Não gosto disso, mas vou usar argumento de autoridade aqui. Alguns dos economistas que mais respeito assinaram um manifesto em apoio ao projeto de reforma tributária. São eles:
Afonso Celso Pastore
Armínio Fraga
Bráulio Borges
Bruno Carazza
Edmar Bacha
Fábio Giambiagi
Mailson da Nóbrega
Manoel Pires
Márcio Garcia
Marco Bonomo
Marcos Mendes
Otaviano Canuto
Samuel Pessôa
São pessoas que entendem do que estão falando e não têm interesses próprios na defesa da tese. Não vi, até o momento, qualquer manifesto em contrário, a não ser patrocinado por entidades de classe ou políticos defendendo o seu pedaço.
Fechada a janela do swing partidário, em que políticos trocam de parceiros de maneira consensual, os analistas da suruba política brasileira começam a fazer a análise do resultado. Uma reportagem e a coluna de Bruno Carazza, ambos no Valor, reconhecem a vitória de Bolsonaro nesse processo.
A reportagem não deixa de mostrar uma certa perplexidade, ao constatar que a suposta “perspectiva de poder”, dada pela liderança de Lula em todas as pesquisas, não foi suficiente para atrair políticos para o PT ou suas siglas subordinadas. Carazza, por sua vez, atribui o fracasso do PT nessa fase a um certo clima de “já ganhou” no partido, ao passo que Ciro Nogueira, o capitão do time de Bolsonaro, trabalhou com afinco para engordar a sua sigla e as legendas aliadas.
As eleições de 1989 e de 2018 mostraram que é possível ganhar um pleito presidencial sem o apoio de grandes federações partidárias. Em 2018, inclusive, Alckmin teve pífios 5% dos votos contando com o apoio de meio Congresso e um latifúndio de tempo de TV. Mas 2018, assim como 1989, foi um ano atípico. Com o sistema político sob os escombros da Lava-Jato, pouco importava o apoio de políticos. Agora, com a volta de uma certa “normalidade”, provavelmente teremos uma eleição padrão, com duas candidaturas opostas se digladiando e, eventualmente, uma terceira candidatura desafiante. E, nesse jogo padrão, o apoio político é importante para atingir a capilaridade necessária em uma campanha nacional.
Voltando à perplexidade da reportagem do Valor, é de se notar como o Centrão, liderado por Ciro e Valdemar, mantém-se firme ao lado de Bolsonaro, a ponto de atrair quadros para as eleições regionais. Claro que, em um eventual governo Lula, os dois não teriam restrição a mudar de barco. Mas o fato de manterem-se no barco bolsonarista para as eleições significa duas coisas: 1) Bolsonaro não é aquele candidato tóxico que se quer varrer para debaixo do tapete. Pelo contrário, seu apoio ainda vale alguma coisa; e 2) O Centrão tende a ter muito mais poder em um eventual segundo governo Bolsonaro do que em um terceiro governo Lula. A experiência mostra que Lula e o PT são hegemônicos, e os principais nacos do poder ficam sempre com o PT. Mensalão e petrolão foram a maneira encontrada pelo PT para ter uma base sem dividir o poder.
Bruno Carazza normalmente escreve excelentes artigos, mas neste ele se superou.
O tema: recente liminar concedida pela ministra Rosa Weber, obrigando a União a a alizar um empréstimo ao estado do Espírito Santo, no valor de US$400 milhões, que havia sido travado porque o Estado não havia cumprido dispositivo da Lei de Responsabilidade Fiscal. Detalhe: foi o poder judiciário do Estado que gastou além do limite. A mensagem é: o judiciário pode gastar à vontade que o STF garante.
O artigo aborda como as entidades de classe do judiciário usam de seu acesso privilegiado ao centro de decisões para fazer valer a sua agenda particular. E termina de maneira magistral, evocando uma escultura em que uma mulher gorda está sobre os ombros de um homem esquálido. Ela tem pena, gostaria de ajudá-lo de alguma maneira, menos saindo de cima de seus ombros. O assunto da coluna é o poder judiciário, mas poderia ser sobre qualquer privilégio votado e aprovado às custas de quem não tem lobby em Brasília.
Os desdentados e descamisados do país têm muitos defensores que gostariam de ajudá-los. Desde que isso não signifique abrir mão de seus próprios privilégios.