Lula deu uma entrevista estupefaciente ao jornal chinês Guancha.
Não leio chinês, por óbvio, então tasquei um Google Translator. A entrevista é longa e repleta das mistificações próprias do demiurgo de Garanhuns. Vou destacar apenas três trechos, somente corrigindo a gramática em algumas passagens. Se alguém souber chinês a ponto de ler no original, poderá eventualmente corrigir algumas imprecisões. Mas o sentido, vocês verão, é absolutamente claro. Faço comentários às respostas de Lula ao longo da entrevista.
A primeira pergunta do entrevistador refere-se à sua prisão:
– É uma história incrível e perturbadora. O que aconteceu com o judiciário em seu país? Na sua opinião, seu caso sofreu interferência de países estrangeiros?
– Lula: O Departamento de Justiça dos EUA orientou os procuradores dos EUA a participar do processo contra mim. Eles vieram ao Brasil para se reunir com o Ministério Público brasileiro, e os juízes e promotores foram aos EUA para discutir minha condenação. Gravamos um depoimento que mostrou promotores dos EUA comemorando minha prisão. A única explicação que encontro é que o Brasil está se tornando um importante player internacional.
Essa acusação aos EUA não é nova. Tudo sempre é interferência duzamericano. O que me chama a atenção é que a Lava-Jato começa em 2014, ainda no governo Obama. Ou seja, Lula acusa o ministério da Justiça de Obama (e, depois, de Trump) pela sua prisão. Como alguém quer ser presidente da República fazendo esse tipo de acusação a um país dito amigo? Qual será a sua relação com os EUA durante o seu governo? É o mesmo que querer aliados no Congresso depois de chamar os congressistas de golpistas. Criticamos Bolsonaro por ser ofensivo em relação a um grande parceiro comercial como a China. Onde estão as críticas a Lula por fazer acusações tão sérias aos EUA?
A entrevista continua:
– Quando a globalização começou nos anos 1990 e início dos anos 2000, todos esperávamos que se seguíssemos uma prescrição específica de desenvolvimento, todos os países em desenvolvimento se tornariam países desenvolvidos. Mas, décadas depois, é claro que a China conseguiu muito mais. A maioria dos outros países em desenvolvimento e a maioria dos países do BRIC, incluindo o Brasil, estagnaram e não conseguiram progredir. Então, o que há de errado com os países em desenvolvimento? Por que só existe uma China? Como podemos mudar isso?
– Lula: […] Mas por que a China pode fazer isso? Porque a China tem um partido político. A China foi o produto de uma revolução liderada pelo presidente Mao em 1949, e seu partido político tem o poder e um governo forte que o povo respeita quando toma decisões. Isso é algo que não temos no Brasil, e tivemos o impeachment da nossa presidente, Dilma Rousseff, por uma mentira. Indiscutivelmente, a elite financeira do nosso país muitas vezes se intromete na política, e precisamos enfrentá-los para mostrar-lhes o importante papel que o governo deve desempenhar. Muitas das políticas sociais que o povo precisa só podem ser alcançadas quando o governo é forte, e somente quando o governo tem o comando. Foi lamentável que o papel dos governos tenha se enfraquecido nos países latino-americanos e do terceiro mundo, com cada vez mais empresas estatais privatizadas e cada vez mais funções governamentais privatizadas. A China, por exemplo, é capaz de combater o coronavírus tão rapidamente porque tem um partido político forte e um governo forte porque tem controle e comando. O Brasil não tem isso, assim como outros países. […] Portanto, acho que a China deu um exemplo de desenvolvimento para o mundo inteiro e é um modelo para o mundo inteiro. Espero que outros países possam aprender com a China, para que todos possamos ser ricos, fortes, distribuindo mais riqueza, mas também ter um mundo mais humano.
Bem, Lula elogia nada mais, nada menos, que a ditadura mais bem sucedida do planeta. Alô, FHC. Alô, Eugênio Bucci. Alô, intelectuais democratas do Brasil. Este é Lula, aquele que vai salvar a democracia brasileira. Um partido forte. Um estado forte. Uma ditadura do bem. Precisa dizer mais alguma coisa?
Continuando:
– Muita coisa aconteceu na América Latina, Colômbia e Peru, e agora há algo incomum no Brasil. A situação está mudando, como você acha que você, seu partido e as “forças do sul” devem influenciar essas mudanças?
– Lula: Venho dizendo que a mídia teve um grande papel na América Latina, especialmente no Brasil, nos golpes no Brasil, na derrota eleitoral da argentina Cristina Kirchner há quatro anos, e na Bolívia contra Evo Morales.
A mídia! O que “a mídia” está fazendo nessa resposta? O que Lula pretende fazer com “a mídia”? Bolsonaro agride jornalistas. Lula também não gosta da mídia, mas seus métodos para controlá-la são, digamos, mais eficazes. Seria a China um exemplo aqui também?
Estão aí, em três respostas, os pendores democráticos de Lula. Ok, ele está falando a um jornal chinês, não poderia deixar de ser elogioso ao país. Mas, depois de 14 anos de governos do PT, depois do mensalão e do petrolão, não parece restar dúvidas sobre a visão de mundo de Lula e do PT a respeito das instituições democráticas. Criticar a falta de credenciais democráticas de Bolsonaro sem fazer o mesmo com Lula é escolher uma ditadura a seu gosto. Desde que seja “do bem”, vale qualquer coisa.