Fora, Mandetta!

Descobri que está rolando nas redes sociais bolsonaristas a hashtag #foramandetta.

Quer dizer, Bolsonaro não tem coragem de mandar seu ministro da saúde passear, então fica criticando-o a céu aberto, enquanto as redes sociais amigas fazem o serviço de assá-lo em fogo alto.

Não seria mais fácil demiti-lo?

Não, não seria mais fácil. E vou explicar porque.

Mandetta, seguindo o exemplo de praticamente todos os países relevantes do mundo, vem patrocinando o isolamento social como medida de contenção da pandemia. Só faz sentido trocar o ministro se, em seu lugar, entrar alguém que faça o oposto. Mas isso significaria assumir a responsabilidade por essa política arriscada, que pode até dar certo, mas pode dar muito, mas muito errado.

Portanto, muito mais conveniente dizer que não concorda, mas esconder-se atrás de um ministro que não o “obedece”. Assim, Bolsonaro pretende ficar com os dois bônus: o do achatamento da curva de transmissão e o de ter “avisado” sobre os efeitos deletérios da política de contenção.

Muito esperto. Mas, como dizia Tancredo Neves, esperteza, quando é muita, come o dono.

A agência TASS do bolsonarismo

A antiga União Soviética contava com uma agência de notícias oficial, a TASS. Obviamente, todas as notícias eram pró-regime. Mesmo diante de fatos negativos, os bravos editores da agência não se deixavam intimidar. Tudo, absolutamente tudo, se dava de acordo com os planos do Kremlin. A piada que corria é que a explosão de um foguete soviético seria noticiada assim: “o foguete XYZ explodiu em sua base de lançamento rigorosamente conforme o planejado. Os engenheiros comemoraram o sucesso da missão”.

Ao ler por aí as justificativas para que Bolsonaro não vetasse o juiz de garantias, não consegui deixar de lembrar da agência TASS.

O centro e os polos na política

É realmente curioso como este debate sobre a “polarização” e a busca desesperada por uma solução “de centro” surgiu.

Até o aparecimento do “fenômeno Bolsonaro”, o país encontrava-se dividido fazia 25 anos entre PT e PSDB. Foram nada menos que 6 eleições presidenciais em que os dois partidos se enfrentaram, sendo os outros partidos meros coadjuvantes.

Nestes 25 anos, ninguém falava de “polarização”. PT e PSDB eram considerados partidos “moderados”, um mais à esquerda, o outro mais centro-esquerda, mas ambos muito civilizados e coisa e tal. Tratava-se de uma rivalidade fake.

Aí então, no vácuo de uma inexistente direita conservadora, surge Bolsonaro, para se contrapor à esquerda (PT) e à centro-esquerda (PSDB). Com isso, aparece a tal da “polarização” com o PT, que, não custa lembrar, foi considerado um partido “moderado” nos últimos 25 anos.

Vou repetir então: foi necessário o surgimento do movimento bolsonarista para que ficasse claro que o PT é um partido radical, tão radical como o seu antípoda. Antes disso, o PT sentava-se à mesa dos partidos civilizados, como qualquer outro.

Interessante como tudo é uma questão de perspectiva.

A boa imprensa

Esta manchete me fez lembrar que Cuba é o único país do mundo onde a imprensa é 100% “amiga” do governo. Ok, Coreia do Norte também, e Venezuela está se juntando ao grupo.

Lá não tem “fake news”, tudo o que o governo faz é retratado de maneira fidedigna, para que o povo fique “bem informado”.

A julgar pelo que os petistas diziam na época dos governos do PT e pelo que dizem hoje os bolsonaristas, imprensa boa é o Granma.

A conversa republicana

“Ah, mas a conversa será republicana, não haverá toma-lá-dá-cá”.

Ok. Não fui eu que disse aqui que a simples palavra “articulação” significava “malas de dinheiro”. Pelo contrário, sempre defendi a Política como a única saída, o que inclui conversar com os políticos. Quem afirmava que “conversar” significa “roubar” eram os bolsonaristas. Que certamente criarão uma versão edulcorada para essa “conversa”.

Índex bolsonarista

“Eu e o ministro Onyx vamos reunir uma série de parlamentares. E só tem um jeito de desarmar bombas: é no diálogo. Não tem outra forma.”

“Há insatisfações pontuais, em alguns casos por ansiedade de alguns parlamentares e de alguns partidos, em se sentirem parte do governo”.

“Nós entendemos isso e queremos que tais partidos que querem estar no governo estejam conosco, sem dúvida alguma”.

“O que está faltando é só a gente ajustar o tom do violino para que a música saia mais bonita.

“HASSELMANN, Joice, líder do governo no Congresso.

Mais uma destinada ao índex do bolsonarismo.

Bolsonarismo radical

Durante a campanha eleitoral, fiz muitas amizades bolsonaristas aqui no FB. Apesar de eu mesmo não ser um eleitor de Bolsonaro, o que nos unia era a consciência de que o PT era a pior desgraça que havia acontecido ao Brasil nas últimas duas décadas, causada principalmente pela pusilanimidade do PSDB. Muitas vezes concordamos, muitas vezes discordamos, mas sempre de maneira civilizada.

Até que um dia apareceu um sujeito que parecia pensar estar em um ringue de MMA. Depois de alguns comentários violentos em alguns posts, avisou-me que iria me citar lá na página dele, e me “desafiava” a ir “debater” lá.

De fato, fui citado em um post cheio de ofensas pessoais, pinceladas aqui e ali com argumentos. Procurei educadamente responder aos argumentos, relevando as ofensas, mas sua tréplica ad hominem me convenceu de que eu estava perdendo meu tempo. Simplesmente bloqueei o sujeito e vida que segue.

Foi o único caso durante toda a campanha eleitoral, o que me diz que o número de bolsonaristas radicais não é grande. Mas faz barulho e é infenso a argumentos. O que importa é a luta política, no que são idênticos aos petistas radicais.

Bolsonaro não é Jesus Cristo e Olavo de Carvalho não é o chefe dos apóstolos. São seres humanos falíveis e sujeitos a críticas. A desculpa de que uma crítica a Bolsonaro fortalece o PT ou os “bandidos” não é válida. O que fortalecerá o PT será justamente a falta de autocritica dos bolsonaristas, a mesma autocritica que faltou ao PT e que afastou a classe média moderada do partido e deu espaço para o surgimento de um Bolsonaro.

Esse é um aviso de um observador da cena política brasileira: se os discípulos de Olavo de Carvalho continuarem nessa toada, o governo Bolsonaro se isolará em uma ilha com poucos fanáticos da causa, e os amigos lhe faltarão na hora que mais precisar. E essa hora sempre chega.