A dificuldade em reconhecer erros

Análise do inefável Bernardo Mello Franco sobre o aumento da rejeição a Haddad.

Bernardo descobriu o problema: as “fake news”, que estariam sendo espalhadas sob o olhar complacente do TSE, que estaria de braços cruzados.

Desta brilhante análise não constam a mudança brusca e artificial na identidade visual da campanha, a comunhão da Manuela, o apoio tóxico de Boulos. Nada disso. O culpado é o Olavo de Carvalho, que prega para convertidos.

Assim como o partido, os jornalistas petistas têm uma enorme dificuldade em reconhecer erros. Cid Gomes que o diga.

História pregressa

Não conhecia essa história pregressa do Mario Sérgio Cortella, convidado para ser o ministro da educação do Haddad.

Sempre o achei um embuste, mas não sabia porque.

Agora eu sei.

A prepotência petista

“Por ter sistematicamente desrespeitado aqueles que não aceitaram sua busca por hegemonia, por ter jogado brasileiros contra brasileiros e por ter empobrecido a política por meio da corrupção e do populismo rasteiro, o PT colhe agora os frutos amargos – na forma de um repúdio generalizado ao partido em quase todo o País e da desmoralização de sua tentativa de vestir o figurino democrático, que nunca lhe caiu bem.”

Editorial dO Estado de São Paulo

O que aconteceu nos últimos 29 anos?

Em 1989, Brizola e Covas subiram no palanque de Lula contra Fernando Collor.

Em 2018, Ciro foi para a Europa e FHC mandou o PT para o inferno. E isso com um candidato bem menos radical como Haddad e contra um adversário como Jair Bolsonaro.

O que aconteceu nesses 29 anos?

Está aí uma boa matéria de reflexão para o PT.

FHC, o PT e o inferno

FHC mandando o PT para o inferno, em entrevista hoje no Estadão.

Isso tem história.

Há longínquos 29 anos, Mário Covas subiu no palanque de Lula, para apoiá-lo contra Collor. Era a aliança daqueles que fizeram oposição ao regime militar.

O tempo passou e Fernando Henrique elegeu-se presidente. Enfrentou, desde o início, feroz oposição do PT, incluindo 4 pedidos de impeachment patrocinados pelo partido. Isso não impediu que FHC passasse a faixa presidencial com incontido júbilo para o seu oponente, em 2002. Dizem, inclusive, que Lula era o seu candidato “in pectore” naquelas eleições.

Aparentemente, FHC viu aquela oposição como parte do jogo político, algo legítimo em uma democracia. Contava, inclusive, com interlocutores no partido, que o ajudavam a fazer alguma contraposição à sanha predatória de seus aliados do então Centrão, sempre ele.

Lula não esperou recolherem as sobras da festa da posse, para iniciar a sua peroração sobre a “herança maldita” do governo FHC. Passou seus dois mandatos amaldiçoando o PSDB e FHC pelos males do país. O PSDB virou a representação do “inimigo” a ser combatido.

Mesmo assim, FHC sempre poupou o PT, apesar de reconhecer sua deslealdade. No mensalão, foi um dos artífices do movimento anti-impeachment de Lula. E suas declarações sempre foram no sentido de colocar “panos quentes”.

FHC é um homem de esquerda. Ele nunca escondeu isso de ninguém. Mandar o PT para o inferno por estarem tentando coagi-lo moralmente é um passo gigantesco por vir de quem veio. Significa que, finalmente, o PT está só. Só com sua arrogância e seu projeto hegemônico de poder. Só com seu discurso excludente. Só com suas práticas anti-democráticas.

Não importa se FHC vai apertar o 13 na cabine de votação. Isso pertence à sua consciência e somente a ela. O que importa para o homem público FHC, é que ele mandou o PT para o inferno. Antes tarde do que nunca.

Bolsonaro é fruto da esquerda

Da página de Gustavo Bertoche.

De onde surgiu o Bolsonaro?

Desculpem os amigos, mas não é de um “machismo”, de uma “homofobia” ou de um “racismo” do brasileiro. A imensa maioria dos eleitores do candidato do PSL não é machista, racista, homofóbica nem defende a tortura. A maioria deles nem mesmo é bolsonarista.

O Bolsonaro surgiu daqui mesmo, do campo das esquerdas. Surgiu da nossa incapacidade de fazer a necessária autocrítica. Surgiu da recusa em conversar com o outro lado. Surgiu da insistência na ação estratégica em detrimento da ação comunicativa, o que nos levou a demonizar, sem tentar compreender, os que pensam e sentem de modo diferente.

