Digamos que o comércio e os restaurantes voltassem a abrir a partir de amanhã.
Pergunta: você sairia para almoçar no domingo e depois daria uma passadinha na casa de sua mãe/tia idosa?
Apenas um repositório de ideias aleatórias
Digamos que o comércio e os restaurantes voltassem a abrir a partir de amanhã.
Pergunta: você sairia para almoçar no domingo e depois daria uma passadinha na casa de sua mãe/tia idosa?
Vários gráficos atualizados até ontem.
Três se referem ao número de novos casos (média móvel de 3 dias desde que o ultrapassou 50 casos/dia), três se referem ao número de mortes (média móvel de 3 dias desde a 1a morte em cada país) e um novo, com a evolução da razão mortes/casos registrados.
Vamos lá. A Itália, que estava em uma descendente, voltou a crescer. Ainda não dá pra dizer que retomou o processo de alta, pode estar variando no mesmo patamar. Pode ser também que estejam diminuindo os casos em uma região e crescendo em outra, o que impediria o número de subir.
A Espanha é a nova Itália na Europa. Número de novos casos e mortes subindo forte. Ontem, pela primeira vez, a Espanha teve mais mortes do que a Itália.
EUA continua crescendo, mas a taxa de mortes é bem menor que na Europa. Talvez por estarem testando mais.
No Brasil, temos uma dicotomia: o número de novos casos parece estar se estabilizando, fugindo da curva de EUA/Europa. Por outro lado, o número de mortes é bem maior do que na mesma época do ciclo para estas duas regiões. Mas estamos muito no início ainda para tirar conclusões, vamos ver como se comporta nos próximos dias.
Por fim, a taxa de mortes/casos. O que vemos é que essa taxa sempre cresce com o tempo, pois as mortes ocorrem cerca de 2/3 semanas após a notificação do caso. Então, uma estabilização dessa razão pode indicar que a epidemia chegou ao seu pico. Vemos que os números de Itália e Espanha, por exemplo, ainda não estabilizaram. Nos EUA houve uma concentração de mortes logo no início em um asilo, mas depois estabilizou em patamar mais baixo. No Brasil, nosso índice ainda é baixo se comparado com a Europa, mas está crescendo. Obviamente, este índice não é o real, pois há muitos casos não notificados. Mas acho que vale a pena acompanhar, pois seria um indicador de estabilização da epidemia quando para de crescer.
É óbvio que enfrentaremos uma recessão brutal. Muitos empregos serão perdidos. Mas uma parte desses empregos serão absorvidos por setores que estão sobreaquecidos por conta da própria crise. Claro que, para uma análise mais definitiva, precisaremos ver como será o mundo pós-quarentena. É provável que os supermercados voltem a vender normalmente. Mas, e os restaurantes? Vão voltar a ser frequentados normalmente? Difícil dizer.
De qualquer forma, neste primeiro momento, alguns setores estão contratando. O que não deixa de ser um alívio nesse tsunami de más notícias.
Muitos dos que defendem a liberação já da quarentena usam como argumento o fato de que, uma vez o país reaberto, o surto volta e aí teríamos o pior de dois mundos: recessão e peste. É um bom ponto, que não tem uma resposta simples.
Está aí um artigo que endereça esse problema. China, Coreia e Japão estão mostrando como é possível lidar com o “pós-quarentena” sem precisar fechar a economia novamente. Mas é preciso ter um plano. Caso contrário, todo esse esforço terá sido em vão.
Cadê o Gilmar pra soltar a gente dessa prisão???
Seguem os gráficos atualizados até ontem.
A Itália parece mesmo ter atingido o seu pico, e agora está na descendente, tanto em número de casos quanto em número de mortes. Vamos acompanhar os próximos dias. Mas a Espanha aparentemente é a nova Itália, infelizmente.
O crescimento do número de mortes nos EUA está mais lento do que foi na Europa. Talvez porque estejam fazendo mais testes e tendo mais eficácia no combate. Só uma hipótese.
A curva de novos casos no Brasil passou para baixo dos EUA e Europa. Não comemoraria muito, por dois motivos: 1) nossa população é metade da população de EUA e Europa e, portanto, deveríamos ter menos casos mesmo e 2) devemos ter uma grande subnotificação, certamente maior que nos EUA por exemplo. Vamos passar a acompanhar mais de perto o número de mortes, pois trata-se de uma dado mais confiável, ainda que mais defasado em relação ao ciclo da epidemia. Observe que o Brasil hoje tem o mesmo número de mortes que a Europa (no caso, só a Itália, pois o país começou antes) na mesma época. Vamos continuar acompanhando.
Li hoje uma notinha no jornal, dizendo que o entorno do presidente está se baseando no baixo número de mortes na Austrália para fazer um paralelo com o Brasil, uma vez que os climas são semelhantes. Fui verificar. Os gráficos estão aí.
