Um pote assim de mágoas

Palavras de Ciro Gomes, um pote até aqui de mágoas.

Palavras que descrevem Lula melhor do que qualquer discurso de seus adversários tradicionais.

Palavras que devem ser guardadas e lembradas quando Ciro Gomes enfiar o rabo entre as pernas e aceitar fazer aliança com Lula novamente.

O Brasil das corporações

Esta fala que vai abaixo foi cometida pelo inefável Ciro Gomes. Elogia a pressão dos caminhoneiros e sugere que os brasileiros façam o mesmo para defender a universidade pública, a Petrobras, a Embraer.

O que Ciro está sugerindo é que cada categoria que tenha alguma força de barganha tome a nação como refém e exija do governo como resgate alguns benefícios negados ao restante da sociedade. Negados não, subtraídos, pois se alguém está levando um benefício artificial, pode contar que quem está pagando é quem não tem poder de barganha.

Ciro defende apaixonadamente o Brasil das corporações.

Porque o PT vai perder

Está repercutindo essa fala de Mano Brown, cobrando a leitura correta do PT a respeito da sua provável derrota nessas eleições.

Mas o que me chamou a atenção nesse vídeo foi outra coisa. A partir de 3’47”, depois da fala de Mano, Caetano Veloso toma o microfone para fazer uma espécie de redução de danos.

Em um discurso meio sem pé nem cabeça, complexo, com aquele verniz intelectual hermético típico da esquerda brasileira, no fundo Caetano diz o contrário de Mano: os culpados são os outros, os fascistas cafajestes. E a conclusão é que estes precisam ser eliminados da vida pública brasileira.

Ao contrário de Mano, Caetano foi aplaudido. Não é à toa que vão perder, e vão perder feio, como bem disse o intelectual Cid Gomes.

O verdadeiro mal

Vou correr o risco de atrair a ira dos bolsonaristas mais fanáticos com este post. Mas acreditem, é para o seu próprio bem.

Bolsonaro é um nada. Trata-se de um oportunista que soube surfar na onda, esta sim relevante, do anti-petismo.

Colocar Bolsonaro no mesmo patamar de Lula é um artifício que só interessa ao PT. Lula é o político brasileiro mais importante desde Getúlio Vargas. Raros políticos na história brasileira moldaram o país como Lula o fez nos últimos 30 anos. Bolsonaro não passa de um obscuro deputado do baixo clero que, repito, soube surfar a onda da insatisfação popular com tudo o que o lulopetismo representa.

Por que estou dizendo isso? Porque acho ridícula toda essa campanha sobre “democracia”, “ameaça às liberdades” e coisas semelhantes, que colocam Bolsonaro como o líder de um movimento consistente da política brasileira, o exato contraponto de Lula. No máximo, podemos dizer que Bolsonaro nos remete a acontecimentos de 50 anos atrás, por mera semelhança de discurso. E só. As circunstâncias são completamente outras, o mundo é completamente outro. A única força política que realmente molda a realidade atual chama-se lulopetismo.

Bolsonaro é um espantalho útil. Amedronta as almas mais sensíveis com histórias de bicho-papão, quando o verdadeiro bicho-papão, aquele que transformou a vida do brasileiro em um inferno de violência, desemprego, corrupção, aparelhamento do Estado, incompetência e arroubos autoritários chama-se lulopetismo.

Os principais representantes da esquerda não caíram nessa. Ciro foi viajar. FHC mandou o PT para o inferno. Marina demorou duas semanas para, mesmo assim, declarar seu “apoio crítico”. Pode até ser que Ciro e FHC declarem finalmente o seu “apoio crítico” ao petista nesta última semana da campanha. Se isso acontecer, será apenas protocolar, sem o real desejo de se engajar na campanha. Eles sabem com quem estão lidando.

O que aconteceu nos últimos 29 anos?

Em 1989, Brizola e Covas subiram no palanque de Lula contra Fernando Collor.

