As sementes da destruição

Enquanto as atenções estão voltadas para os protestos contra a política de Covid-zero, o jornalista Lourival Sant’Anna chama a atenção para o ponto que julgo mais relevante para projetar a China do futuro: a relação do governo com a iniciativa privada.

O trecho destacado acima parece ter sido tirado diretamente do livro Why Nations Fail, de Daron Acemoglu. O economista lista uma série de exemplos de países cujas elites políticas sufocaram o surgimento de novas tecnologias, com o receio de perder poder. Talvez seja neste ponto que a democracia, com seus pesos e contrapesos e com pluralidade de representação, mostre-se o mais adequado sistema político para fomentar uma prosperidade de longo prazo.

As inovações são, por natureza, destrutivas. Destroem o status quo para substituir por outro mais eficiente, que cria mais valor com menos recursos. Esse processo, obviamente, encontra resistências, e a inovação somente segue em frente se o grupo dominante não tem poder suficiente para barrá-la.

A China é só o exemplo mais recente de elite política que se opõe à inovação, mesmo que isso pareça um tiro no pé. O PC chinês tem poder suficiente para fazê-lo e vai fazê-lo, porque essa é a lógica das instituições extrativistas.

Assim como aconteceu com a antiga União Soviética, pode levar décadas para que a China, tal qual a conhecemos hoje, desapareça e, no lugar, surja um país bem mais modesto. Mas é uma questão de “quando”, não de “se”. As sementes da destruição estão plantadas, é só uma questão de tempo para que floresçam.

Refém do Covid-zero

Lembro de uma reportagem, bem no início da pandemia, que descrevia a visita de um oficial de saúde chinês à Itália. O oficial escarnecia das medidas tomadas pelo governo italiano, afirmando que aquele nível de restrição ao movimento das pessoas estava muito longe de ser o suficiente. Era um momento em que assistíamos, estupefatos, um vídeo mostrando cidades inteiras fechadas e a construção de um gigantesco hospital de campanha em poucos dias, e nos perguntávamos, no Ocidente, se seria possível alcançar a eficiência chinesa para combater a doença vivendo sob regras democráticas.

Olhando friamente os números, o sucesso da China é incontestável. Com meros 3,6 óbitos por 100 mil habitantes, e mesmo considerando alguma manipulação dos números, a China fica a anos-luz dos principais países da Europa Ocidental e Américas (entre 2.500 e 3.000 óbitos por 100 mil) e da Europa Oriental (acima de 5.000 óbitos por 100 mil). O seu sucesso contrasta, inclusive, com o de países asiáticos, como Japão (400 óbitos por 100 mil) e Coreia do Sul (600 óbitos por 100 mil).

O problema é que o governo chinês está em uma sinuca de bico. Sem imunidade de rebanho e recusando-se a usar as vacinas desenvolvidas no Ocidente, que têm eficácia e tempo de proteção maiores, os chineses se tornaram presa fácil das variantes mais transmissíveis do vírus. Assim, não há outra estratégia possível, no momento, do que a continuidade das restrições draconianas ao movimento. Na hipótese de algum abrandamento, é perfeitamente possível que a China alcance, em alguns meses, os números, por exemplo, do Japão, o que significaria 5,5 milhões de óbitos.

O massacre da praça da Paz Celestial, em 1989, demonstrou como o governo chinês lida com protestos. Desse modo, não parece provável que protestos esparsos sejam capazes de fazer o governo chinês mudar de rumo. Aliás, pelo contrário, esses protestos fazem diminuir a probabilidade de que Xi volte atrás. Se antes, um abrandamento das medidas significaria reconhecer um erro de condução da estratégia anti Covid, agora soma-se a impressão de que o presidente chinês cede a protestos populares. Seria abrir uma caixa de Pandora no país. Isso sem contar os prováveis 5,5 milhões de óbitos.

Xi Jinping tornou-se refém de sua própria política anti Covid.

O eterno trade off entre segurança e privacidade

Uma extensa reportagem de hoje no Estadão descreve os últimos avanços do combate ao crime na China, o que inclui, obviamente, desafiar o regime. A ideia é tentar antecipar o crime através do monitoramento de potenciais transgressores, identificados por meio da análise extensiva de dados e uso de inteligência artificial em sua interpretação.