É, inclusive, o que estamos fazendo agora. O meu Facebook e o meu WhatsApp estão cheios de ataques aos “fascistas”, àqueles que têm “mãos cheias de sangue”, que são “machistas”, “homofóbicos”, “racistas”. Só que o eleitor médio do Bolsonaro não é nada disso nem se identifica com essas pechas. As mulheres votaram mais no Bolsonaro do que no Haddad. Os negros votaram mais no Bolsonaro do que no Haddad. Uma quantidade enorme de gays votou no Bolsonaro.

Amigos, estamos errando o alvo. O problema não é o eleitor do Bolsonaro. Somos nós, do grande campo das esquerdas.O eleitor não votou no Bolsonaro PORQUE ele disse coisas detestáveis. Ele votou no Bolsonaro APESAR disso.

O voto no Bolsonaro, não nos iludamos, não foi o voto na direita: foi o voto anti-esquerda, foi o voto anti-sistema, foi o voto anti-corrupção. Na cabeça de muita gente (aqui e nos EUA, nas últimas eleições), o sistema, a corrupção e a esquerda estão ligados. O voto deles aqui foi o mesmo voto que elegeu o Trump lá. E os pecados da esquerda de lá são os pecados da esquerda daqui.

O Bolsonaro teve os votos que teve porque nós evitamos, a todo custo, olhar para os nossos erros e mudar a forma de fazer política. Ficamos presos a nomes intocáveis, mesmo quando demonstraram sua falibilidade. Adotamos o método mais podre de conquistar maioria no congresso e nas assembleias legislativas, por termos preferido o poder à virtude. Corrompemos os veículos de mídia com anúncios de empresas estatais até o ponto em que eles passaram a depender do Estado. E expulsamos, ou levamos ao ostracismo, todas as vozes críticas dentro da esquerda.

O que fizemos com o Cristóvão Buarque?

O que fizemos com o Gabeira?

O que fizemos com a Marina?

O que fizemos com o Hélio Bicudo?

O que fizemos com tantos outros menores do que eles?

Os que não concordavam com a nossa vaca sagrada, os que criticavam os métodos das cúpulas partidárias, foram calados ou tiveram que abandonar a esquerda para continuar tendo voz.

Enquanto isso, enganávamo-nos com os sucessos eleitorais, e nos tornamos um movimento da elite política. Perdemos a capacidade de nos comunicar com o povo, com as classes médias, com o cidadão que trabalha 10h por dia, e passamos a nos iludir com a crença na ideia de que toda mobilização popular deve ser estruturada de cima para baixo.

A própria decisão de lançar o Lula e o Haddad como candidatos mostra que não aprendemos nada com nossos erros – ou, o que é pior, que nem percebemos que estamos errando, e colocamos a culpa nos outros. Onde estão as convenções partidárias lindas dos anos 80? Onde estão as correntes e tendências lançando contra-pré-candidatos? Onde estão os debates internos? Quando foi que o partido passou a ter um dono?

Em suma: as esquerdas envelheceram, enriqueceram e se esqueceram de suas origens.

O que nos restou foi a criação de slogans que repetimos e repetimos até que passamos a acreditar neles. Só que esses slogans não pegam no povo, porque não correspondem ao que o povo vivencia. Não adianta chamar o eleitor do Bolsonaro de racista, quando esse eleitor é negro e decidiu que não vota nunca mais no PT. Não adianta falar que mulher não vota no Bolsonaro para a mulher que decidiu não votar no PT de jeito nenhum.

Não, amigos, o Brasil não tem 47% de machistas, homofóbicos e racistas. Nós chamarmos os eleitores do Bolsonaro disso tudo não vai resolver nada, porque o xingamento não vai pegar. O eleitor médio do cara não é nada disso. Ele só não quer mais que o país seja governado por um partido que tem um dono.

E não, não está havendo uma disputa entre barbárie e civilização. O bárbaro não disputa eleições. (Ah, o Hitler disputou etc. Você já leu o Mein Kampf? Eu já. Está tudo lá, já em 1925. Desculpe, amigo, mas piadas e frases imbecis NÃO SÃO o Mein Kampf. Onde está a sua capacidade hermenêutica?).

Está havendo uma onda Bolsonaro, mas poderia ser uma onda de qualquer outro candidato anti-PT. Eu suspeito que o Bolsonaro só surfa nessa onda sozinho porque é o mais antipetista de todos.

E a culpa dessa onda ter surgido é nossa, exclusivamente nossa. Não somente é nossa, como continuará sendo até que consigamos fazer uma verdadeira autocrítica e trazer de volta para nosso campo (e para os nossos partidos) uma prática verdadeiramente democrática, que é algo que perdemos há mais de vinte anos. Falamos tanto na defesa da democracia, mas não praticamos a democracia em nossa própria casa. Será que nós esquecemos o seu significado e transformamos também a democracia em um mero slogan político, em que o que é nosso é automaticamente democrático e o que é do outro é automaticamente fascista?

