“Nós saímos de uma ditadura em que muita gente morreu.”
Quem está errado?
Há duas formas de encarar um resultado eleitoral: colocar a culpa no eleitor ou colocar a culpa no candidato.
O rapaz aí prefere colocar a culpa no eleitor.
Mário Covas, como bem lembrado por Alckmin, colocava a culpa no candidato.
Esse mesmo povo “ignorante” elegeu FHC duas vezes no 1o turno. Neste caso o povo deixou de ser ignorante? Houve alguma espécie de “lapso cognitivo”, em que o povo se tornou “inteligente” por alguns anos, para depois cair novamente na ignorância? Ou foi FHC que soube se colocar eleitoralmente?
É verdade que o país “não dá certo” pelo povo que tem. Mas mais verdade ainda é que o país “não dá certo” porque os representantes políticos que poderiam resolver os problemas do Brasil são tão incompetentes que sequer entendem quais são esses problemas do ponto de vista do eleitor.
A higienização petista
Quem é o verdadeiro anti-democrata
Trecho do artigo semanal de Fernão Lara Mesquita, hoje, no Estadão. Traduz o que vimos dizendo por aqui.
Democratas de fancaria
“Como todos os brasileiros e brasileiras sabemos da profundidade dos desafios que nos convocam nesse momento. Mais além deles, do imperativo de superar o colapso do nosso sistema político, que está na raiz das crises múltiplas que vivemos nos últimos anos e que nos trazem ao presente de frustração e descrença.”
Esse é um trecho do manifesto anti-Bolsonaro, assinado por petistas e outros democratas.
Do jeito que vem escrito, parece que o tal “colapso do nosso sistema político” foi causado por, sei lá, uma invasão marciana ou quem sabe por um vírus letal que se espalhou pelo sistema político brasileiro. Não tem autor, vejam só vocês. Simplesmente aconteceu. Foi um desastre natural de grandes proporções que vitimou a sociedade brasileira.
Enquanto esses intelequituais não reconhecerem que a lama em que nos encontramos aconteceu por obra e graça do presidiário de Curitiba, dou-me o direito de desconfiar das intenções desses democratas de fancaria.
Assim é se assim lhe parece
Este é o trecho final de um artigo cometido pelo jornalista Bernardo Mello Franco.
Deve estar com problemas de memória, o Bernardo. Vamos ajudá-lo.
– Logo que tomou posse, o primeiro casal plantou uma estrela do PT nos jardins do Alvorada. A separação entre Partido e Estado sempre foi uma dificuldade para os petistas. Típico de partidos autoritários.
– Lula, e depois Dilma, insistiram várias vezes na criação de “conselhos populares” como instâncias decisórias, que teriam poder sobre a administração pública. Quem já participou da política estudantil sabe como essas coisas funcionam: esses “conselhos” de “populares” só tem o nome. São aparelhos do Partido, onde a dissidência não existe. Seria uma forma de bypassar o Congresso.
– Lula, e depois Dilma, ensaiaram várias vezes o controle “econômico” da mídia. Claro que, segundo os petistas, não tem nada a ver com conteúdo, nada de censura. É só tornar virtualmente impossível a sobrevivência de uma imprensa independente.
– O Mensalão e o Petrolão não foram apenas casos de corrupção. Corrupção é, por exemplo, superfaturar uma obra para ficar rico. Não. Mensalão e Petrolão foram concebidos para comprar o processo legislativo brasileiro. Não consigo pensar em nada mais anti-democrático do que isso.
Bernardo Mello Franco, assim como provavelmente fará boa parte da intelectualidade brasileira, declara seu voto em Haddad no 2o turno. Afinal, o PT cometeu apenas alguns erros, nada que colocasse nossa vibrante democracia em risco. Já Bolsonaro representaria o risco da volta da ditadura militar.
Assim é se assim lhe parece.
A pertinência de Hannah Arendt
Não é por nada não, mas meu irmão Marcos Guterman mandou muito bem hoje no Estadão.
Ameaça da esquerda à democracia
A divisão da nação
Em 1861, os Estados do Sul declararam guerra aos Estados do Norte. Os Estados Unidos entravam, assim, em um período de 4 anos de uma guerra civil que deixou cerca de 700 mil mortos. Atualizando para a população de hoje, seriam 5 milhões. CINCO MILHÕES DE MORTOS.
Não consigo pensar em nada mais divisor do que uma guerra civil. E os Estados Unidos são o que são. Não apesar da guerra, mas POR CAUSA da guerra. Não fosse a vontade férrea de Abraham Lincoln, até hoje considerado o maior presidente da história dos EUA, o país não passaria hoje de uma série de republiquetas. A divisão não tem nada a ver com o desenvolvimento dos países. Todos os países desenvolvidos têm divisões internas fortes e que levam, muitas vezes, à paralisia do governo. O que há, no entanto, é a convicção de que não há solução fora da democracia. Lembrando Churchill, a democracia é o pior de todos os sistemas de governo, com exceção de todos os outros.
Países com pensamento único são totalitários. Países democráticos resolvem seus impasses no voto, com um judiciário independente e uma imprensa livre.
A ascensão de Bolsonaro foi a resposta dada pelo povo brasileiro à apropriação do Estado brasileiro pelo PT, sob o olhar complacente dos tucanos. Se hoje Bolsonaro e PT polarizam as eleições, é porque o auto-denominado “centro democrático” não deu as respostas corretas no tempo correto. A tentativa de aglutinar forças a duas semanas das eleições soa patética.
Uma candidatura é uma construção com base na realidade. E a realidade é que o “centro democrático” representa pouca gente hoje. Por culpa exclusiva daqueles que hoje clamam por uma “união do País”.