Esse método de combate ao crime remete ao icônico filme Minority Report, um dos melhores de Tom Cruise. Neste filme, uma empresa assume com sucesso o policiamento do país, ao utilizar uma tecnologia que consegue “prever” os crimes antes de acontecerem. Na verdade, a tecnologia se resume aos “Cogs”, mutantes que conseguem ver o futuro.

A discussão ética se dá em torno da ideia de se punir um crime antes que aconteça. De maneira estrita, o crime não ocorreu, portanto não há criminoso. Mas a tecnologia previu o crime, portanto há um criminoso em potencial, que pode ser punido e posto fora de circulação. Ético ou não, o procedimento faz despencar o número de crimes no país. (Fiquem tranquilos os que não assistiram ao filme e gostariam de assistir, a trama é muito mais do que isso, não há spoiler aqui).

A inteligência artificial está fazendo, e fará cada vez mais, o papel dos “Cogs”. Na China isso já é uma realidade, e a discussão ética está posta. No último tiroteio com vítimas nos Estados Unidos, em um desfile de 4 de julho em Chicago, ao que parece o assassino deixou pistas em suas redes sociais, o que normalmente acontece. É tentador pensar que, com base nessas pistas, a polícia poderia prendê-lo antecipadamente, poupando sete vidas. O problema é que uma prisão antecipada colide frontalmente com princípios básicos da civilização ocidental e do Estado de Direito, como a presunção de inocência e a liberdade de expressão. Poder-se-ia pensar em um monitoramento mais próximo de pessoas que poderiam ser assassinos potenciais. No entanto, na prática, isso custaria muito caro. Imagine monitorar, seguir e neutralizar todo maluco que fala groselha na internet. Haja recursos policiais!

Nicholas Taleb, em seu clássico livro Black Swan, analisa fenômenos que ele chama de “cisnes negros”, ou seja, de baixíssima probabilidade de ocorrência mas que causam um estrago gigantesco. Um dos exemplos é o 11/09, em que a segurança dos aeroportos não foi suficiente para evitar o atentado das torres gêmeas. A questão colocada é justamente qual o custo de se ter evitado o 11/09 ANTES de ele ter ocorrido. Quem seria o político que bancaria o atual esquema paranoico de segurança nos aeroportos antes desse atentado? Sem que o atentado tivesse ocorrido, não haveria apoio da sociedade para a verdadeira tortura que se tornou viajar de avião nos EUA. Talvez ainda estejamos para ver um evento de proporções cósmicas que convença os americanos a deixarem-se monitorar e aceitarem a prisão de suspeitos pelo que falam em redes sociais.

O governo chinês, como sabemos, não tem esse tipo de pudores, e monitora seus cidadãos usando os seus “Cogs”. Lá, o trade off entre segurança e privacidade foi resolvido. No ocidente, a discussão continua.

Uma ditadura ao gosto do freguês

Lula deu uma entrevista estupefaciente ao jornal chinês Guancha.

Não leio chinês, por óbvio, então tasquei um Google Translator. A entrevista é longa e repleta das mistificações próprias do demiurgo de Garanhuns. Vou destacar apenas três trechos, somente corrigindo a gramática em algumas passagens. Se alguém souber chinês a ponto de ler no original, poderá eventualmente corrigir algumas imprecisões. Mas o sentido, vocês verão, é absolutamente claro. Faço comentários às respostas de Lula ao longo da entrevista.

A primeira pergunta do entrevistador refere-se à sua prisão:

– É uma história incrível e perturbadora. O que aconteceu com o judiciário em seu país? Na sua opinião, seu caso sofreu interferência de países estrangeiros?

– Lula: O Departamento de Justiça dos EUA orientou os procuradores dos EUA a participar do processo contra mim. Eles vieram ao Brasil para se reunir com o Ministério Público brasileiro, e os juízes e promotores foram aos EUA para discutir minha condenação. Gravamos um depoimento que mostrou promotores dos EUA comemorando minha prisão. A única explicação que encontro é que o Brasil está se tornando um importante player internacional.

