Você tem duas vacas

Empresa brasileira

Você tem duas vacas.

Você reclama da concorrência chinesa.

O governo impõe tarifas de importação.

O BNDES empresta dinheiro a juros subsidiados para você tirar o leite.

Você vende o leite pelo dobro do preço que teria o leite chinês.

Você reclama do custo Brasil.

O espírito do capitalismo

Caminho pelas ruas domingo de manhã. Moro em um bairro residencial com muitas casas e ruas tranquilas.

Estou assim, a caminhar, quando ouço um homem chamar.

– Senhor, senhor, fica com um cartãozinho meu, se precisar de pintura.

Minha primeira reação foi de negar a necessidade e continuar meu caminho. Alguns passos adiante, mudo de ideia. Não porque precise de pintor nesse momento. Mas porque não podia perder a chance de prestigiar a alma do capitalismo.

O Gleison Almeida poderia estar dormindo em seu barraco na favela. Poderia estar em um acampamento do MTST. Poderia estar bebendo no bar. Poderia estar mendigando. Poderia estar fazendo “justiça social” nos semáforos das ruas.

Mas Gleison Almeida não se conforma com sua sorte. Acorda cedo (sabe-se lá onde mora) para estar pintando portão às 9:00 de um domingo.

E chama um estranho na rua para fazer a sua propaganda.

O capitalismo é um sistema realmente cruel. Nele, os que querem trabalhar, os que são criativos, os que não se acomodam, levam vantagem. Um horror.

Não podia deixar de compartilhar os contatos do Gleison. Não conheço as suas qualidades como pintor. Mas é provável que um sujeito que sabe instintivamente jogar com as regras do capitalismo deva entregar um bom serviço. Porque faz parte dessas regras.

Mercado grande e virgem

Taxi no aeroporto em Curitiba.

Eu: Vamos na Rua tal, número tal.

Taxista: O senhor sabe onde é este endereço?

Eu: Não sei não senhor.

Taxista: O senhor teria um waze? É que a polícia tá pegando quem dirige com celular na mão.

Atenção empresários: mercado grande e virgem de suporte de celular para carro em Curitiba.

Capitalismo injusto

Reportagem hoje no Estadão sobre a visita do papa à Colômbia. A repórter desenterra como “especialista” no assunto “Papa-América Latina” uma professora da Universidade dos Pampas, que faz a sua “análise” sobre a situação na Venezuela. Transcrevo:

“O papa não vem para defender um ou outro lado, ele atua para defender os mais necessitados, os que estão sofrendo por crises econômicas e políticas provocadas por um sistema capitalista injusto”.

Aprendi mais um sinônimo para socialismo: capitalismo injusto. Até que é bem adequado.

Tirando ideias do papel

Jeff Bezos acabou de se tornar o homem mais rico do mundo, ultrapassando Bill Gates.

Você não sabe quem é Jeff Bezos? É o fundador, CEO e maior acionista da Amazon.

A Amazon é dos poucos remanescentes da bolha “dot com” que estourou no início de 2000. Várias, muitas, milhares de empresas “dot com” ficaram pelo caminho. O que distingue Bezos, Zuckerberg, Gates, Jobs e outros poucos empresários que conseguiram não só sobreviver, mas tornarem-se bilionários? Simples: execução de uma ideia brilhante. Nesta ordem.

Muitos têm ideias brilhantes. Poucos, bem poucos, são capazes de tirar suas ideias brilhantes do papel.

Empresários são aqueles que conseguem tirar suas ideias do papel. As economias mais desenvolvidas são aquelas que facilitam esta tarefa. Uma economia em que ser empresário chega a ser heroico, é uma economia fadada ao fracasso.

Marx idealizou uma economia sem empresários. O próprio proletariado seria o dono dos meios de produção, apropriando-se, assim, da “mais-valia”. Ao eliminar o empresário, as economias comunistas eliminaram aqueles que tiram ideias do papel. Deu no que deu.

Hoje, Jeff Bezos é estupidamente rico. Mais rico do que uma parcela significativa da população mundial. Alguns acham isso um horror, o exemplo da maldade intrínseca do capitalismo. Eu penso diferente.

Se Jeff Bezos acumulou tanto dinheiro, é porque conseguiu tirar do papel uma ideia que ajudou, que foi útil, a bilhões de pessoas, que se mostraram dispostas a pagar por esta ideia. Hoje, o mundo está melhor porque Jeff Bezos conseguiu tirar sua ideia do papel. E sua fortuna é proporcional ao número de pessoas que ele beneficiou.

Não, você não tem direito divino a comprar coisas na internet e recebê-las no conforto do seu lar. Você só consegue fazer isso porque Jeff Bezos tirou uma ideia do papel. Se não fosse por pessoas como Jeff Bezos, talvez a igualdade de renda fosse maior, mas provavelmente estaríamos ainda esfregando gravetos para fazer fogo.

A utopia marxista

Ainda no Valor Econômico da sexta, muito rico de várias coisas. Entrevista com o cientista político alemão Michael Heinrich, autor de nova biografia de Marx. Vamos a um trecho:

Valor: “O fracasso da União Soviética e as dificuldades de Cuba abalaram o marxismo”?

