Juros altos ou gastos altos?

Não Ciro. Os brasileiros não estão endividados por causa dos juros altos. Os brasileiros estão endividados porque gastam acima da sua renda. Os juros são somente o preço cobrado pela possibilidade de gastar acima da renda.

Os juros são altos? Sim, sem dúvida. No Brasil, os juros são altos porque políticos como Ciro Gomes abusam do populismo, o que acaba cobrando o seu preço ao longo do tempo, na forma de taxas de juros que compensem o risco de se investir em um país regido pela irresponsabilidade.

Os brasileiros precisam pensar muitas vezes antes de gastar acima de sua renda. O preço do dinheiro é alto, e piora a situação muito rapidamente. E para aqueles que ganham pouco e não conseguem viver com sua renda, um conselho: fazer dívidas vai somente piorar a situação.

Tirando dos pobres para dar aos ricos

No final do dia, governar é decidir para onde vão os impostos arrecadados dos cidadãos.

Haddad já avisou que vai tirar dinheiro dos paulistas para beneficiar os servidores estaduais aposentados com maior renda, que tiveram aumento de alíquota de IR na reforma da Previdência estadual.

Se você é servidor estadual de maior renda, vote Haddad.

Só vejo verdades

Notinha de hoje na Coluna do Estadão nos informa que Manuela d’Ávila não gostou nada de um painel em um edifício de Porto Alegre. Chama de “mentiras” o que está lá escrito e vai além: diz que é um crime e pergunta quem é o criminoso que estaria pagando por aquilo.

Manuela d’Ávila foi aquela candidata que se deixou fotografar em uma missa em 2018, quando era candidata a vice-presidente. Aquilo sim era verdade. Mentira é dizer que as esquerdas apoiam a descriminalização do aborto, o desencarceramento, o desarmamento da população, a escolha livre de gênero, a invasão de propriedades improdutivas.

Talvez o único ponto de discussão fosse o apoio à censura. Ditaduras de esquerda e de direita censuram, então trata-se mais de um problema das ditaduras do que das esquerdas. No entanto, o próprio tuíte da ex-deputada é um pedido de censura ao debate político legítimo. Os adversários do presidente o chamam de genocida e golpista, em um discurso político onde procuram situar Bolsonaro em um determinado campo de ideias. Manuela, por outro lado, quer a censura, pois prefere uma missa fake a enfrentar as consequências eleitorais de suas próprias ideias.

Para onde aponta o grande capital

No dia 16/03/2016, o juiz Sérgio Moro levantou o sigilo do grampo no telefone do ex-presidente Lula. Era início de noite, e a Globo News deu o furo de reportagem: Dilma havia prometido enviar o “Bessias” com o termo de posse para evitar a prisão de Lula.

Assisti à curta matéria no escritório, já de saída. Intuindo que aquilo era a gota d’água para a questão do impeachment, decidi ir até a Paulista para sentir o clima. Não havia nenhuma convocação especial, mas a Paulista estava lotada. Uma manifestação espontânea daquele tamanho era tão significativa quanto a manifestação monstro que havia ocorrido três dias antes nas principais cidades brasileiras, mas que tinham sido preparadas cuidadosamente. Naquela quarta não, as pessoas estavam ali simplesmente porque pressentiam o momento da história.

Mas, para mim, o mais significativo daquela noite ainda estava por ocorrer. Encontrava-me em frente ao prédio da FIESP, quando, de repente, a fachada do prédio se iluminou com as cores verde e amarela, cruzada com uma faixa preta com a palavra “IMPEACHMENT” inscrita. Naquele momento, entendi que o jogo estava perdido para Dilma Rousseff.

Voltemos um pouco mais no tempo. Quem tem acesso aos jornais da época, sabe que o golpe de 1964 foi apoiado por todas as forças civis relevantes do país. Empresários, grande imprensa, políticos das mais diversas tendências (de Juscelino a Lacerda) se uniram contra a baderna prometida por Jango. As Forças Armadas se juntaram a um movimento que já existia na sociedade civil.

Voltando a 2016, aquele “IMPEACHMENT” inscrito na fachada da FIESP traduzia o sentimento do grande capital, que precisa de condições mínimas de governabilidade para fazer negócios. Condições essas que Dilma já havia perdido há algum tempo.

E chegamos em 2022. A FIESP e a Febraban assinam um manifesto emprestando solideriedade ao STF, ao TSE e ao processo eleitoral brasileiro.

Assim como em 1964 e 2016, o grande capital se coloca ao lado da estabilidade das instituições, condição sine qua non para fazer negócios. Pouco importa se também assinam o manifesto os suspeitos de sempre, como CUT ou OAB. A FIESP não assinou manifestos #elenao em 2018, mas decidiu assinar este. A sua assinatura neste manifesto equivale ao “IMPEACHMENT” na fachada do seu prédio. Assim como Dilma estava sozinha com os petistas, Bolsonaro está sozinho com seus seguidores.