Essa acusação aos EUA não é nova. Tudo sempre é interferência duzamericano. O que me chama a atenção é que a Lava-Jato começa em 2014, ainda no governo Obama. Ou seja, Lula acusa o ministério da Justiça de Obama (e, depois, de Trump) pela sua prisão. Como alguém quer ser presidente da República fazendo esse tipo de acusação a um país dito amigo? Qual será a sua relação com os EUA durante o seu governo? É o mesmo que querer aliados no Congresso depois de chamar os congressistas de golpistas. Criticamos Bolsonaro por ser ofensivo em relação a um grande parceiro comercial como a China. Onde estão as críticas a Lula por fazer acusações tão sérias aos EUA?

A entrevista continua:

– Quando a globalização começou nos anos 1990 e início dos anos 2000, todos esperávamos que se seguíssemos uma prescrição específica de desenvolvimento, todos os países em desenvolvimento se tornariam países desenvolvidos. Mas, décadas depois, é claro que a China conseguiu muito mais. A maioria dos outros países em desenvolvimento e a maioria dos países do BRIC, incluindo o Brasil, estagnaram e não conseguiram progredir. Então, o que há de errado com os países em desenvolvimento? Por que só existe uma China? Como podemos mudar isso?

– Lula: […] Mas por que a China pode fazer isso? Porque a China tem um partido político. A China foi o produto de uma revolução liderada pelo presidente Mao em 1949, e seu partido político tem o poder e um governo forte que o povo respeita quando toma decisões. Isso é algo que não temos no Brasil, e tivemos o impeachment da nossa presidente, Dilma Rousseff, por uma mentira. Indiscutivelmente, a elite financeira do nosso país muitas vezes se intromete na política, e precisamos enfrentá-los para mostrar-lhes o importante papel que o governo deve desempenhar. Muitas das políticas sociais que o povo precisa só podem ser alcançadas quando o governo é forte, e somente quando o governo tem o comando. Foi lamentável que o papel dos governos tenha se enfraquecido nos países latino-americanos e do terceiro mundo, com cada vez mais empresas estatais privatizadas e cada vez mais funções governamentais privatizadas. A China, por exemplo, é capaz de combater o coronavírus tão rapidamente porque tem um partido político forte e um governo forte porque tem controle e comando. O Brasil não tem isso, assim como outros países. […] Portanto, acho que a China deu um exemplo de desenvolvimento para o mundo inteiro e é um modelo para o mundo inteiro. Espero que outros países possam aprender com a China, para que todos possamos ser ricos, fortes, distribuindo mais riqueza, mas também ter um mundo mais humano.

Bem, Lula elogia nada mais, nada menos, que a ditadura mais bem sucedida do planeta. Alô, FHC. Alô, Eugênio Bucci. Alô, intelectuais democratas do Brasil. Este é Lula, aquele que vai salvar a democracia brasileira. Um partido forte. Um estado forte. Uma ditadura do bem. Precisa dizer mais alguma coisa?

Continuando:

– Muita coisa aconteceu na América Latina, Colômbia e Peru, e agora há algo incomum no Brasil. A situação está mudando, como você acha que você, seu partido e as “forças do sul” devem influenciar essas mudanças?

– Lula: Venho dizendo que a mídia teve um grande papel na América Latina, especialmente no Brasil, nos golpes no Brasil, na derrota eleitoral da argentina Cristina Kirchner há quatro anos, e na Bolívia contra Evo Morales.

A mídia! O que “a mídia” está fazendo nessa resposta? O que Lula pretende fazer com “a mídia”? Bolsonaro agride jornalistas. Lula também não gosta da mídia, mas seus métodos para controlá-la são, digamos, mais eficazes. Seria a China um exemplo aqui também?

Estão aí, em três respostas, os pendores democráticos de Lula. Ok, ele está falando a um jornal chinês, não poderia deixar de ser elogioso ao país. Mas, depois de 14 anos de governos do PT, depois do mensalão e do petrolão, não parece restar dúvidas sobre a visão de mundo de Lula e do PT a respeito das instituições democráticas. Criticar a falta de credenciais democráticas de Bolsonaro sem fazer o mesmo com Lula é escolher uma ditadura a seu gosto. Desde que seja “do bem”, vale qualquer coisa.

