Só não culpem o liberalismo

Extraído do Estado de São Paulo, 26/10/2019

Luciano Huck dando “lições” aos liberais. Faltaria “afetividade” ao modelo liberal. Sem “olhar as pessoas” vamos implodir, como o Chile.

É realmente do balacobaco.

Huck fala como se o Brasil fosse um exemplo de “modelo liberal” há décadas, e estivéssemos agora enfrentando a desigualdade criada por esse modelo “insensível”. É o justo oposto! Somos um exemplo de país onde o Estado se mete a fazer tudo, onde todos esperam a solução de seus problemas do Estado, e onde incontáveis grupos de sangue-sugas se acoplam ao Estado-Pai-De-Todos para garantir seus privilégios de rent-seeking.

Mais na frente na matéria, Luciano Huck elogia Lula por ter tido esse “olhar para as pessoas”. É o nordestino do sertão que tem uma cisterna e eletricidade e uma geladeira e o bolsa-família, tudo graças ao “Pai-Lula”. Migalhas que caíram da mesa dos privilégios e da roubalheira, somente possível porque Lula teve a sorte de pegar a China crescendo 12% ao ano e comprando tudo o que o Brasil tinha para produzir e vender. Quando acabou o dinheiro da China, acabou a mágica. Temer, e agora Bolsonaro, pegaram um país em frangalhos, depois de anos de políticas públicas de governos que “olhavam as pessoas”. O povo sente a nostalgia de um tempo em que o Brasil tinha dinheiro pra gastar, e do tempo subsequente, em que viveu no cheque especial para manter a ilusão de fartura.

Há uma dicotomia falsa, falsissima (não sei se existe esse aumentativo) entre liberalismo e distribuição de renda. Vou dar um exemplo: saneamento básico. Está para ser votado no Congresso um novo marco regulatório para o setor que permitiria investimento privado de bilhões de reais nessa necessidade zero para o bem-estar das pessoas. Esse projeto de lei está parado há anos no Congresso porque os Estados não querem largar o osso de suas empresas estatais do setor. As estatais, por óbvio, não têm capacidade de investimento. Não investem e não deixam a iniciativa privada investir. Enquanto isso, as crianças brincam no esgoto a céu aberto. Pergunto: quem mesmo não está “olhando as pessoas”?

Huck e seus amigos costumam fazer menção à “boa gestão” aliada a boas políticas públicas como a combinação ideal para “melhorar a vida das pessoas”. Sim, boa gestão. O que é simplesmente impossível em um Estado mastodôntico. É da natureza da máquina pública criar vida própria e sugar recursos que deveriam ser dirigidos a “melhorar a vida das pessoas”. Só existe uma forma de fazer políticas públicas eficientes e perenes: diminuindo o tamanho do Estado e focando-o no que interessa. O bolsa-família, a mais festejada política pública do país, custa R$30 bilhões/ano, contra despesas do governo da ordem de R$3,2 trilhões. Os liberais não querem acabar com o bolsa-família. Os liberais só querem saber para onde vão os outros R$3,17 trilhões.

Huck, como bom empresário que é, sabe de tudo isso. Mas é cool defender a “igualdade” e demonizar o “liberalismo selvagem” pela má distribuição de renda. Tudo marketing político.

O país pode implodir sim. Só não culpem o liberalismo por isso.

Sou planilheiro, com muito orgulho, com muito amor…

Dilma Rousseff costumava demonizar os economistas ortodoxos chamando-os de “planilheiros”. A ideia era de que a vida é muito complexa, e não cabe em uma planilha Excel.

Sim, verdade. A vida é muito complexa. São muitas e variadas as necessidades humanas. Não dá pra planilhar o ser humano.

Mas o gestor público tem um problema: ele lida com TODOS os seres humanos de um determinado território. É humanamente impossível tratá-los um a um, individualmente. Por isso, quando um político diz que vê “as pessoas” por trás dos números, ou está mentindo, ou está cometendo uma grande injustiça.

