Oremos

Apenas para registro: a legislação diz que, se o 1o colocado no 1o turno morre entre o 1o e o 2o turnos, o 3o colocado entra em seu lugar.

Hoje, o 2o e o 3o colocados são Ciro Gomes e Fernando Haddad.

PS: oremos.

Autenticidade

Abaixo, breve análise que fiz sobre o primeiro debate entre os candidatos. Na época, vi “autenticidade” como a marca que definia tanto Bolsonaro quanto Ciro.

Hoje, artigo de William Waack no Estadão destaca justamente este traço como o ponto forte dos dois candidatos. Em uma eleição pra lá de emotiva, não é pouca coisa.

Autenticidade que passa longe do discurso técnico e burocrático de Alckmin. Até Amoedo transpira mais “autenticidade” do que o chuchu.

Haddad é outro que vai ter imensa, gigantesca dificuldade para transmitir essa sensação de autenticidade. Quem o acompanhou aqui na prefeitura de São Paulo sabe do que estou falando. Além do mais, está substituindo Lula, o rei da autenticidade.

Ah, mas Dilma se elegeu com um discurso pra lá de insosso também.

Sim, contra qual adversário? I rest my case.

Políticas regressivas

Traduzindo para quem não está acostumado com o economês: “políticas regressivas” significa tirar dos pobres e dar para os ricos (texto extraído da página de Sergio Almeida).


Ciro tem se notabilizado por 4 ideias:

1. Tirar pessoas do SPC (usando bancos públicos);

2. Oferecer crédito subsidiado via BNDES;

3. Política industrial (incentivos p\ setores selecionados);

4. Regular UBER.

Difícil imaginar um conjunto mais distributivamente regressivo de políticas.

Escolhendo o menos pior

Passei férias em Buenos Aires em janeiro de 2014. Alguns lugares aceitavam o real, ao câmbio de 4 para 1. Ou seja, um real comprava 4 pesos.

Ontem, esse mesmo câmbio fechou em 9 para 1. Hoje, um real compra 9 pesos.

E lembre-se, o real também se desvalorizou muito nesse período em relação ao dólar. Mas o peso argentino se desvalorizou muito mais.

Não por coincidência, Argentina e Venezuela são os dois países com as finanças mais em frangalhos na América do Sul. Anos e anos de políticas populistas, aquelas baseadas na premissa Unicampiana de que basta estimular a demanda para o país crescer, resultou em uma inflação estratosférica e na corrida contra a moeda. O dinheiro para estimular a demanda simplesmente acabou.

Brasil, Equador e Bolívia, apesar de fazerem parte do “circuito bolivariano” por muitos anos, não chegaram a este ponto. Lula, Correa e Evo tiveram a esperteza de se elegerem com um discurso de esquerda e governarem a economia com práticas de direita. Os três países estão longe de serem economias exemplares, mas não chegam perto de Argentina e, principalmente, Venezuela.

Dilma estava nos levando para o mesmo caminho. Ela de fato acreditava que a mão forte do Estado era fundamental para fazer a roda da economia girar. O país percebeu que a vaca estava indo para o mesmo brejo onde já estavam os dois países-irmãos, e resolveu impicha-la antes. Temer pode ter todos os defeitos do mundo, mas é preciso reconhecer que, com ele, aquela trajetória foi, ao menos, interrompida.

Agora temos uma eleição. É preciso distinguir, dentre os candidatos, aqueles que retomariam o caminho para o desastre. Considerando os que têm chance de vitória, Haddad e Ciro vestem esse figurino. Seus programas de governo são populistas na área econômica, e têm a fé no Estado como indutor do crescimento econômico como ponto em comum. O risco é que, tanto um quanto o outro, realmente acreditam nisso, assim como Dilma acreditava. É difícil encontrar um candidato que bata 100% com nossas preferências. Em uma eleição majoritária, é preciso, muitas vezes, votar no menos pior. Antes de votar, vou dar uma olhada na Venezuela e na Argentina. E vou procurar votar de forma a diminuir as chances de que o Brasil retome o mesmo caminho.

O Instagram não vai derrubar a página do PT

Começou a circular no WhatsApp um banner (foto 1) de campanha do PT com o mesmo programa do Ciro (foto 2).

Elena Landau, que postou o banner no seu Twitter, mostra o print do Instagram de onde tirou o banner, pois foi questionada (foto 3).

Fui procurar no Instagram nessas hashtags e não encontrei nada.

O fato é que alguém gastou tempo para fazer uma arte profissional que, no mínimo, semeia a dúvida no eleitorado.

O jogo sujo já começou.

Mas não, o Instagram não vai derrubar a página do PT.

Um desserviço da imprensa

Além de servir como slogan para acompanha do Ciro, pra que mais serve essa manchete de capa do Estadão?

No quesito “desinformação”, é 10. O Brasil tem 3 vezes a população da Itália, e qualquer fenômeno no Brasil será o equivalente a vários países menos populosos. A China deve ter uns dois Brasis de inadimplentes. O que isso significa? Rigorosamente nada.

Depois, esses números não batem uns com os outros. O país tem aproximadamente 55 milhões de famílias. Digamos, para simplificar e estressar o argumento, que todas sejam classificadas como pobres. Segundo a matéria, 26,7% dessas famílias estavam inadimplentes, o que significaria aproximadamente 15 milhões de famílias. Para que 63 milhões estivessem com contas atrasadas, seria necessário que cada uma dessas famílias tivesse, em média, 4 membros, e todos estivessem inadimplentes, incluindo crianças.

Há, obviamente, um problema conceitual aqui, que não permite conciliar essas informações. Mas o Estadão prefere a manchete bombástica do que o jornalismo esclarecedor. Muito triste isso.

O Refis do pobre

Aqui Ciro especifica um pouco mais o plano “limpa-nome”.

Em primeiro lugar, estabelece uma data de corte: 20/07/2018. Quem entrar no SPC depois dessa data, não poderá aderir ao programa. Esta foi a data em que pela primeira vez Ciro mencionou o programa. Evita que espertinhos façam dívidas já com o intuito de não pagá-las.

Em segundo lugar, não dá mais a impressão de que a dívida será “perdoada”, mas sim, será parcelada em até 36 meses. Ou seja, o pessoal vai pagar pela dívida, mas em condições melhores.

Mas a mágica trapaceira continua a mesma: ele faz uma conta, dizendo que a dívida média do brasileiro é de R$4.200, mas que o governo derrubaria esse montante para R$1.400, que seriam pagos em 36 suaves prestações de R$40. Ou seja, além de um facão em 2/3 da dívida, o saldo seria pago sem juros!

Obviamente, os bancos privados não topariam, e os bancos públicos seriam forçados a fazê-lo, com as consequências já conhecidas.

A peça publicitária ainda nos brinda com a inefável presença do Prof. Belluzo, o mago das soluções mágicas que só dependem de vontade política.

Uma coisa, no entanto, a campanha acerta: se foi feito o Refis, com custo de centenas de bilhões para perdoar dívidas de grandes empresas, qual o problema em gastar alguns bilhões para perdoar a dívida do pobre?

Na verdade, o problema está no Refis, uma pouca vergonha que vicia o sistema tributário, ao estimular a sonegação. Usar o Refis como exemplo é justificar um erro com outro.