Como último esclarecimento: a análise acima não pretende ser um veredito moral, sobre o que é certo ou errado. Trata-se apenas de uma leitura das forças que estão em jogo. Como disse Rodrigo Pacheco ontem, no dia 1o de janeiro de 2023, o Congresso Nacional dará posse ao presidente eleito nas urnas eletrônicas. A assinatura da FIESP a este manifesto não deixa margem a dúvidas quanto a isso.

O que dá para fazer com R$ 400 milhões?

O que dá para fazer com R$ 400 milhões? Muita coisa. Mas o governo de São Paulo decidiu usar R$ 400 milhões para subsidiar a tarifa de pedágio. Ou seja, todos os paulistas, usando ou não as rodovias, pagarão para que uma minoria o faça. A única lógica por trás dessa decisão é populista: benefícios aparentes para um grupo bem definido, com custos não aparentes para a maioria, que nem sabe que o dinheiro que falta para necessidades mais urgentes foi usado para ganhar votos (ou não perdê-los) em ano eleitoral.

Rodrigo Garcia, o representante do PSDB nessa eleição, foi o autor dessa manobra. O PSDB gosta de posar como o partido da racionalidade econômica, aquele que pensa o Brasil de gerações à frente, não para o ciclo eleitoral. Na hora da onça beber água, são todos iguais.

Rodrigo Maia, quem diria, acabou no Irajá

Há algumas semanas, li uma entrevista do consultor político Alberto Almeida, defendendo a tese de que uma terceira via, se quisesse ter alguma chance, deveria atacar Bolsonaro, para pescar os votos de anti-bolsonaristas que vão votar em Lula já no primeiro turno. Para quem não lembra, Alberto Almeida era um consultor muito requisitado pelo mercado financeiro, até que foi pego em um dos grampos de Lula, dando “conselhos” ao ex-presidente. A sua, digamos, isenção, ficou comprometida. Quando li a entrevista, pensei: “Alberto Almeida não mudou nada”.

E eis que Rodrigo Maia, o ex-todo poderoso presidente da Câmara dos deputados, faz a mesma análise: atacar Lula seria um erro, e foi por isso que a terceira via não decolou. Como desta vez a análise veio de um político experimentado, resolvi revisitar o meu ponto de vista.

Já defendi aqui várias vezes que, se um candidato quisesse ter alguma chance de chegar ao 2o turno, deveria pescar seus votos no anti-petismo, não no anti-bolsonarismo. A tese é simples: o PT está sempre no 2o turno de qualquer eleição presidencial. Foi assim desde 1989. Foi assim em 2018, com Lula preso e uma nulidade como Haddad como candidato. Portanto, seria perda de tempo tentar tirar Lula do 2o turno. O campo aberto é o do antipetismo, hoje ocupado por Bolsonaro. O anti-bolsonarismo é de ocasião, o antipetismo é orgânico.

Coincidência ou não, os dois únicos candidatos que saíram do traço estatístico nas pesquisas, Ciro e Moro, são bastante críticos ao petismo e a Lula. Rodrigo Maia crítica Ciro justamente por isso. Diz que o candidato do PDT “não chegará a lugar nenhum” fazendo isso. Bem, ele já chegou bem mais longe do que outros candidatos da “terceira via” que passaram a mão na cabeça de Lula.

Maia também diz que o candidato da “terceira via” deveria conquistar o eleitor que votou em Bolsonaro e se arrependeu. Bem, certamente não é batendo fofo em Lula que vai conquistar o eleitor bolsonarista arrependido. O que Maia descreve é um conjunto vazio, o que não deixa de ser uma explicação involuntária de porque a “terceira via” não decolou.

A nota cômica vai para o resultado desejado dessa “tática” de conjunto vazio: um candidato de “centro-direita” que isolasse a extrema direita em seu nicho. Em 2018, a “centro-direita” recebeu 7,5% dos votos, 5% de Alckmin e 2,5% de Amoedo. Não foi por falta de opções, portanto, que o antipetismo elegeu Bolsonaro. Hoje, a “centro-direita” está sentada no colo de Lula (Alckmin é seu vice!), e Maia, assim como o “consultor” Alberto Almeida, mal consegue disfarçar o seu papel de quinta-coluna do petismo. De anti-petistas na praça sobraram Bolsonaro e Ciro Gomes, não por coincidência os únicos candidatos competitivos além de Lula.

Rodrigo Maia já foi um dos grandes nomes do jogo político nacional. Neste ano, nem candidato vai ser. Veio com uma conversa de que não quer ser eleito para ficar na planície na Câmara dos Deputados. A verdade é que tem medo de não ser eleito. Rodrigo Maia, quem diria, acabou no Irajá.

