Tente vender yuans na calle Florida

Sonho: a Argentina não depende mais do dólar, agora pode usar o yuan para pagar a sua dívida.

Realidade: a Argentina vai lançar mão de um acordo de troca de moeda (swap) com a China para preservar suas reservas em dólares.

Muita festa está se fazendo entre os tuiteiros da esquerda com o fato de que o FMI está aceitando yuans para receber uma parcela do pagamento da dívida da Argentina com a instituição. Seria mais uma evidência de que o dólar está perdendo seu protagonismo e o yuan está em irreversível ascensão.

O FMI receber yuans é fácil. Difícil mesmo é um argentino receber yuans. Quando cambistas na calle Florida estiverem preferindo comprar yuans ao invés de dólares, aí poderemos dizer que a moeda chinesa ganhou curso internacional.

O falso paralelo que une petismo e bolsonarismo

O jornalista Breno Altman, do site Opera Mundi, é para o petismo aquilo que foi o jornalista Allan dos Santos para o bolsonarismo, uma espécie de propagandista e porta-voz informal. Portanto, ler Breno Altman é ler o verdadeiro pensamento petista em seu estado bruto, antes de ser lapidado pela realidade.

Sobre a Nicarágua, Altman nos propõe o seguinte paralelo: quem é a favor da investigação e prisão dos golpistas de 08/01 não pode ser contra a repressão de Daniel Ortega na Nicarágua, que também está agindo contra golpistas.

Segundo o “raciocínio” de Altman, há somente dois atores consistentes nessa história: os petistas, que defendem a ação dos governos contra os golpistas, e os bolsonaristas, que criticam a ação dos governos contra os seus críticos. Aqueles que criticam Ortega mas apoiam a ação do Estado brasileiro contra os bardeneiros de 08/01 estariam sendo contraditórios.

Esse paralelo de Altman é da mesma natureza daquele feito por Lula, quando comparou a longevidade de Ortega no poder com a mesma longevidade de Angela Merkel na Alemanha. A longevidade é a mesma, mas o processo para se chegar lá é completamente diferente em uma democracia e em uma ditadura. Basicamente, quem fazia campanha contra Merkel não corria o risco de ser preso. Não se trata de uma diferença semântica.

Essa é a diferença fundamental entre a repressão de Ortega e os processos contra os baderneiros de 08/01 na forma da lei de um estado democrático. Comparar os dois eventos só serve para legitimar o regime nicaraguense (como fazem os petistas) ou para deslegitimar o regime brasileiro (como fazem os bolsonaristas). Não há termos de comparação entre uma ditadura e uma democracia, por mais falha que seja.