Ele está cometendo uma grande injustiça porque, como é impossível focar em TODAS as pessoas, ele necessariamente vai focar em algumas em detrimento de outras. Programas habitacionais sempre vão deixar muita gente de fora. Universidades públicas sempre vão deixar muita gente de fora. E assim por diante.

Programas verdadeiramente universais, como o SUS ou a educação básica, são de péssima qualidade. Porque, para atingir a TODOS, é preciso MUITO, mas MUITO dinheiro. Um dinheiro que um país pobre não tem.

Então, programas de excelência “sorteiam” as pessoas com critérios que sempre serão injustos para os que ficam de fora. Dirão que é melhor atender alguns do que nenhum. Ao que responderei: melhor atender a TODOS, mesmo que seja com pouco.

Para atender a todos, é preciso planilhar. “Todos” significa trabalhar com um imenso número de pessoas, e não se consegue fazer isso sem uma abordagem sistêmica. Não existe política pública individual.

Sim, sei que ferirei os espíritos mais sensíveis, mas o governo é mais justo quando transforma as pessoas em números. A planilha é um instrumento de justiça.

Óbvio que nada substitui o contato direto com as mazelas reais da população. Um governante sem esse contato corre o risco de se transformar em um tecnocrata. Mas, tendo tido esse contato, as políticas públicas precisam ser horizontais, atingindo o máximo possível de pessoas. E isso só se faz com planilha.

Tudo isso pra dizer que a planilha abaixo, indicando a superioridade do Chile em relação ao Brasil, não é coisa de “planilheiro”, no sentido pejorativo da palavra, sinônimo de alguém “insensível” aos problemas reais da população. Indicadores gerais de riqueza significam sim que um povo está melhor de vida do que outro. Os dados agregados contam melhor a história do que tristes fatos isolados.

Não podemos nos deixar levar pela “falácia do jornalista”. Qualquer repórter, quando vai escrever uma matéria, procura algum caso específico para “ilustrar” um suposto “problema geral”. Aquele caso específico pode ser muito triste, mas, sem dados agregados que o corroborem, é impossível dizer que aquilo é realmente um problema digno de uma política pública.

Existem, por óbvio, problemas específicos, como doenças raras, que merecem políticas públicas focadas em poucas pessoas. Mas, via de regra, as políticas públicas são voltadas aos mais pobres, que são numerosos. E a forma mais eficaz de avaliar o sucesso de uma política pública é o acompanhamento dos dados agregados. Em planilhas.

Planilha extraída da página Economia Mainstream do Facebook

Renda/Capita: o verdadeiro indicador de riqueza

Fiz esse gráfico simples com dados do FMI. Ele mostra a evolução do PIB/capita (conceito de poder de compra) de Brasil, Chile, Coreia e China em relação ao PIB/capita dos EUA. Ou seja, quanto os cidadãos desses países se aproximaram do poder de consumo do norte-americano médio.

Antes que digam que não são coisas comparáveis porque cada um desses países têm redes de proteção social diferentes, vale lembrar que renda é renda. Qualquer “rede de proteção social” deve ser financiada pela renda gerada pelo país, ela não desce de Marte. Então, o PIB/capita, que é a renda gerada pelos cidadãos do país, é uma boa medida do bem-estar médio dos cidadãos.

Pois bem. No início dos anos 80, nosso PIB/capita representava quase 40% do PIB/capita americano. Era o maior dos 4 países selecionados. Hoje, menos de 40 anos depois, representa 25% da renda de um americano. É o menor dos 4 países.

O PIB/capita do Chile aumentou de maneira relevante, de menos de 30% no início da década de 80 para mais de 40% no início desta década. A partir daí, estagnou. Alguma coisa aconteceu. E não é problema de “falta de igualdade”.

China e Coreia não interromperam suas trajetórias de enriquecimento, embora a Coreia tenha diminuído o ritmo nos últimos 5 anos, o que é compreensível, dado o alto patamar de 70% do PIB dos EUA. A partir desse nível, é esperado que o crescimento seja mais lento mesmo.

Críticos desse tipo de análise poderão dizer que PIB não é tudo. Seria preciso analisar outros indicadores de bem-estar do povo. “Igualdade” seria um deles: de que adianta muita riqueza, se fica concentrada nas mãos de poucos?

