Oportunista como todos os outros

Geraldo Alckmin, em entrevista ontem ao Estadão, afirma que Temer não tem “a legitimidade do voto”. Portanto, não vai defender o seu legado.

Quando o PSDB entrou de cabeça no governo Itamar Franco e patrocinou o Plano Real, ninguém pensou na “legitimidade do voto”. Surfaram gostosamente a onda da popularidade.

Este era o momento de abraçar a única agenda que estava nos tirando do buraco. Mas Alckmin se mostra tão oportunista quanto todos os outros. Desse jeito, vai perder os poucos votos que tem, como aconteceu no 2o turno de 2006.

O antes e o depois

Eduardo Giannetti é uma mistura de filósofo e economista. Muito badalado, suas posições são ouvidas e respeitadas.

Pois bem, no Valor de ontem, defendeu o fim do teto de gastos. Posição diametralmente oposta ao que falava dois anos atrás.

O que mudou? Está na campanha de Marina Silva.

Debaixo da capa respeitável, vive um oportunista como todos os outros.

Com a ajuda dos gnomos da floresta

Só tem duas formas de equilibrar as contas públicas: diminuindo os gastos ou aumentando as receitas. Os magos da Marina negam as duas coisas. Restam aumento do endividamento ou, no caso dos credores se recusarem a continuar a financiar o rombo, inflação.

Mas Marina representa aquele pensamento mágico, em que os problemas são resolvidos com muito diálogo e alguma ajuda dos gnomos da floresta.

Por que?

Conference call com um investidor japonês da qual acabo de participar:

🇯🇵: Qual a chance do ex-presidente Lula concorrer nas próximas eleições?

🇧🇷: Muito remota, praticamente zero.

🇯🇵: Então por que ele é incluído nas pesquisas?

🇧🇷: 🤔

Bombardeando a própria casa

A diferença eleitoral entre PSDB e PT, ou, mais especificamente, entre FHC e Lula, fica mais uma vez patente: enquanto o PT defende o seu candidato com unhas e dentes, mesmo estando preso, FHC não cansa de sabotar o seu, agora lançando o tal “manifesto pelo centro democrático e reformista” e citando o apoio a Marina como uma possibilidade.

Quer dizer, ao invés de arregaçar as mangas e trabalhar pelo candidato do seu partido, FHC bombardeia as bases da candidatura. Depois vai se perguntar porque o PT ganhou 4 eleições seguidas e Bolsonaro lidera as intenções de voto, com o apoio de muitos que votavam no PSDB.

O que as pesquisas dizem

O mercado financeiro está surtando porque Alckmin não decola nas pesquisas e aposta em um 2o turno entre Bolsonaro e Ciro. Em pesquisa recente da XP junto ao mercado, nada menos que 44% dos respondentes apostam nessa hipótese.

O DataFolha deste domingo não trás novidade alguma: Bolsonaro e Marina Silva distantes dos outros candidatos. E Marina batendo todos os candidatos no 2o turno.

Mas, por algum motivo misterioso, o mercado não está considerando a hipótese Marina. Talvez por não ter estrutura partidária nenhuma (que é o caso de Bolsonaro também) ou, o que é mais provável, pelo seu histórico de derretimento nas duas últimas eleições.

Então, o mercado encontra-se em seu momento esquizofrênico: as pesquisas enterram Alckmin, mas as mesmas pesquisas não servem para colocar Marina como uma candidata competitiva.

Ora, ou bem as pesquisas servem, ou não servem. Minha opinião? Acho que pesquisas hoje ainda dizem pouco sobre as eleições.

Nada existe fora de Lula

Lula foi lançado como pré-candidato do PT à presidência.

Mesmo estando preso.

Lula é o candidato do PT à presidência desde a primeira eleição depois da redemocratização. O que vale dizer, desde sempre.

Sim, Dilma foi a candidata do partido em 2010 e 2014. Mas em 2010, fez o papel de Medvedev do Putin, aquele que guardou a cadeira para o verdadeiro chefão. Em 2014, quando deveria entregar do volta o mandato para o capo, ficou grudada na cadeira e deu no que deu.

Então, o maior partido de esquerda da América Latina e, quiçá, do mundo, depende exclusivamente de um homem há mais de 30 anos. Mesmo condenado e preso, manda e desmanda no partido, o que não deixa de lembrar o modus operandi de facções criminosas.

O PT é Lula. Nada existe fora de Lula. Lula é a ideia que sustenta o partido. Quase uma divindade. Por isso, sua candidatura vai até o fim. Porque sem isso, o partido perde a sua razão de existir.

Lendo através das eleições no Tocantins

Muito se falou da pesquisa encomendada pela XP, feita pelo telefone, que coloca Haddad com 11% das intenções de voto quando aparece “apoiado por Lula”. Mas pouco se falou da pesquisa que importa, aquela das urnas.

No último domingo tivemos o 1o turno da eleição suplementar para governador em Tocantins, porque a chapa eleita foi cassada. O resultado foi o seguinte:

  1. Mauro Carlesse (PHS): 30,3%
  2. Vicentinho Alves (PR): 22,2%
  3. Carlos Amastha (PSB): 21,4%
  4. Katia Abreu (PDT): 15,7%
  5. Marlon Reis (Rede): 9,9%

Em 2014, Dilma Rousseff teve 59,5% dos votos em Tocantins, contra a média nacional de 51,6%. O governador eleito (e agora cassado) era do PMDB.

Mauro Carlesse, o vencedor do 1o turno, é o atual presidente da Assembleia Legislativa.

Vicentinho Alves, o 2o colocado, é senador e já foi deputado federal e deputado estadual.

Carlos Amastha, o 3o colocado, foi prefeito de Palmas de 2013 a 2018. Foi um dos 7 prefeitos que estiveram em uma reunião de apoio a Dilma e contra o impeachment em dezembro de 2015.

Katia Abreu, a 4a colocada, é senadora e uma das principais apoiadoras de Dilma Rousseff no senado, de quem foi ministra da agricultura.

E, finalmente, Marlon Reis, o 5o colocado, foi o juiz responsável por patrocinar a Lei da Ficha Limpa, notabilizando-se pela luta contra a corrupção na política.

Então, resumindo: em um estado que deu 60% dos votos para Dilma Roussef em 2014, os dois primeiros colocados são o ex-presidente da Assembleia Legislativa filiado ao PHS e um senador do PR. Ou seja, políticos profissionais.

Por outro lado, políticos de alguma forma ligados a Dilma (e a Lula, por que não), ficaram fora do 2o turno. Marlon Reis, que deveria ser o símbolo da luta contra a corrupção, chegou em 5o.

Então, a eleição no Tocantins mostrou que:

  1. a velha política continua viva da silva
  2. a proximidade com Dilma é tóxica. Quem conseguir ligar a imagem de Lula à da Dilma pode vencer o candidato apoiado por Lula
  3. ser anti-corrupção não é assim uma bandeira imbatível

Detalhe final: brancos, nulos e abstenção somaram 49% do eleitorado. Quem conseguir convencer o eleitor a sair de casa levará vantagem.