De fato, o número de mortes na Austrália é bem baixo (o gráfico mostra a média dos 3 dias anteriores). A má notícia é que a nossa curva está bem mais inclinada: já temos uma média de 9 mortes nos últimos 3 dias, curva esta mais compatível com a Itália na mesma época. No 8o dia após a primeira morte, a média da Itália era de 10 mortes/dia.
O número de casos/dia segue semelhante. Mas lembremos que a população da Austrália é cerca de 8,5 vezes menor que a brasileira. Ou seja, estão testando muito mais lá, o que faz crescer o número de casos registrados. E o que provavelmente explica o menor número de mortes também, pois o combate é bem mais eficaz. Além, claro, do sistema de saúde melhor.
Bolsonaro fez um discurso de confrontamento. Confronto é o que menos precisamos no momento.
O presidente tem a caneta na mão. Digamos que ele esteja certo. Por que então não chama a responsabilidade e baixa uma MP proibindo o fechamento compulsório de escolas e comércio em todo território nacional? Aqui não é os EUA, onde os Estados têm quase total autonomia. No Brasil, o presidente tem poder sobre todo o país. Por que fica só no discurso?
Mandetta criticou o fechamento indiscriminado do comércio e meios de transporte. Disse que essas coisas podem atrapalhar o próprio sistema de saúde, e que é preciso ter uma certa coordenação. Sim. E quem está coordenando? O governo federal vai ficar só na crítica ou vai assumir a coordenação da bagaça?
Os problemas no sistema de saúde recaem sobre governadores e prefeitos. A União controla apenas uma parcela pequena dos hospitais. São governadores e prefeitos que estão com o skin in the game. Talvez por isso estejam mais cautelosos que o presidente.
Senhor presidente: saia do discurso e venha para a prática. Proíba o fechamento de escolas e comércio. E chame as consequências para si.
O problema de qualquer processo decisório é que não sabemos com certeza o resultado de nossas decisões. Isso é o óbvio, mas às vezes não custa lembrar, principalmente nesses tempos de decisões que valem a vida de milhões de pessoas.
Temos, como humanidade, uma escolha pela frente: deixar morrer milhões de pessoas sem atendimento hospitalar, ou deixar que a atividade econômica colapse, provocando o caos social?
Em primeiro lugar, a própria formulação do problema já é em si um encaminhamento da solução. É diferente dizer que irão morrer milhares ou milhões de pessoas. Assim como é diferente dizer que entraremos em uma recessão econômica ou em uma depressão que nos jogará de volta à idade da pedra. Os que defendem um ou o outro lado formularão o problema de forma a não deixar dúvida sobre a solução a ser adotada. Afinal, quem, em sã consciência, deixará morrer milhões de pessoas? Ou quem quer viver em uma sociedade que se desmancha, sem lei e sem ordem?
O problema é que tanto um cenário quanto o outro são incertos. Talvez não morram milhões de pessoas. Com algum cuidado, talvez morram milhares com os devidos cuidados médicos, o que estará dentro do que se espera de uma pandemia. Talvez não entremos em uma era de convulsões sociais. Com a dose certa de incentivos e uma rede de solidariedade, talvez enfrentemos apenas mais uma recessão, aliás muito mais leve do que a que tivemos nos anos Dilma.
Cuidado, portanto. Não deixe que a formulação do problema influencie a sua decisão. A formulação traz em si uma hipótese a ser provada. Aceitar a formulação como uma verdade absoluta pode levar a decisões falhas.
E o que fazer, então? Hoje, eu sinceramente não sei. Mas intuo que a solução se auto-imporá dentro de pouco tempo, quando as verdadeiras consequências, e não suposições, começarem a aparecer. Se as condições de quarentena forem abrandadas e o número de mortes subir de maneira exponencial, será necessário entender como a sociedade reagirá a isto. Por outro lado, se as condições de quarentena se estenderem no tempo e sinais de comoção social começarem a surgir, também será necessário entender como a sociedade reagirá a isto. No final do dia, será a opinião pública a tomar a decisão, os governantes serão apenas os executores.
Gráficos atualizados até ontem. Itália continua estabilizando pelo 2o dia seguido, mas a explosão de novos casos na Espanha e França fizeram os números da Europa voltarem a subir.
Os números dos EUA explodem também, mas lá pode ser pelo fato da testagem estar sendo feita de forma extensiva. Sinal disso é o número de fatalidades, desproporcionalmente pequeno em relação ao total de casos (1,3%), como Coreia (1,2%) e Alemanha (0,4%).No Brasil, o número de novos casos seguem o padrão de Europa e EUA, sem muita novidade.
Adicionei mais dois gráficos, com a evolução do número de fatalidades, desde o dia em que ocorreu a primeira para cada país. No caso da Europa, desde o dia em que ocorreu o primeiro caso na Itália. Se o número de novos casos depende de quanto cada país está testando para a doença, no caso do número de fatalidades não há muita discussão sobre a robustez da estatística. E será útil para comparar a efetividade no combate à epidemia em cada região.