A experiência mostra que os países mais ricos são os que apresentam melhor distribuição de renda. A distribuição melhora com a riqueza, não o contrário. E é fácil de entender porque: fica mais fácil fazer “política social” quando se tem dinheiro. Distribuir o que não se gera é a receita do desastre.

A evolução do PIB/capita continua sendo o melhor indicador do sucesso material de uma sociedade. O resto é utopia.

A sina da América Latina

Notícias extraídas do jornal O Estado de São Paulo

Uma vez latino-americano, sempre latino-americano.

Tivemos um dia a ilusão de que o Chile fosse se transformar na Europa dentro da América Latina, servindo como exemplo para os seus vizinhos.

Mas não, foi o contrário. O Chile é que está sendo arrastado pela pesada herança latino-americana. As declarações dos jogadores da seleção, todos regiamente pagos no futebol europeu, ressoam as “veias abertas da América Latina”. “Justiça social!”, gritam. Desde que seja com o dinheiro dos outros.

Sebastian Piñera entregou os Sudetos para os manifestantes apenas cinco dias depois de iniciados os atos de vandalismo. Margareth Thatcher aguentou mais de um ano de greves contra o seu programa econômico. Mas era Margareth Thatcher. Nossos líderes também são latino-americanos, não se esqueça.

Congelamento de preços de tarifas é o inicio do fim. O Chile atingiu o seu pico, e agora é ladeira abaixo. Daqui a dez anos, descobriremos que a renda do Chile estagnou. Guardem essa previsão e me cobrem.

O Brasil não é diferente. Estamos fazendo reformas liberalizantes por precisão, não por boniteza. O dinheiro simplesmente acabou. Quando voltar a sobrar um pouco, voltaremos à esbórnia. Faz parte do nosso DNA, do DNA latino-americano: esperamos tudo de um Estado que está aí para resolver nossos problemas. “Igualdade” é só um outro nome para estatolatria.

Protestos no Chile

Estão querendo comparar os distúrbios no Chile com as manifestações brasileiras de 2013.

Há uma certa semelhança em seus inícios, com o reajuste dos preços dos transportes públicos servindo de estopim para manifestações violentas. Mas por enquanto, é só.

No Brasil de 2013, multidões foram às ruas reclamar da inépcia do governo, que iria patrocinar uma Copa do Mundo “padrão FIFA” e, ao mesmo tempo, entregava serviços “padrão CBF” para a população. Onde estão as multidões no Chile? Por enquanto, estão em casa. Em todas as fotos, o que aparece são elementos dispersos jogando bombas Molotov e quebrando tudo. Isto não é manifestação, é vandalismo.

Os problemas elencados pelos “analistas” resumem-se ao péssimo sistema de saúde pública, ao endividamento da juventude com as mensalidades dos cursos superiores e às aposentadorias muito baixas. Esse conjunto de mazelas recebe o nome genérico de “desigualdade”, o que é muito útil quando se quer demonizar o capitalismo liberal pelos problemas insolúveis da sociedade.

No final do dia, trata-se de criar mecanismos em que a sociedade como um todo subsidie a renda dos mais pobres. Fim muito nobre, mas de boas intenções o inferno está cheio. Temos montanhas de exemplos ao longo da história demonstrando que a máquina criada para “redistribuir” a renda cria vida própria, engolindo boa parte da renda da sociedade. O resultado é pobreza generalizada.

Infelizmente, a escolha se dá entre igualdade e geração de riqueza. As sociedades que buscam a igualdade a todo custo acabam na pobreza. E, adivinha, quem sofre são justamente os mais pobres.

Tenho consciência de que esse tipo de raciocínio fere os espíritos mais sensíveis, os monopolistas do bem. Só eles sabem o que é sofrer, ser pobre, e só eles têm a solução para o “problema da desigualdade”. Esse pessoal vive em um mundo utópico, onde todos têm acesso à USP, ao Einstein e à aposentadoria integral. Bastaria ter “vontade política”, e todos esses problemas se resolveriam como que em um passe de mágica. Só não fazem isso (sujeito indeterminado) porque esses capitalistas são maus como o pica-pau. São “a favor da desigualdade”, como sugere a legenda da foto abaixo.