Em 2018, Ciro foi para a Europa e FHC mandou o PT para o inferno. E isso com um candidato bem menos radical como Haddad e contra um adversário como Jair Bolsonaro.

O que aconteceu nesses 29 anos?

Está aí uma boa matéria de reflexão para o PT.

Os votos de Ciro

Meu professor na academia votou no Ciro.

Hoje, quando cheguei para a aula, me cumprimentou com um “agora é mito”.

Qual a lógica? Ele é anti-petista declarado. Votou no Ciro para tentar tirar Haddad do 2o turno e não precisar escolher entre o ex-capitão e o puppet do presidiário. Não deu certo.

No 2o turno, seu anti-petismo falará mais alto. Assim como de vários de seus amigos que fizeram a mesma coisa, segundo me disse.

Ciro teve 12,5% dos votos válidos. Se 1/3 dos eleitores de Ciro pensarem dessa maneira, Bolsonaro não precisaria dos votos de mais ninguém para se eleger.

Parece meio puxado para um eleitorado como o de Ciro, que não é, em sua maioria, anti-petista. Se fizermos este mesmo raciocínio somente com os eleitores do Sudeste e Sul, essa migração deveria subir para 2/3 somente nessas regiões (e zero nas outras regiões), pois o coronel recebeu metade dos seus votos abaixo da Bahia. Também parece puxado.

De qualquer forma, é uma amostra de como os votos de Bolsonaro no 2o turno não deverão vir apenas dos partidos mais à direita. O anti-petismo fará o serviço.

Impressões sobre o debate no SBT

No #debateSBT vi alguns movimentos interessantes, que indicam a tática para esta reta final no 1o turno, e podem dizer um pouco sobre apoios no 2o turno:

– Álvaro Dias foi o mais vocal contra o PT, chamando o partido de “organização criminosa”. Nem citou Bolsonaro. Surfando na onda anti-petista no sul, pode declarar apoio ao candidato do PSL.

– Ciro também foi agressivo com o PT. Pelo visto, ainda não desistiu de ser visto como uma 3a via, uma alternativa da esquerda para bater Bolsonaro. As pesquisas de 2o turno lhe dão razão.

– Alckmin bate no PT e em Bolsonaro, mas quase en passant. Gasta o grosso do seu tempo com platitudes, do tipo “precisamos investir em infra-estrutura”. Soltou um “resolutividade” no meio de uma resposta, o que deve ter lhe roubado 0,5% das intenções de voto.

– Haddad vai bem. É inteligente, rápido e articulado nas respostas, e tem um script que executa bem, a mistificação dos bons tempos do Lula. Tem um patrimônio para mostrar, e mostra com habilidade. Mas tenho a impressão de que, se pegar o ex-capitão inspirado em um debate no 2o turno, vai ser comido com farinha, pois será tirado de sua zona de conforto, coisa que só Álvaro Dias tentou uma vez, e com relativo sucesso.

– Marina: oi?

– Meirelles: muito ruim. Mas muito ruim mesmo.

– Cabo Daciolo: respondendo a uma pergunta de Guilherme Boulos, proclamou seu amor às mulheres brasileiras e “profetizou” sua vitória em 1o turno, em nome de Deushhhhh. (um debate em que Boulos faz pergunta a Daciolo, ambos com traço nas pesquisas, e deixa Amoedo, tecnicamente empatado com Marina, de fora, tem alguma coisa muito errada).

– Bolsonaro: o grande vitorioso da noite, porque não apanhou muito. Seu nome só foi pronunciado por Boulos e por Carlos Nascimento, que lembrava, no início de cada bloco, que ele não estava presente porque havia sofrido um ataque (propaganda subliminar positiva). O tema das mulheres foi tocado algumas vezes, principalmente pela Marina, o que indiretamente o prejudica. A essa altura, Bolsonaro está tocando a bola no meio de campo esperando o fim do 1o tempo. Quanto menos aparecer, melhor.