Trabalho perseverante

Saitama é uma cidade-dormitório que fica a cerca de 20km ao norte de Tóquio. Tem cerca de 1,2 milhão de habitantes.

Saitama seria apenas mais uma cidade japonesa, não fosse por um detalhe: a cidade foi criada em 2001, a partir da fusão das cidades de Omiya, Urawa e Yono. Ou seja, para racionalizar os custos de administração, os japoneses criaram uma nova cidade no lugar de outras três.

No Brasil, foram criados 1.423 novos municípios desde a promulgação da Constituição de 1988, um crescimento de 34,3% sobre a base daquele ano. Ou seja, para cada 3 municípios existentes, um novo foi criado. O exato oposto do que aconteceu com os municípios japoneses de Omiya, Urawa e Yono.

A riqueza do Japão é obra de um trabalho perseverante. O mesmo se pode dizer da pobreza do Brasil.

Um ajuste sem sacrifícios

Paulo Guedes sumiu do radar, depois do “mal entendido” a respeito da recriação da CPMF. Não tem aparecido mais em reuniões ou entrevistas. Tomou chá de sumiço.

Bolsonaro deve ter solicitado que seu “posto Ipiranga” submergisse. Mas como não dá para não falar de economia, Bolsonaro assumiu o papel. Em sua entrevista à rádio Jovem Pan, discorreu sobre a proposta de alteração do IR da pessoa física.

A proposta é a seguinte: até 5 salários mínimos de renda, o contribuinte será isento. A partir desse patamar, cobra-se uma alíquota única de 20%. Isso significaria isenção para quem ganha até R$ 4.770, contra a isenção que temos hoje para quem ganha até R$ 1.904. Por outro lado, para quem tem renda acima de R$ 4.770, a alíquota é de 27,5%. Portanto, trata-se de uma redução de imposto de renda de ponta a ponta, para todo mundo.

Bolsonaro deixou claro: quer uma reforma “que não sacrifique ninguém” (palavras dele), e que diminua a arrecadação da União. Inclusive, disse que, se a alíquota de 20% for muito alta, poderia reduzi-la ainda mais. Sua lógica é que, com menos impostos, a economia vai aquecer, porque vai sobrar mais dinheiro para consumo nas mãos das pessoas.

Pois é. Essa proposta difere muito pouco da proposta do PT ou do Ciro. A diferença está apenas na origem do “dinheiro que vai sobrar nas mãos das pessoas”. No caso do PT ou do Ciro, trata-se de turbinar o crédito. No caso do Bolsonaro, o dinheiro virá dos impostos economizados.

A proposta de Bolsonaro é, conceitualmente, melhor. Diminuir a carga tributária faz com que o dinheiro que sobra seja efetivamente do contribuinte. Ele pode decidir gastar ou poupar, e não terá que pagar uma dívida logo adiante, o que deixa o sistema menos vulnerável. Crescimento na base exclusiva do crédito já vimos, e o final não costuma ser muito bonito.

Por outro lado, esta proposta embute um sacrifício não explicitado: a diminuição da carga tributária envolve necessariamente a diminuição das despesas do governo. E diminuição das despesas do governo envolve sacrifícios. Essa estória de que “não haverá sacrifício para ninguém” é balela. E não adianta vir dizer que os sacrificados serão os “políticos”, ou os “apadrinhados”, ou os “corruptos”. O buraco é beeeeem mais embaixo.

A economia com a máquina pública, se tudo for bem feito, seria talvez da ordem de alguns bilhões de reais. Já o total arrecadado com o IRPF em 2017 foi de aproximadamente R$ 33 bilhões. Se a renúncia fiscal for de, por exemplo, 1/3 da arrecadação desse imposto, estamos falando de R$ 11 bilhões de deficit adicional nas contas públicas.

Além disso, esse tipo de isenção fiscal é o que levou, ao longo dos anos, à regressividade absurda do nosso sistema tributário. Nas economias desenvolvidas, o imposto sobre a renda é grande, e sobre os produtos e serviços é pequeno. No Brasil é o contrário, o que faz com que o pobre pague muito mais imposto proporcionalmente em relação ao rico.

Por fim, o rombo das contas públicas está em aproximadamente R$ 150 bilhões. É preciso zerar esse déficit e começar a gerar superávits, para começar a diminuir a dívida. E não se faz isso com um suposto “crescimento econômico” provocado por crédito ou renúncias fiscais. É indispensável cortar despesas. Inclusive, a mãe de todas elas, a Previdência Social.

Também não adianta vender todas as estatais (ele já disse que BB e Caixa são “estratégicas”, o que merecerá outro post). Se a fonte de despesas não for estancada, o dinheiro da venda será queimado em alguns anos, e o problema retornará no futuro. Como bem sabe uma família endividada e que gasta mais do que ganha, não adianta vender o carro para pagar as dívidas. Isso dá um alívio provisório, mas a dívida volta logo adiante se as despesas continuarem maiores que as receitas.

Enfim, não se faz o ajuste de que o Brasil precisa sem sacrifícios. Quem vende isso está vendendo ilusões. Bolsonaro, ao prometer o paraíso na Terra, está se igualando aos demagogos do PT. E, como estes, não conseguirá entregar o que está prometendo.

Opção moderada

O primeiro trecho é aquilo que o PT gostaria que você acreditasse.

O segundo, é o PT real.

E o pior é que ainda tem “analista político” querendo convencer que Haddad seria uma opção “moderada”.

Prioridades mal concebidas

Se alguém vier culpar a “austeridade” pelo fim do Museu Nacional, lembre-se que gastaram R$250 milhões para construir o Museu do Amanhã.