Isso aí no Chile não vai dar em nada, por ser iniciativa de meia dúzia de “revolucionários toddynho”, como este que aparece na foto abaixo. A maioria dos chilenos sabe que, apesar das mazelas de todo país subdesenvolvido, o Chile é uma ilha de prosperidade dentro da América Latina.

Foto extraída do jornal O Estado de São Paulo

Manifestantes

Foto extraída do jornal O Estado de São Paulo

“Manifestantes”

Conhecemos bem esses manifestantes encapuçados.

Os “especialistas” dizem que a revolta é contra um sistema neoliberal que nega acesso ao povo aos bens básicos de saúde, educação e aposentadoria, entregues que estão às forças do mercado. Também conhecemos bem esses “especialistas”.

Em 1988, ano de nossa Constituição Cidadã, a renda per capita brasileira era de 11,4 mil dólares, contra 8,1 mil dólares do Chile (números em paridade do poder de compra). Trinta anos depois, o Brasil tem renda per capita de 14,3 mil dólares, contra 22,8 mil dólares do Chile.

Desigualdade? Segundo dados do Banco Mundial, o índice de Gini do Brasil é de 0,533 contra 0,466 do Chile (quanto menor o índice, menos desigual é o país). O índice dos EUA é de 0,415.

Sim, os chilenos que estão nas ruas querem que o Estado cuide melhor deles. Deveriam olhar para os exemplos de Venezuela, Argentina e Brasil, onde o Estado cuidou muito bem das pessoas nos últimos 30 anos.

Tamanho do parlamento

O parlamento italiano aprovou uma redução do número de congressistas. Agora são “somente” 600, ou 10 para cada milhão de habitantes.

Sebastian Piñera está propondo a redução do número de congressistas para 160, o que dá 8,9 para cada milhão de habitantes.

Nos EUA, a relação é de apenas 1,6 congressistas para cada milhão de habitantes.

No Brasil, temos 2,8 parlamentares para cada milhão de habitantes. Pelo menos nesse quesito, o Brasil aparentemente tem números razoáveis. Sem entrar no mérito dos gastos de cada Parlamento.

A estatística dos suicídios chilenos

O sistema de capitalização para a previdência privada tem sido atacado por ser o sistema adotado no “Chile de Pinochet” pelos neoliberais “Chicago Boys”. A acusação é que seria um sistema “desumano”, que estaria levando ao aumento de suicídios entre idosos naquele país.

Como sempre atrás de uma estatística existe uma intenção torta, fui atrás dessa história.

Tudo o que existe na Internet é um relatório periódico produzido pelo Ministério da Saúde do Chile chamado de Estudo Estatísticas Vitais. Segundo este relatório, as maiores taxas de suicídio entre os chilenos encontram-se entre os maiores de 80 anos, 17,7 para cada 100 mil habitantes, seguido pelos idosos entre 70 e 79 anos, com 15,4 suicídios para cada 100 mil habitantes. A taxa média do país é de 10,2. Assim, restaria provado que o sistema previdenciário idealizado pelos neoliberais e adotado por Pinochet penaliza os mais idosos, levando-os ao suicídio.

Bem, em primeiro lugar, a relação de causalidade está longe de ser provada somente por estes dados. Muitos são os fatores que podem levar ao suicídio, e a questão econômica normalmente não é a principal. Tanto é assim que países ricos apresentam altas taxas de suicídio. Enquanto no Chile a taxa é de 10,2 suicídios por 100 mil habitantes, a taxa no Brasil é de 6,5, nos EUA é de 15,3, na Bélgica é de 20,7 e no Japão é de 18,5 suicídios por 100 mil habitantes (fonte: World Health Organization – ONU). Mas há países mais ricos e mais pobres com mais ou menos suicídios, mostrando uma relação fraca entre esses dois fenômenos. Causalidade, então, só para quem tem má fé.

