresas que doarem para a universidade. Genial: mais subsídios para alunos que podem pagar, e para uma repartição pública com inchaço de funcionários. O Brasil, definitivamente, merece estar parado no meio do nada.