Luciano Huck dando “lições” aos liberais. Faltaria “afetividade” ao modelo liberal. Sem “olhar as pessoas” vamos implodir, como o Chile.
É realmente do balacobaco.
Huck fala como se o Brasil fosse um exemplo de “modelo liberal” há décadas, e estivéssemos agora enfrentando a desigualdade criada por esse modelo “insensível”. É o justo oposto! Somos um exemplo de país onde o Estado se mete a fazer tudo, onde todos esperam a solução de seus problemas do Estado, e onde incontáveis grupos de sangue-sugas se acoplam ao Estado-Pai-De-Todos para garantir seus privilégios de rent-seeking.
Mais na frente na matéria, Luciano Huck elogia Lula por ter tido esse “olhar para as pessoas”. É o nordestino do sertão que tem uma cisterna e eletricidade e uma geladeira e o bolsa-família, tudo graças ao “Pai-Lula”. Migalhas que caíram da mesa dos privilégios e da roubalheira, somente possível porque Lula teve a sorte de pegar a China crescendo 12% ao ano e comprando tudo o que o Brasil tinha para produzir e vender. Quando acabou o dinheiro da China, acabou a mágica. Temer, e agora Bolsonaro, pegaram um país em frangalhos, depois de anos de políticas públicas de governos que “olhavam as pessoas”. O povo sente a nostalgia de um tempo em que o Brasil tinha dinheiro pra gastar, e do tempo subsequente, em que viveu no cheque especial para manter a ilusão de fartura.
Há uma dicotomia falsa, falsissima (não sei se existe esse aumentativo) entre liberalismo e distribuição de renda. Vou dar um exemplo: saneamento básico. Está para ser votado no Congresso um novo marco regulatório para o setor que permitiria investimento privado de bilhões de reais nessa necessidade zero para o bem-estar das pessoas. Esse projeto de lei está parado há anos no Congresso porque os Estados não querem largar o osso de suas empresas estatais do setor. As estatais, por óbvio, não têm capacidade de investimento. Não investem e não deixam a iniciativa privada investir. Enquanto isso, as crianças brincam no esgoto a céu aberto. Pergunto: quem mesmo não está “olhando as pessoas”?
Huck e seus amigos costumam fazer menção à “boa gestão” aliada a boas políticas públicas como a combinação ideal para “melhorar a vida das pessoas”. Sim, boa gestão. O que é simplesmente impossível em um Estado mastodôntico. É da natureza da máquina pública criar vida própria e sugar recursos que deveriam ser dirigidos a “melhorar a vida das pessoas”. Só existe uma forma de fazer políticas públicas eficientes e perenes: diminuindo o tamanho do Estado e focando-o no que interessa. O bolsa-família, a mais festejada política pública do país, custa R$30 bilhões/ano, contra despesas do governo da ordem de R$3,2 trilhões. Os liberais não querem acabar com o bolsa-família. Os liberais só querem saber para onde vão os outros R$3,17 trilhões.
Huck, como bom empresário que é, sabe de tudo isso. Mas é cool defender a “igualdade” e demonizar o “liberalismo selvagem” pela má distribuição de renda. Tudo marketing político.
O país pode implodir sim. Só não culpem o liberalismo por isso.