Se a relação riqueza/suicídios é fraca, o mesmo não se pode dizer sobre a relação idade/suicídio. No mundo inteiro, os suicídios são mais comuns entre os mais velhos. Assim, no Brasil, a taxa de suicídios entre os idosos acima de 70 anos de idade é de 8,9 a cada 100 mil habitantes (fonte: Ministério da Saúde), bem acima, portanto, dos 6,5 da média. Portanto, apontar o índice de suicídios de idosos acima da média no Chile é apenas constatar um fenômeno global. Ligar este fenômeno ao tipo de sistema previdenciário é, para dizer o mínimo, uma grande besteira.

Pode-se discutir se um sistema previdenciário é melhor do que outro. Mas seria bom que, para isso, se usassem argumentos honestos.

Deu ruim

Quando você ouvir alguém do PT vociferar contra a reforma da Previdência, lembre-se que eles defendem esse “modelo econômico” que deu super certo na Venezuela. O Chile é que deu ruim.

O que deu errado no Chile

A Globo News debate os destinos da economia brasileira, agora que estamos nas mãos dos desalmados “Chicago Boys”.

Além das observações de praxe sobre as reformas impostas por Pinochet, a ditadura e blá, blá, blá, os bravos jornalistas estavam genuinamente preocupados com os efeitos negativos das reformas empreendidas pelos Chicago Boys chilenos. Parece que algumas coisas deram errado por lá.

Fui checar.

A inflação média brasileira desde 1996 foi de 6,80% ao ano, enquanto a chilena foi de 3,67% ao ano. Ou seja, se tivéssemos a inflação do Chile, os preços teriam subido praticamente metade do que subiram no Brasil nos últimos 22 anos (deixei de fora os anos da hiperinflação pra coisa não ficar mais feia para o nosso lado).

-Ah, mas inflação é uma tara dos Chicago Boys. Eles sacrificam tudo ao deus da estabilidade. Aposto que o crescimento econômico foi anêmico nesse período.

Vamos lá. O crescimento econômico médio do Brasil desde 1980 foi de 2,32% ao ano. Do Chile foi de 4,31% ao ano. Se o Brasil tivesse crescido tanto quanto o Chile nos últimos 38 anos, a renda per capita brasileira seria mais do que o dobro da atual. 108% maior, para ser mais exato.

– Ah, mas PIB não quer dizer nada. O que importa é o bem estar das pessoas.

Ok. Também o desemprego foi menor no Chile. Desde 1991 (primeiro dado disponível para o Brasil), o desemprego médio chileno foi de 7,8%, contra 10,9% de desemprego médio no Brasil. Hoje, o desemprego no Chile está em 6,9%, contra 11,8% no Brasil. Se tivéssemos hoje o desemprego do Chile, cerca de 5 milhões de brasileiros a mais estariam trabalhando.

– Ok. Mas e a desigualdade? Qual a preocupação dos Chicago Boys com a distribuição de renda? Aposto que nenhuma!

Segundo dados do Banco Mundial, o índice de Gini do Chile caiu de 54,8 em 1987 para 47,7 em 2015. Já o índice do Brasil caiu de 59,7 para 51,3 no mesmo período (quanto menor, melhor a distribuição de renda). Ou seja, além de mostrar uma distribuição de renda melhor do que a brasileira, o índice de Gini do Chile recuou só um pouco menos do que a o brasileiro nesse período de 28 anos. Parece ok para um país que adota um modelo econômico neoliberal selvagem.

Resumindo: o Chile, administrado segundo a escola de Chicago, teve metade da inflação, o dobro do crescimento, menos desemprego e melhor distribuição de renda do que o Brasil, administrado segundo a melhor escola unicampiana de preocupação social. E ainda ficamos discutindo “o que deu errado” no modelo chileno.

PS.: antes que alguém levante a questão, dá sim para usar o Chile como exemplo. Apesar de ser um país menor e com maior dependência de exportações, há muitos países ainda menores que não dão certo. E há países bem maiores que têm uma performance bem superior à brasileira por seguirem os cânones econômicos ortodoxos. Vide EUA e Alemanha, por exemplo.