A China e a política do filho único

Em 1980, ano da implementação da política de filho único na China, a taxa de fertilidade no país era de 2,6 filhos por mulher. Em 2016, quando o Partido Comunista Chinês permitiu que as famílias do país pudessem ter 2 filhos, a taxa de fertilidade havia caído para 1,7 filhos por mulher. Sucesso da política de filho único? Vejamos.

Em 1980, a taxa de fertilidade na Coreia era de 2,8 filhos por mulher e, no Brasil, era de 4,0. Em 2016, as taxas de fertilidade nesses dois países haviam caído para, respectivamente, 1,2 e 1,8 filhos por mulher. Ou seja, sem absolutamente nenhum programa estatal de controle da natalidade, a não ser, talvez, campanhas educativas e culturais, Coreia e Brasil apresentaram quedas nas taxas de natalidade em 35 anos superiores aos obtidos pela China.

Essa não é uma característica apenas de Brasil e Coreia. Todos os países de renda média apresentaram exatamente a mesma tendência. A urbanização e a necessidade de mais investimentos em educação fizeram o serviço, não foi necessária uma política coercitiva do Estado.

Agora, o Politiburo chinês vai “permitir” 3 filhos por família. Por que não liberar geral? Vamos combinar que decidir-se por ter 4 filhos ou mais será suficientemente raro para ameaçar qualquer política demográfica. Mas o viés autoritário é mais forte, então precisa continuar havendo alguma intromissão na vida privada das pessoas.

Bem, essa permissão, é fácil prever, não vai resolver nada. A China, como os demais países de renda média, tende a ter uma taxa de fertilidade decrescente. Como diz o velho ditado, você pode levar um cavalo até a beira do rio, mas não pode obrigá-lo a beber água. Já estou vendo o momento em que o governo chinês vai começar a OBRIGAR as famílias a terem dois filhos.

Em resumo: o governo chinês lançou mão de uma política incrivelmente autoritária, que mexeu com a mais íntima decisão na vida de um casal, à toa. Se foi inócuo para minorar o problema demográfico, teve efeitos deletérios sobre a vida das famílias chinesas. Sobre isso, recomendo o documentário da Amazon Prime, One Child Nation.

O vírus chinês

Bolsonaro deu vazão mais uma vez, ontem, a uma de suas teorias da conspiração de estimação: a China declarou guerra “química, bacteriológica e radiológica” ao mundo. A evidência? O país foi o que “mais cresceu o seu PIB”. Mais evidente que isso, só as provas insofismáveis de que a Terra é plana.

Vamos lá. A China vinha crescendo a mais de 6% ao ano antes da crise. Em 2020 cresceu apenas 2%. Perdeu, portanto, 4 pontos percentuais de PIB em 2020. O Brasil crescia 1% ao ano antes da crise. Decresceu 4% em 2020. Perdeu, portanto, 5 pontos percentuais de PIB. Reforçando: a China perdeu 4 pontos percentuais de PIB e o Brasil, 5. Não parece ser uma grande diferença, não é mesmo?

Além disso, a resposta da autoridades chinesas ao vírus foi muito mais violenta. Se aqui estamos reclamando da “perda das liberdades”, é porque não vivemos na China. Lockdown lá é lockdown, não esse arremedo que temos aqui. Resultado: números de infectados e óbitos muito menores do que no mundo ocidental. É até provável que os chineses estejam escondendo os números reais, mas a diferença é tão gritante que, mesmo o número real deve ser muitas vezes menor que o que vimos na Europa e Américas. Aliás, os números chineses estão em linha com os de outros países do Sudeste Asiático e mesmo Japão, Austrália e Nova Zelândia, que, igualmente, implantaram medidas draconianas de controle da pandemia. O resultado: a China e estes outros países puderam voltar antes a uma vida mais ou menos normal.

Por fim, em um mundo globalizado, não parece ser uma tática muito inteligente acabar com seu mercado consumidor e fornecedor. Crescimento econômico não é um jogo de soma zero, em que o meu crescimento depende do decrescimento do outro. Crescimento econômico é um jogo cooperativo de criação de valor. O vírus, que claramente destrói valor, só é instrumento de crescimento econômico na cabeça de paranóicos.