O problema do Brasil não é de falta de dinheiro. É de prioridades mal concebidas.

Convicção liberal se testa na prática

A Câmara dos Deputados do RJ aprovou um projeto de lei que concede aumento de 5% aos servidores do Tribunal de Justiça – RJ.

O governador Pezão vetou o projeto, por burlar o Regime de Recuperação Fiscal, acordo que permitiu aporte da União.

A Câmara derrubou o veto do governador. Por unanimidade. No trecho abaixo, as justificativas de três deputados para a derrubada do veto.

22 partidos estão representados na Câmara do RJ. Desde o sedizente liberal DEM, passando pelo cristão novo liberal PSL até o falso liberal PSDB. Nem um mísero voto pela responsabilidade fiscal.

Não tenho dúvida de que, tivesse o Novo representação na Câmara, a votação não teria sido unânime.

Responsabilidade fiscal é palavra que está na boca de todos os candidatos. Mas as convicções das pessoas são testadas na vida real.

O único caminho

A Grécia saiu ontem do plano de resgate desenhado pelo FMI e Banco Central Europeu.

Reportagem do Estadão informa que a renda dos gregos caiu 30% no período, e conta as histórias tristes de algumas famílias. Todas supostamente vítimas do programa draconiano de austeridade imposto pelos credores.

Mas a história não é bem essa.

O que aconteceu na Grécia é o mesmo que está acontecendo na Venezuela, Argentina e todos os outros países que vivem acima de suas possibilidades: tem uma hora que os credores cobram a dívida.

A queda da renda, na verdade, é o processo de volta ao reino das possibilidades. Uma família que vive de crédito, vive acima de suas posses. Quando o crédito lhe é cortado, é obrigada a viver com menos. O mesmo ocorre com os países.

No caso da Grécia, que vive com uma moeda forte assegurada pela Alemanha, não havia outro caminho a não ser cortar nominalmente os salários e benefícios estatais. No caso de Venezuela e Argentina, esta queda de renda se dá através da inflação.

O Brasil seguiu esse caminho, e tivemos uma contração de renda brutal nos últimos 3 anos. Mas não nos enganemos: a trajetória fiscal ainda é delicada, indicando que ainda estamos longe de viver de acordo com nossas possibilidades. A nossa renda precisa cair ainda mais para nos adequarmos.

A única forma de fazer a renda crescer é o crescimento econômico. E não o crescimento baseado exclusivamente no crédito, que se torna depois uma bolha insustentável. Deve ser um crescimento baseado no aumento da produtividade. Não há outro caminho.

Falsa dicotomia

Muitos candidatos, refletindo o que pensa a maioria dos brasileiros, demonizam o “mercado”. Dizem que não vão deixar o “mercado” pilotar o país, que sua preocupação é o povo e não o “mercado”, e por aí vai.

E o que esse famigerado “mercado” quer? Austeridade fiscal e reformas liberalizantes. Ambas com um só objetivo: aumentar as chances de que o Brasil pague sua dívida, uma vez que o “mercado” é o credor do Brasil.

Se é bom para o “mercado” é ruim para o Brasil?

Esta é uma falsa dicotomia. Austeridade fiscal não é “tirar dinheiro do pobre para dar ao rentista”. Isso quem fez foi o governo, ao se endividar para patrocinar políticas populistas. Os juros de hoje são somente a consequência da falta de austeridade fiscal de ontem.

A falsa dicotomia está em contrapor “austeridade fiscal” a “bem-estar do povo”. Nada mais falso. A austeridade fiscal é o alicerce da casa. Ninguém no “mercado” seria louco de afirmar que a casa é formada somente pelo alicerce. Mas os críticos da austeridade são loucos ao afirmarem que é possível construir uma casa sem alicerces.

O Brasil é um país que avança aos trancos e barrancos. O fio condutor de sua história econômica nos séculos 20 e 21 é o desequilíbrio fiscal causado por um Estado mastodôntico sustentado por governos populistas. Constrói castelos no ar, sem alicerces, que se desmancham no ar, deixando um rastro de destruição e desperdício de recursos. Quando vamos acordar para a realidade?

Teste psicotécnico

História de bolso do Brasil pós-guerra e um teste psicotécnico:

Juscelino construiu Brasília e estourou as contas públicas. A inflação resultante desestabilizou o país e deu lugar a uma ruptura institucional, o golpe de 64.

Os militares construíram a Transamazônica e Itaipú, entre outas obras gigantescas e estouraram as contas públicas. A inflação resultante desestabilizou o país e deu lugar a uma ruptura institucional, a redemocratização.

A Constituição de 1988 criou um sem número de direitos sem a correspondente fonte de recursos, o que estourou as contas públicas. Como a inflação não pode mais ser usada para acertar as contas, começou a faltar dinheiro mesmo.

Agora, o teste psicotécnico: o que acontecerá em seguida?

O problema é fiscal

O problema é fiscal.

O Ilan e o Guardia vieram a público para afirmar que o Brasil tem fundamentos sólidos. Não poderiam dizer outra coisa.

Fundamentos sólidos uma pinóia! Temos uma dívida crescendo sem controle, e o que vemos é cada um procurando preservar o seu. Enquanto isso, a eleição é um deserto de homens e ideias.

O Ilan e o Guardia tentam, como podem, segurar as pontas, usando os pobres instrumentos que têm à mão. Estão tentando segurar a rachadura da barragem com esparadrapo.

O problema é fiscal. Enquanto as contas públicas não forem arrumadas, a coisa é daí para pior.