Acabei de ler, há alguns dias, Admirável Mundo Novo, de Aldous Huxley. Sim, incrível que, depois de décadas usando referências da obra, somente agora tenha me dado conta de que nunca a tinha lido. Há muitos e muitos anos assisti ao filme, mas era muito novo e não alcancei todo o seu significado. Além disso, filme é filme, livro é livro.
Escrito há 90 anos, Admirável Mundo Novo nos coloca dentro de uma sociedade em que tudo é planejado para que as pessoas fiquem satisfeitas com o lugar que lhes cabe. Para isso, a engenharia genética produz embriões formatados, que serão, uma vez nascidos, condicionados, durante anos, de acordo com a sua função na sociedade.
A trama esquenta quando um selvagem é trazido para o seio dessa sociedade. Por “selvagem”, entendemos alguém como eu e você, nascido de mãe e criado livremente. O interessante é que as referências que o selvagem usa se limitam a uma coletânea de obras de Shakespeare, única leitura de sua vida e que ele decorou. O próprio nome da obra de Huxley, Brave New World, é uma citação de uma das obras do mestre inglês (O Brave New World, that has such people in it). Praticamente todas as suas falas são citações de Shakespeare.
O uso de Shakespeare não é acidental: poucos como o bardo conseguiram traduzir a eterna alma humana, suas contradições e grandezas. O selvagem representa a natureza humana no que tem de pior e melhor, em contraste com homens e mulheres programados para serem felizes. No final, a grande discussão da obra é o preço da felicidade sem limites.
A sociedade humana, liderada pela ciência, caminha em marcha batida para um mundo de prazer sem dor, em busca dessa felicidade sem limites. Aldous Huxley levanta levemente a cortina para observarmos um mundo assim.