Como toda teoria da conspiração, a tese do “vírus chinês” é plausível à primeira vista, assim como a sensação de que a Terra é plana quando se olha para o horizonte. Mas, como toda teoria da conspiração, não para em pé diante de argumentos nem tão sofisticados.

Sim, a China é uma ditadura. Sim, a China tem aspiração a ser uma potência hegemônica. Mas eles não chegaram aonde chegaram sendo idiotas a ponto de atacarem seus principais parceiros comerciais.

Modelito chinês

Teve um ex-presidente e ex-presidiário que deu uma entrevista a um jornal chinês há algum tempo elogiando o sistema econômico e político daquele país. Vamos ver se vai adota-lo por inteiro.

A dependência da China

Imagine, por um momento, que todas as potências industriais do planeta internalizassem suas cadeias de produção. O que aconteceria?

Em primeiro lugar, os produtos industriais ficariam mais caros. A China só atingiu a posição que atingiu porque ofereceu ao mundo mão-de-obra qualificada e barata. O operário americano, europeu e japonês custam muito mais caro.

E qual seria o efeito para o Brasil? Além de produtos industriais mais caros, diminuiria o mercado para os nossos principais itens de exportação, soja e minério de ferro. Provavelmente enfrentaríamos um problema no balanço de pagamentos, que se resolveria com um real ainda mais desvalorizado. Em resumo, ficaríamos todos mais pobres.

Então, antes de torcer para o mundo “dar uma lição na China”, pense nas consequências para o seu bolso.

Números mascarados

Alguns dias atrás, comentei trabalho do Imperial College de Londres, que vem embasando a resposta ao coronavírus mundo afora. Segundo as simulações do ICL, a província de Hubei, que tem a mesma população da Itália, deveria ter tido 15 mil mortes pelo vírus se adotasse a política de supressão precoce, a mais draconiana. A China reportou 3 mil.

Minha hipótese é de que, ou eles tinham adotado medidas ainda mais duras de contenção, ou os números estavam subestimados. Bem, começa a surgir a verdade.

Meu sobrenome é bananinha

Mourão disse tudo.

Claro que sua frase não pode ser retirada do contexto. Ele estava tentando dizer que Eduardo Bolsonaro tem o direito de dizer o que bem entender por ser deputado, e seu posicionamento não tem nada a ver com o posicionamento do governo brasileiro.

Mas não é bem assim.

O 03, para o bem e para mal, carrega o sobrenome do presidente da República. E não é um filho qualquer de uma família qualquer. É público e notório que temos uma filhocracia vigente no Brasil, onde o pai governa junto com seus filhos. E, no caso de Eduardo, a coisa é anda por: ficamos meses discutindo a ideia de Jair de colocá-lo na embaixada mais importante disponível. Imagine o embaixador do Brasil em Washington tuitando um troço desses.

O próprio Eduardo tentou amenizar a coisa, dizendo que não teve intenção de ofender o povo chinês. Ocorre que, na China, o Partido Comunista Chinês é o único representante do povo, é a encarnação do povo. Um ataque ao PCC é considerado um ataque ao povo chinês. Sei que parece estranho, mas não devia ser assim tão difícil de entender. Afinal, qualquer ataque ao governo Bolsonaro é visto pelo presidente, pela sua família e pelos bolsonaristas em geral como um ataque ao Brasil e ao povo brasileiro. O mesmo acontece por lá.

Não, o 03 não se chama Eduardo Bananinha. Seu sobrenome e sua posição têm um peso, assim como tem um peso todos os atos do presidente da República (já falamos sobre isso aqui ontem). Eles não têm espaço para serem inconsequentes. Podem até sê-lo mas, como diria o Conselheiro Acácio, as consequências vêm depois.

Eduardo precisa decidir se quer ser um Bolsonaro ou um Bananinha.

PS.: Não vou entrar aqui no mérito de se o que o 03 escreveu tem razão ou não. Até acho que tem, o PCC deve ter escondido a coisa até o último momento. Mas não é disso que se trata. O que ganhamos enfiando o dedo na fuça de nosso principal parceiro comercial? Qual o objetivo? Lacrar não é exatamente uma forma sábia de conduzir relações exteriores.