A carteira do BNDES

O corpo técnico do BNDES “ganhou” uma reportagem completa do Valor Econômico, sobre a “rentabilidade” da carteira de ações do banco. Segundo levantamento dos próprios técnicos do BNDES (!), essa carteira rendeu 3,5 pontos percentuais acima do Ibovespa.

Qual o sentido disso? Absolutamente nenhum. Se o Tesouro Nacional estivesse em busca de aplicações de risco para o seu, o meu, o nosso dinheiro, há gestores muito mais competentes na praça, gerando ganhos muito maiores.

Mas ao Tesouro, obviamente, não interessa ganhar dinheiro no mercado de ações. Não é para isso que são arrecadados os nossos impostos. O BNDES supostamente existe para suprir “falhas de mercado”, onde à iniciativa privada não interessa o investimento que provê externalidades positivas para a sociedade.

Agora, me diga: que “falha de mercado” foi sanada com a compra de ações de Petrobras, Vale, Gerdau, Suzano, Cemig, etc etc etc? Por que a iniciativa privada não poderia participar dos processos que resultaram nessas ações encarteiradas pelo BNDES? Há, inclusive, uma contradição em termos: se houve “lucro econômico” com a compra dessas ações, é sinal de que não havia “falha de mercado”.

Essa reportagem vem sob medida, no momento em que se discute o desinvestimento dessas participações (são R$ 110 bilhões !!!). Afinal, esse é o raciocínio por trás, por que se desfazer de algo que “dá lucro” para o banco?

São dois os motivos: 1) não é função do Tesouro investir no mercado acionário e 2) o Tesouro está quebrado, e precisa desesperadamente do dinheiro. A reportagem convenientemente não entra em nenhum desses dois pontos.

Ordem das Empregadas Domésticas do Brasil

A senhora que nos ajuda em casa (vulgo “empregada doméstica”) entrou com pedido de aposentadoria em fevereiro, quando completou 15 anos de contribuição ao INSS. Detalhe: a senhora tem 68 anos de idade, e seu primeiro emprego registrado foi em minha casa, onde começou a trabalhar 15 anos atrás.

Estamos em julho, e ela está pacientemente aguardando o parecer do INSS. Afinal, para quem começou a trabalhar na roça, no interior da Bahia, ainda criança, o que são uns meses a mais, não é mesmo?

Pedro Fernando Nery lamenta a falta de uma Ordem dos Pedreiros do Brasil, que defendesse para os pedreiros uma gorda aposentadoria antecipada como a dos juízes. E eu, da mesma forma, lamento a ausência de uma Ordem das Empregadas Domésticas do Brasil.

Policiais civis

O que os policiais civis querem é viver uma carreira civil, mas se aposentarem como se militares fossem. Faz sentido? Não seria o caso então de incorporar a polícia civil na carreira militar?

Corporativismo

Depois da reunião com o representante dos procuradores, estão na fila para reunião com o relator da reforma da Previdência os representantes dos pedreiros, empregadas domésticas, atendentes de telemarketing, caixas de supermercados, motoristas e cobradores de ônibus, cabeleireiros, porteiros, zeladores, frentistas, faxineiros, taxistas, atendentes de loja, costureiras, cozinheiros, garçons, chapeiros, prostitutas, atores de filme pornô, jogadores de futebol, caixas de banco, vendedores ambulantes e pedintes.

Receio que, com toda essa fila para atender, o relatório da Previdência atrase.

O Brasil das corporações

Esta fala que vai abaixo foi cometida pelo inefável Ciro Gomes. Elogia a pressão dos caminhoneiros e sugere que os brasileiros façam o mesmo para defender a universidade pública, a Petrobras, a Embraer.

O que Ciro está sugerindo é que cada categoria que tenha alguma força de barganha tome a nação como refém e exija do governo como resgate alguns benefícios negados ao restante da sociedade. Negados não, subtraídos, pois se alguém está levando um benefício artificial, pode contar que quem está pagando é quem não tem poder de barganha.

Ciro defende apaixonadamente o Brasil das corporações.

O corporativismo continua firme e forte

Alguns números:

– Cunha foi eleito presidente da Câmara há dois anos com 267 votos. Hoje, Maia foi eleito com 293 votos.

– Em 2015, Arlindo Chinaglia, do PT, recebeu 136 votos. Hoje, a soma dos candidatos do “campo progressista” (André Figueiredo, do PDT e Luíza Erundina, do PSOL) receberam, no conjunto, 69 votos. Ou 13,5% da Câmara.

A isto se resume a esquerda ideológica no parlamento brasileiro. Fazem muito barulho, queimam pneus, quebram vidraças, mas são irrelevantes politicamente.

Infelizmente, porém, isso não significa que os liberais estejam em maioria. O grande inimigo do povo, o corporativismo, continua firme e forte. Privatização da Petrobras, nem pensar. Fim do imposto sindical, um sonho de uma noite de verão. Fim da estabilidade do funcionalismo público, faz me rir. Neste ponto, a esquerda ideológica e o centrão corporativista se dão as mãos para espoliar o povo brasileiro.