Autenticidade

Abaixo, breve análise que fiz sobre o primeiro debate entre os candidatos. Na época, vi “autenticidade” como a marca que definia tanto Bolsonaro quanto Ciro.

Hoje, artigo de William Waack no Estadão destaca justamente este traço como o ponto forte dos dois candidatos. Em uma eleição pra lá de emotiva, não é pouca coisa.

Autenticidade que passa longe do discurso técnico e burocrático de Alckmin. Até Amoedo transpira mais “autenticidade” do que o chuchu.

Haddad é outro que vai ter imensa, gigantesca dificuldade para transmitir essa sensação de autenticidade. Quem o acompanhou aqui na prefeitura de São Paulo sabe do que estou falando. Além do mais, está substituindo Lula, o rei da autenticidade.

Ah, mas Dilma se elegeu com um discurso pra lá de insosso também.

Sim, contra qual adversário? I rest my case.

Políticas regressivas

Traduzindo para quem não está acostumado com o economês: “políticas regressivas” significa tirar dos pobres e dar para os ricos (texto extraído da página de Sergio Almeida).


Ciro tem se notabilizado por 4 ideias:

1. Tirar pessoas do SPC (usando bancos públicos);

2. Oferecer crédito subsidiado via BNDES;

3. Política industrial (incentivos p\ setores selecionados);

4. Regular UBER.

Difícil imaginar um conjunto mais distributivamente regressivo de políticas.

A tática óbvia

Claro, cada um joga com as armas que têm. Então, não há que condenar a propaganda do PT, que dá o mesmo destaque para o candidato e para o presidiário. Se este é o super-trunfo que o partido tem na mão, tem mais é que usar mesmo.

O problema está nas campanhas adversárias.

Dilma é o grande passivo do PT. Um desastre inventado por Lula. O paralelo é óbvio.

Dilma saiu com mais de 70% de reprovação. Pior, só o Temer. Que também foi invenção do Lula.

O problema é que uma narrativa não se faz da noite para o dia. É preciso ser perseverante e martelar a ideia dia e noite. Não adianta chegar na véspera da eleição e dizer que Dilma foi um desastre. Teria sido preciso amaldiçoar a “herança maldita” todo dia. O governo Temer tentou fazer isso com alguns anúncios no jornal, mas obviamente não era o ator ideal, dado que fez parte daquele desgoverno. Quem tinha que ter feito isso era, obviamente, o PSDB. Que estava muito ocupado em disputas intestinas para ver quem seria o candidato a presidente, e não tinha tempo nem foco para esses detalhes.

Não é que agora não funcione. Apenas que a eficácia é muito menor. Claro, se a tática óbvia finalmente for adotada, coisa que até o momento não aconteceu, preocupado que o PSDB está em desconstruir Bolsonaro.

A candidatura Haddad só está sendo levada a sério porque os adversários são ruins de doer.

Quem lacra não se elege

Só pra relembrar o trecho onde a jornalista Vera Magalhães louva a “lacração” de Marina Silva no debate da RedeTV. Ela não estava sozinha, a performance da candidata da Rede foi cantada em verso e prosa por todo o jornalismo “bem-pensante” do país. Enfim, alguém havia tomado coragem para enfrentar o Ogro!

Deu muito resultado mesmo. Estamos vendo nas últimas pesquisas.

Análise da pesquisa Ibope

Pesquisa Ibope basicamente repetindo a única tendência digna de nota, ainda que com menos intensidade: migração de votos de Marina para Haddad. Vamos ver se essa tendência se mantém nas próximas pesquisas.

Secundariamente, o Ibope aponta um fortalecimento ligeiramente maior de Bolsonaro após o atentado, em relação ao DataFolha. Mas os grandes números são basicamente os mesmos.

O voto útil em Bolsonaro

Tem algo que vem me intrigando há algum tempo: a campanha que alguns bolsonaristas vêm fazendo para que os eleitores do Amoêdo votem útil no ex-capitão, para que este ganhe ainda no 1o turno. Caso contrário, o inferno aguarda a nós todos, com a vitória do PT no 2o turno.

