Substitua “Trump” por “Bolsonaro” e “Clinton” por “Alckmin”, e entenda porque a campanha do tucano está errada do início ao fim, a começar pela escolha do candidato.
Lembrança
Trump atacando a Amazon me lembra muito a Dilma.
Próxima parada: Palestina
Análise de Iam Bremmer, da Eurasia Group e crítico contumaz de Trump.
Próxima parada: reconhecer que a abordagem de Trump para a questão palestina tem alguma chance de funcionar.
Herói americano
Eu entendi o seguinte dessa frase: Trump é um racista genuíno, um antissemita, um supremacista branco e um fascista. Mas como não atravessou o Atlântico pela primeira vez de avião, então não é um herói americano.
Argumentos ilógicos
Coluna de um jornalista do Washington Post, traduzido no Estadão.
Ok, Trump é um boçal. Mas pelo menos podiam usar argumentos lógicos para provar a tese. Senão, fica parecendo birra infantil.
A internet vai à loucura
Trump acaba de proclamar feriado nacional o dia de Martin Luther King, 15 de janeiro.
A Internet vai à loucura.
Mistificação
Ontem acompanhei a apuração na NBC. A cobertura incluiu várias pequenas entrevistas com eleitores. Em uma delas, a repórter estava em uma casa de latinos. Havia legalizados e “undocumented”, como chamam os clandestinos lá. A entrevista era com uma menina de 16 anos, colombiana, absolutamente fluente, mostrando que já estava há muitos anos no país. Os pais haviam sido deportados há um ano, e ela estava acompanhada de uma tutora, que arranhava algo parecido com o inglês. A repórter pergunta à garota se estava preocupada com o andamento da apuração (naquela altura, o cheiro de arroz queimado já estava forte). Sim, muito, estavam rezando por uma virada, porque ela queria muito voltar a viver com os pais, e um governo de Hillary Clinton poderia facilitar a imigração. A tutora, também entrevistada, informou que cuidava de mais de 100 menores na mesma situação, e um governo Trump seria um desastre para essas crianças.
Pois bem. Não vou aqui entrar no mérito da questão, de que esta jovem poderia voltar para a Colômbia para viver com os pais. Longe de mim insinuar que, talvez, para esta menina, continuar morando nos EUA seja um desejo mais forte do que voltar a viver com os pais.
Meu ponto é outro. Os pais da moça foram deportados PELO GOVERNO OBAMA. Sim, o governo Obama, aquele que respeita as minorias e os imigrantes, sensível às demandas dos excluídos do capitalismo, e do qual o governo Clinton seria uma continuação natural. Foram deportados pelo governo Obama, mas é Trump o monstro insensível. A voz embargada da garota e da tutora, diante das perguntas dirigidas da repórter, faziam o cenário perfeito do Trump racista e xenófobo.
Assim, temos a verdade do politicamente correto: Obama e Clinton fazem o discurso do acolhimento e, por serem democratas (aqui seriam petistas), têm a licença dos intelectuais, artistas e imprensa para deportar a população latina inteira dos EUA. Já Trump, por ser republicano, e falar sobre o problema da imigração ilegal de maneira clara, é o monstro racista e xenófobo.
O resultado da eleição mostrou que o americano médio não caiu nessa mistificação.
Trump, o inimigo público número 1
A eleição de Trump representa o fim do mundo para os EUA e, por consequência, do mundo propriamente dito.
Afinal, Trump é um lunático, que pode adotar medidas insanas que vão destruir as bases mesmas da civilização tal qual a conhecemos.
Trump, por exemplo, pode congelar preços por tempo indeterminado.
Trump pode confiscar a poupança da população.
Trump pode decretar a moratória da dívida.
Trump pode armar um esquema de corrupção que desvie bilhões de dólares para sustentar o seu partido.
Trump pode destruir o setor elétrico com uma canetada.
Trump pode usar a empresa estatal de petróleo para sustentar políticas populistas irresponsáveis.
Trump pode impedir a saída do país de americanos insatisfeitos com suas condições de vida.
Trump pode confiscar fábricas de empresários gananciosos.
Trump pode mandar prender adversários políticos.
Coitados dos americanos. Ainda bem que vivemos em uma parte do mundo onde nada disso é possível.
A riqueza como virtude
Em determinado momento do debate de ontem nos EUA, Hillary Clinton começa a listar alguns motivos pelos quais Donald Trump se recusa a mostrar a sua declaração de imposto de renda. “Talvez porque ele não seja tão rico quanto diz, talvez porque ele não seja tão bem-sucedido quanto diz, talvez seja porque ele não faça tantas doações filantrópicas quanto diz”. Chamou-me a atenção porque Hillary lista “ser rico” e “ser bem-sucedido” como virtudes que Trump não tem como provar.
Corta para a eleição paulistana. Erundina, em debate, “acusa” Doria de morar em uma mansão que vale milhões de reais, e Lula, em comício, “acusa” Doria de vestir um casaco que compraria não sei quantos cisnes do sítio que não é dele.
João Doria acaba de assumir a liderança na corrida eleitoral paulistana. Difícil identificar o motivo do sucesso de sua campanha. Na minha opinião, ele é o candidato que melhor conseguiu encarnar o anti-petismo, e isso explica a sua espetacular ascensão. Mas é só um chute, pode estar certo ou errado. O que é absolutamente certo é que a “riqueza” de Doria não está atrapalhando.
Doria, guardadas as devidas distâncias, tem o mesmo perfil de Trump: outsider da política, Trump se coloca como o self-made man que vai usar a fórmula do seu sucesso empresarial para governar. Nos EUA, terra em que o sucesso é admirado, costuma funcionar. No Brasil, terra onde, como uma vez disse Tom Jobim, o sucesso é ofensa pessoal, não.
A ascensão de Doria coloca em cheque esta visão. Os intelectuais da rota Rio-Paris e os sociólogos de bar da Vila Madalena juram que rico vota em rico e pobre vota em pobre. Os pobres, donos de seus votos, estão passando outra mensagem, imortalizada na célebre frase do filósofo Joãozinho Trinta: “Pobre gosta de luxo, quem gosta de miséria é intelectual”. Joãozinho Trinta era carnavalesco da Beija-Flor, e respondia deste modo aos críticos, que diziam que havia um excesso de luxo em seus desfiles, contrastando com as condições de pobreza em que vivia o povo que desfilava.
Riqueza fruto do trabalho (e não da corrupção) deveria ser encarada como uma virtude. A eleição paulistana está mostrando que, pelo menos, não está sendo considerada um pecado.