É hora de utilizar menos as vísceras e mais o cérebro, amigos. E slogans falam à bile, não à razão.

Um post libertador

Este post da Soninha Francine é para ser lido despido de pré-conceitos.

Ela declara seu voto em Haddad. Mas que surpresa! dirão alguns, diria eu. Afinal, ela saiu do PT, mas o PT não saiu dela.

A crítica que ela faz ao PT, no entanto, somente é possível para aqueles que viveram o partido por dentro. Acerta em cada um e em todos os pontos. E, mesmo assim, vai votar em Haddad. Por que?

Ela explica: “pelas ideias que defende, pelas políticas públicas que ameaça, pela falta de experiência de governo”, Bolsonaro é um candidato pior do que Haddad.

Quer dizer, mesmo depois de ser capaz de fazer críticas mais ácidas do que seriam capazes os mais ferozes opositores do partido, Soninha declara seu voto em Haddad, por considerá-lo uma opção menos pior que Bolsonaro.

Confesso que este post me libertou.

Eu posso declarar meu voto em Bolsonaro, mesmo considerando que várias de suas falas me incomodam profundamente. Posso votar em Bolsonaro, pelo simples fato de considerá-lo um candidato menos pior do que Haddad.

Há, no debate de hoje, uma incrível incapacidade de se colocar no sapato do outro, avaliar o mundo com os olhos do outro, com a sua escala de valores. Em uma sociedade democrática, todos deveriam ter o direito de colocar suas opiniões sem serem ofendidos. Neste tipo de sociedade, as questões são resolvidas no voto, e amparadas em instituições que garantem voz a todos, maiorias e minorias.

Dadas as minhas posições firmemente anti-esquerda, muitos dos seguidores desta página são bolsonaristas, e podem achar meu voto cheio de reticências em Bolsonaro uma bobagem. Inclusive, podem achar este texto da Soninha um embuste, coisa de petista enrustido. Paciência.

Também tenho amigos que não votam em Bolsonaro de jeito nenhum. Acham sua eleição um verdadeiro perigo para as minorias, que estariam à mercê da vingança das maiorias. Além disso, acreditam que sua eleição pode sim significar o fim das liberdades democráticas. Esta é a leitura que fazem de suas declarações, e das declarações de seus seguidores mais fieis. Estes meus amigos podem ver este voto em Bolsonaro como um aval a essas ideias. Paciência.

Por fim, corro o risco de ser chamado de “isentão”, ou “inteligentinho”, termos pejorativos usados para designar o cara que não toma posição, só fica analisando e dando razão para todos os lados. Paciência também.

Nesta eleição, o eleitor de Bolsonaro, o eleitor de Haddad, o cara que não escolhe um ou outro, todos enfim, são incompreendidos pelo “outro lado”. “Como pode?” é a frase que traduz essa incompreensão. Este post da Soninha mostra que é possível compreender.

Voto Bolsonaro porque, apesar de tudo, acho que mais um governo do PT seria pior do que um governo Bolsonaro. Mais instável, mais perigoso para a democracia, neste momento da história. Acho que isso é mais importante do que suas posturas em relação às minorias, que parecem mais papo de bar do que algo a se transformar em política de estado. Esta é uma avaliação pessoal, que espero seja respeitada.

Por fim, o post da Soninha nota que se pode votar em alguém e fazer oposição a este alguém ao mesmo tempo. Me fez lembrar um tuíte do filósofo da Twitter, Fried Hardt (@FriedHardt – sigam, vale a pena), que deveria ser o mantra de todos os cidadãos que querem um país melhor. Vou citar de memória:

“Todo cidadão deveria seguir somente duas regras:

1) Fazer oposição ao governante de plantão e

2) Não agir durante as eleições de modo a impedir o cumprimento da primeira regra”