Trata-se de uma argumentação com uma contradição e uma falha.

A contradição é que os bolsonaristas juram de pés juntos que as pesquisas são fajutas, e que Bolsonaro bate qualquer um no 2o turno. Eu até acho que pesquisa de 2o turno feita no 1o turno tem validade limitada, pois 2o turno é outra eleição. Mas, se Bolsonaro é tão fodão, vence o 2o turno fácil, por que ficar fazendo campanha pelo voto útil?

A falha no argumento é de lógica. Se os votos do Amoêdo são suficientes para eleger Bolsonaro no 1o turno, serão também suficientes para elegê-lo em um eventual 2o turno. A não ser que Bolsonaro repita Alckmin em 2006 e perca votos entre o 1o e o 2o turnos. Mas aí a culpa não terá sido do Amoêdo, não é mesmo?

Vamos colocar em números, pra ver se me faço entender. Digamos que Bolsonaro receba 46% dos votos válidos e Amoêdo, 5%. Vamos ao 2o turno, e os eleitores do Amoêdo votam em Bolsonaro e o elegem com 51% dos votos válidos. Ficou claro?

– Ah, mas no 2o turno alguns eleitores do Amoêdo podem não querer votar no Bolsonaro…

Bem, como querer que esses eleitores que não votam no Bolsonaro nem no 2o turno votem nele ainda no 1o turno??? Coisa de maluco, né não?

O voto útil no 1o turno serve, de fato, para evitar um 2o turno desgastante. Foi o que aconteceu na eleição para a prefeitura de São Paulo: João Doria ganhou no 1o turno contando com muito voto útil que não queria uma campanha pain in the ass contra o Haddad no 2o turno. Mas não havia dúvida de que Doria venceria a eleição no 2o turno. Não houve terrorismo do tipo “ou vota útil ou Haddad é eleito”. Isso não faz o mínimo sentido.

Outra utilidade do voto útil é levar um candidato mais “palatável” ao 2o turno, de modo a não ficar refém de um escolha de Sofia. Assim, diante de um 2o turno entre Bolsonaro e Haddad (ou Ciro), muitos eleitores de Amoêdo (e de Meirelles e de Alvaro Dias) podem votar em Alckmin, seja pela esperança de ter uma opção mais “centrista” no 2o turno, seja pelo receio de que Bolsonaro seja o passaporte para a volta da esquerda ao poder, por conta de sua alta rejeição.

A última pesquisa DataFolha mostra que Alckmin, Amoêdo, Meirelles e Alvaro somam 19% dos votos válidos, montante teoricamente suficiente para levá-lo ao 2o turno, caso a esquerda se mantenha dividida. Long shot, mas possível.

Enfim, por enquanto continuo com meu posicionamento desde sempre: meu voto é do Amoêdo, mas posso votar útil ainda no 1o turno, a depender do desenho de um eventual 2o turno.

Análise ideológica-simplista

Vamos dividir os candidatos, de maneira bastante simplista, entre esquerda e direita. Atenção! Trata-se apenas de um exercício, como eu disse, simplista, que não pretende esgotar todas as nuances entre os candidatos.

Na direita temos Bolsonaro, Alckmin, Amoêdo, Alvaro, Meirelles, Daciolo e Eymael.

Na esquerda temos Marina, Ciro, Haddad, Boulos, Vera e Goulart.

Pois bem. O DataFolha de ontem mostrou o seguinte resultado entre direita e esquerda (apenas votos válidos):

Direita 52 x 41 Esquerda, com 7% de indecisos.

O DataFolha anterior, de 22/08, mostrava o seguinte:

Direita 51 x 42 Esquerda, com 7% de indecisos.

Portanto, o quadro mudou muito pouco olhando por essa ótica. Os candidatos estão se “comendo” dentro dos seus respectivos campos ideológicos.

Claro que essas definições são fluidas, e eleitores da “direita”, como FHC, podem votar na esquerda no 2o turno. Mas é um cheiro do que podemos ter no 2o turno, mesmo tendo Bolsonaro como representante da direita.