Hoje temos, no Valor, um pouco dos bastidores da promessa de Bolsonaro de não privatizar a Ceagesp. Além de fustigar infantilmente um de seus 145.897 adversários políticos, o governador João Doria, às custas do erário público e do sofrimento dos paulistanos, Bolsonaro também está consciente de que a Ceagesp, “tem condições de se sustentar, de dar lucro”. É o que afirma seu atual presidente, Ricardo Mello Araújo, nomeado por Bolsonaro no último mês de outubro.
A coisa toda está errada de várias formas diferentes e combinadas.
Em primeiro lugar, a conta estritamente financeira. Mello Araújo promete 8 milhões de lucro no ano que vem. Seria um portento, dado que a Ceagesp vem dando prejuízos há 4 anos. Mas vamos assumir que sejam mesmo 8 milhões. Qual o custo do capital empatado nesse elefante branco? Pelo menos 5% ao ano, que é o atual custo implícito da dívida pública. Ou seja, 8 milhões significaria um patrimônio de, no máximo, 160 milhões. Qualquer valor acima disso, a rentabilidade do capital seria menor do que o necessário para pagar o custo do capital. Em outras palavras, o país estaria se endividando para sustentar um negócio com retorno menor do que os juros pagos. Alguém estaria sendo subsidiado. E não seríamos nem eu e nem você, caro leitor pagador de impostos. Não sei por quanto a Ceagesp seria privatizada, mas desconfio que o valor seria bem maior do que esses 160 milhões.
O segundo ponto é o, digamos, estilo de gestão estatal. A Ceagesp tem silos ociosos. O que faria uma empresa privada? Provavelmente, acionaria sua área comercial para buscar clientes. O que faz o gestor da estatal? Busca deputados do interior do Estado que “conhecem” empresários. Que tipo de relação que podemos esperar de negócios gerados por deputados? Pois é.
Por fim, tem a questão ideológica. O presidente da Ceagesp (nomeado por Bolsonaro agora em outubro, não custa lembrar) levanta a questão “estratégica” do entreposto comercial. “Não podemos ficar reféns dos empresários”.
Caraca! Não consigo pensar em nada mais PSOL do que isso! Nessa linha, talvez devêssemos estatizar todo o agronegócio brasileiro. Afinal, não podemos ficar reféns dos empresários em algo tão estratégico quanto a alimentação que chega na mesa do povo. E o que dizer da água, eletricidade, etc? No limite, tudo é estratégico.
Lembro do entusiasmo de um colega farialimer quando Bolsonaro ganhou a eleição. Seria, segundo ele, o primeiro governo verdadeiramente liberal em 500 anos de história brasileira. Dizia que FHC tinha privatizado contra suas convicções, porque era necessário, não por gosto. Bolsonaro não. Bolsonaro iria privatizar tudo por convicção. Este era o humor do mercado financeiro, na época. Hoje, dois anos depois, tendo Salim Mattar abandonado o barco e Bolsonaro tendo nomeado esse dinossauro para a presidência da Ceagesp, não consigo segurar a gargalhada. Como o farialimer é ingênuo e crédulo.
“Bolsonaro liberal” é um dos maiores estelionatos eleitorais da história.