LER ATÉ O FIM pfv -> Eu saí do PT porque descobri, em resumo do resumo, que o partido dizia uma coisa e fazia outra. Não era um ou outro membro que se desviava de nosso propósito original, como eu pensei por um tempo, um problema a que qualquer reunião de pessoas está sujeita: a instituição estava desvirtuada. Eram as lideranças do partido que comandavam a zorra toda. Nós forjávamos mentiras nas reuniões da bancada: “Vamos dizer que o prefeito vai privatizar a Saúde”. Eu descobri que oposição também mente… Antes de ser vereadora achava que isso era um defeito que só ocorria em governos. O PT mentiu e mente sobre o que fez, sobre o que os outros fizeram e sobre o que não fizeram. Uma tristeza. Semeou o ódio em meio ao discurso do “nós somos do amor, eles são do Mal!”. Tudo que fosse contra o PT era “contra os pobres”, “contra as conquistas sociais”, coisa de “ricos que não querem perder seus privilégios”. Muita gente que não é elitista, machista, racista, de direita foi chamada assim – e parte dessas pessoas começou a detestar a esquerda por causa disso… Se ser contra Black Blocs quebrando tudo é ser de direita, então eu sou de direita. Se achar absurdo alguém cagar na foto de uma pessoa é ser de direita, sou de direita. Se achar que o Lula cometeu crimes e merece ser preso é ser de direita, ok. Etc etc etc.

O PT cometeu erros horríveis no governo e na oposição. Fomos os radicais intransigentes, que não nos misturávamos com ninguém, não queríamos nada menos que a revolução. Para depois entrar no governo e fazermos os piores acordos com os piores tipos e montarmos um esquema de corrupção para benefício próprio e perpetuação no poder que não teve igual na história deste país.

Nesse nosso radicalismo de oposição, nunca aceitamos compor com o “menos pior”, o mais ao centro, o mais moderado, o mais democrático. Era tudo ou nada. Apoiar um candidato na eleição indireta contra o candidato dos militares, porque essa era a única maneira de derrotá-los? NÃO, é tudo igual, é tudo farinha do mesmo saco, o vice é o Sarney porque vai continuar tudo igual.

Eu saí do PT… e o PT saiu de mim sim. Eu sou de esquerda e não acho que o PT representa a esquerda (Eike, Pasadena, Sergio Cabral, Odebrecht… Nada a ver com socialismo e inclusão). Eu sou defensora dos Direitos Humanos e o PT fez muito mais o discurso do que a verdadeira garantia dos Direitos Humanos (José Eduardo Cardoso, Ministro da Justiça: “Se eu fosse para uma cadeia no Brasil, me matava”). Eu defendo direitos LGBT e os maiores avanços institucionais nos últimos anos vieram via Judiciário, ou aconteceram em governos tucanos (juro). Eu milito por moradia digna e vejo que o Minha Casa foi uma farsa que movimentou o mercado imobiliário para a classe média mas não fez xongas por milhões de famílias com renda baixíssima. Eu sou ambientalista e o PT fez aquelas usinas medonhas, e a Transposição do São Francisco. Eu defendo os Direitos das Mulheres e tenho vergonha de algumas declarações do Lula (apedrejar adúlteras é uma questão cultural). Eu defendo a democracia e a Venezuela é uma ditadura abjeta.

Mas como o PT saiu de mim, eu não vou fazer como o PT faria. Eu vou fazer como o Mario Covas, que apoiou a Marta Suplicy contra o Maluf. Mesmo achando o PT horrível em muitas coisas, mesmo achando que a quinta vitória seguida do PT seria um absurdo depois do que foi feito por eles neste país, eu acho que no mano a mano, no par ou ímpar, no esse-ou-aquele, Bolsonaro, pelas ideias que defende, pelas políticas públicas que condena e portanto ameaça, pela absoluta falta de experiência em governar, é uma alternativa pior que o Haddad.

Não acho que os eleitores de Bolsonaro são todos fascistas, racistas, LGBTfóbicos, militaristas, anti-democráticos, falsos moralistas etc. Muita gente decente em todos os sentidos acha que ele vai dar um jeito na bagunça do governo. Eu não acho. Muita gente boa de verdade, trabalhadora, pobre, vítima de violência e discriminação, vítima direta ou indireta de crimes cometidos pelo PT, acha que ser machista etc é o “de menos”, e que ser honesto e fazer um bom governo “compensa” os defeitos “pessoais”. Eu não acho que dá pra separar uma coisa da outra; que dá pra ser um bom líder político é intolerante ao mesmo tempo…

Eu não acho que os que vão votar nulo são alienados ou irresponsáveis. Acho que estão no seu direito legítimo de dizer “nem um nem outro”. “Perdi; sou minoria na urna; sou oposição a qualquer um dos dois”. Não são fascistas envergonhados nem comunistas não assumidos.

Vou votar no Haddad. E se ele ganhar, vou continuar na luta para que o Brasil tenha governos decentes, criticando tudo que tiver que criticar. E se o Bolsonaro ganhar, vou continuar na luta para que o Brasil tenha políticas decentes, criticando tudo que tiver que criticar, defendendo o que precisar defender.

Lutando, por exemplo, para que as pessoas discutam ideias em vez de atacarem as donas das ideias. Pelo direito de pensarem diferente do que eu penso!