Uma nova modalidade de hipoteca começará a ser testada pelo BC e uma fintech: a hipoteca reversa.
Na hipoteca normal, a instituição financeira empresta dinheiro tendo como garantia o imóvel do tomador do empréstimo. Já na hipoteca reversa, a instituição financeira empresta dinheiro tendo como garantia o imóvel do tomador do empréstimo.
Não notou nenhum diferença? É porque, do ponto de vista estritamente financeiro, não há diferença nenhuma entre as duas modalidades. Em ambas as modalidades, há um empréstimo, com cobrança de juros, tendo um bem como garantia. Então, qual a vantagem da hipoteca reversa sobre a hipoteca normal? A embalagem.
Na hipoteca normal, o tomador precisa começar a pagar de volta o empréstimo já a partir do primeiro mês em que recebeu o dinheiro. O empréstimo (mais os juros) são pagos no número de meses pactuado no empréstimo. Caso ocorra inadimplência, a garantia é executada. Tchau, imóvel.
Já na hipoteca reversa, o proprietário do imóvel não paga nada. Nadinha. Ele recebe o dinheiro do empréstimo (que pode ser o total ou em forma de renda vitalícia) e não precisa pagar nada de volta. Qual a mágica?
A mágica está em um empréstimo intergeracional. São os descendentes que pagarão todo o juro acumulado do empréstimo após a morte do proprietário. Caso contrário, a garantia é executada, e o imóvel passa a pertencer à instituição financeira. Ou seja, na hipoteca reversa, são os descendentes que pagam o empréstimo, na forma de diminuição de sua potencial riqueza, pois o seu direito à herança do imóvel estará condicionado a que paguem o empréstimo feito.
Claro que essa embalagem é muito mais atraente. Afinal, aparece, do nada, uma renda extra. E, o que é melhor, o idoso não precisa se desfazer do imóvel em vida (um bem “de raiz”) e não precisa mudar de casa. Além disso, no Brasil, muitos idosos ajudam seus filhós financeiramente. Essa renda extra pode ser usada, inclusive, para ajudar os filhos. Neste caso, os filhos estão tomando emprestado de um imóvel que iria a eles pertencer no futuro para gastar hoje.
Apesar da embalagem mais atraente, a hipoteca reversa não passa de um empréstimo. O proprietário e seus descendentes estão tomando dinheiro a juros no mercado para manter o seu padrão de vida. Uma outra alternativa, mais barata, seria simplesmente vender o imóvel, viver de aluguel e gastar o dinheiro para manter o mesmo padrão de vida. Essa alternativa certamente resultaria em mais dinheiro, pois os juros trabalham a favor (investimento), não contra (empréstimo). O custo de manter o imóvel é justamente a diferença entre os juros cobrados pelo empréstimo e os juros pagos pelas aplicações financeiras.
Claro que nem tudo se resume a uma equação financeira. As pessoas não gostam de viver de aluguel e nem de se preocupar em investir dinheiro. Mas é sempre bom ter em conta o custo que as escolhas carregam.