Heinrich: “A primeira questão é se a União Soviética teve um socialismo relacionado com as teorias de Marx. Sou muito cético sobre isso. Na União Soviética, no início, havia muitos conselhos de trabalhadores, algo próximo ao conceito de Marx do socialismo. Mas, muito rapidamente, esses conselhos perderam poder para um partido autoritário, que não tem nada a ver com o socialismo. O fracasso da União Soviética é o fracasso de um sistema autoritário e repressivo, montado em torno do Estado, que não tem nada a ver com o conceito de Marx sobre socialismo ou comunismo.”

Então, ficamos assim: no início era o socialismo. Aí, seres alienígenas, vindos das profundezas do espaço sideral, apoderaram-se do poder na União Soviética, e implantaram um regime autoritário, matando o socialismo.

Só mesmo sendo muito desonesto intelectualmente para falar uma barbaridade dessas. Como se a implantação da igualdade a todo custo não exigisse, como pressuposto, um regime autoritário!

Mas o “cientista político” continua.

“Cuba é mais complicado. É um país muito pequeno, com recursos limitados e permanentemente ameaçado pelos Estados Unidos. Por isso, não teve o tempo de criar seu próprio modelo e acabou virando um regime autoritário também.”

Outro exemplo de socialismo que se transformou em regime autoritário por obra de forças alieníginas. Só que dessa vez, não vieram do espaço sideral, mas do norte mesmo. “Não tiveram tempo de criar seu próprio modelo”! Quanto tempo seria necessário? 100 anos? 500 anos? O suficiente para matar todos os oponentes da Revolução?

Diz ainda o “cientista político”: “Socialismo no sentido marxista continua sendo uma utopia, é uma meta ainda não alcançada”. Bem, se todo regime socialista que descamba para o autoritarismo não for marxista, então a utopia marxista vai ficar sendo utopia por toda a eternidade.

Por fim: “Acredito que o capitalismo é um sistema de exploração e de destruição do homem e da natureza. Para a sobrevivência da humanidade, é importante abandonar o capitalismo.” Ok, abandonar o capitalismo. E colocar o que no lugar? Não diz. Talvez a utopia marxista. Vai que agora dá certo.

A verdadeira riqueza das nações

Estou lendo “Dez decisões que mudaram o mundo”, de Ian Kershaw. O livro trata dos bastidores das mais importantes decisões tomadas durante a 2a Guerra Mundial.

No capítulo sobre o Japão, o autor explora a decisão do país de se aliar à Alemanha e à Itália em 27/09/1940, formando o que viria a ser conhecido como o Eixo.

A ideia do governo japonês era intimidar os Estados Unidos, para que estes não se metessem nas pretensões imperiais do Japão no sudeste asiático. As elites japonesas viam o país com poucos recursos naturais, principalmente petróleo, e imaginavam que, ao dominar o sudeste asiático, garantiriam um fluxo de matérias-primas estratégicas que, de outra forma, não conseguiriam com segurança.

O tiro, obviamente, saiu pela culatra. Os EUA, assim que o Pacto Tripartite foi assinado, viram o Japão como “uma força beligerante, opressora e imperialista no Extremo Oriente, um equivalente asiático da Alemanha nazista, e que precisava ser contido”. O embate era só uma questão de tempo, para desgraça do Japão.

Mas o interessante desse capitulo o autor guarda para o final. Reproduzo: “Depois que a Guerra do Pacífico seguiu seu curso catastrófico para o Japão, o país conseguiu se reconstruir e estabelecer uma prosperidade sem precedentes, com base, precisamente, na dependência dos Estados Unidos e na incorporação bem-sucedida no comércio mundial, apoiada na competição capitalista e na economia de mercado.”

Está aí. Quando o Japão largou o fetiche das “matérias-primas estratégicas”, e partiu para a sua inserção nas cadeias produtivas globais, saiu de ser um país pobre e destruído para uma potência mundial.

Alguém dirá, e com razão: mas o japonês tem um nível de instrução muito superior ao brasileiro, eles conseguem ser muito mais produtivos. Sem dúvida! E mesmo sabendo disso, preferimos sustentar uma Petrobras, universidades públicas caríssimas e aposentadorias que custam ao país o dobro do que deveriam, ao invés de investir em educação básica!

Mas volto ao ponto anterior: ainda estamos amarrados à ideia de que recursos naturais são uma benção. Lembra? O pré-sal era um bilhete de loteria, um passaporte para o futuro. Me digam: que país exportador de petróleo é uma potência mundial? Pelo contrário: o povo desses países, invariavelmente, é pobre. Os venezuelanos que o digam.

Esse fetiche da “matéria-prima estratégica” é a senha do atraso. Não precisa ir longe: somos um dos maiores produtores de café do mundo, mas é a Suíça que produz o Nespresso. A Suíça! Qual a vantagem competitiva da Suíça? Simples: cérebros.

Enquanto não nos convencermos de que a verdadeira riqueza de um país não está dentro da terra, mas dentro das cabeças das pessoas, continuaremos a ser uma nação subdesenvolvida.

O capitalismo é lindo

Saída do Pacaembú, onde fui assistir ao jogo do Santos ontem. Peço um Uber para voltar para casa. Chega o motorista e, para nossa surpresa, está com a camisa do time.

– Estava assistindo ao jogo. Resolvi pegar uma corrida mais ou menos na direção de casa.

O capitalismo é lindo.