Burocracia dispensável

Tenho lido frequentemente comentários na seguinte linha: Bolsonaro só não ganha a eleição se as urnas forem fraudadas. O próprio Bolsonaro incentiva esse tipo de interpretação, com sua campanha sobre a fragilidade das urnas eletrônicas.

Essa convicção de que ”Bolsonaro só perde com fraude” nasce de “evidências” como as motociatas, o fato de Lula “não poder sair para eventos públicos”, ou “os eventos públicos de Lula estarem esvaziados”, ou as multidões que cantam o nome de Bolsonaro sempre que ele aparece em público, de acordo com vídeos estrategicamente compartilhados. As pesquisas que dão vantagem a Lula fariam parte da “grande fraude”. Toda a mídia e institutos de pesquisa estariam comprados pelos bilhões roubados pelo PT, que teria recursos infinitos para colocar o sistema político, empresarial e midiático no bolso.

Nessa linha de raciocínio, pergunto: para que então termos eleições? Para eleger o presidente, bastaria medir o número de motos em motociatas, o número de aparições em vídeos com multidões ovacionando, ou o número de pessoas ocupando a Paulista em showmícios. Teríamos, assim, uma medida mais honesta e objetiva de quem o povo quer como presidente da república.

A convicção de que “Bolsonaro só perde com fraude” torna as eleições absolutamente dispensáveis, uma perda de tempo. Trata-se, na verdade, do tipo de convicção que não conversa com o processo democrático. Para essas pessoas, é simplesmente inadmissível que seu político predileto não tenha a maioria dos votos. No seu universo mental, somente a fraude explica um resultado adverso. Eleições, nesse contexto, não passam de uma burocracia dispensável.

O ponto fraco de Lula

Anne Krueger, além de ter ocupado cargos importantes em instituições multilaterais, é analista respeitada nos meios acadêmico e financeiro. Em artigo no Valor de Hoje, Krueger descreve as agruras vividas pelo Sri Lanka, um país que adotou varia políticas inconsistentes e agora colhe os frutos: inflação, recessão, desabastecimento e instabilidade política. A tese de Krueger é que os países devem corrigir o mais rapidamente possível as inconsistências de suas políticas. Adiar o remédio só piora a doença, exigindo remédios ainda mais amargos mais à frente. Nada que já não saibamos.

Mas o que me chamou a atenção foi o último parágrafo de seu artigo. Anne Krueger coloca o Brasil de 2003 como exemplo positivo de país que fez a lição de casa e colheu bons frutos depois. Quem era o presidente?

Paul Volcker, em entrevista de 2008 que tive a oportunidade de resgatar no último artigo da série sobre a economia na era PT, afirmou exatamente a mesma coisa, que o que o Brasil havia feito desde 2003 era notável.

Tenho ouvido de várias casas de análise gringas que a imagem de Lula na comunidade financeira internacional é positiva. Seu governo, independentemente das condições externas favoráveis, é lembrado como responsável. Anne Krueger e Paul Volcker, que não podem ser acusados de “esquerdistas”, comungam dessa visão.

Aqui não faço julgamento, só constato. É um fato que a imagem de Lula é positiva para o investidor estrangeiro. Dilma é a grande ausente dessas análises, é como se não existisse, ou como se não tivesse nada a ver com Lula.

E, por incrível que pareça, a campanha de Bolsonaro também esqueceu Dilma (pelo menos até o momento) para se perder em uma discussão sem chance de vitória a respeito das urnas eletrônicas. Todas as pesquisas mostram que os temas econômicos (inflação e desemprego) são muito mais importantes hoje do que corrupção. No entanto, ao invés de atacar os pontos fracos na economia do PT, Bolsonaro fica insistindo na tese do “ladrão”, quando a corrupção não tem o mesmo apelo de 4 anos atrás.

Dilma é o ponto fraco do PT, não Curitiba. Enquanto isso, Lula nada de braçada, surfando na onda do seu governo de 20 anos atrás.

O Brasil como ele é

O título da coluna poderia ser “O Brasil como ele é, não como a narrativa do ‘bem contra o mal’ gostaria que ele fosse”. Mas a colunista foi mais modesta, e preferiu um título que mostra apenas parcialmente, quase por pudor, toda a riqueza de sua coluna.

Primeiro, a pandemia. Eduardo Braga (PMDB) é candidato ao governo do estado, enquanto Omar Aziz (PSD) é candidato ao senado. Ambos, como sabemos, foram expoentes da CPI da Covid. Pois bem. Braga está em terceiro lugar nas intenções de voto, atrás do atual governador, o bolsonarista Wilson Dias (União Brasil) e do ex-governador Amazonino Mendes (Cidadania). Aziz, por sua vez, está atrás de Arthur Virgílio (PSDB) na corrida pela única vaga ao Senado.

Há duas hipóteses, levantadas por um analista político local, para esses desempenhos sofríveis até o momento: 1) o tema da pandemia seria muito dolorido para a população local e, portanto, não seria de bom tom explorar o assunto e 2) os governadores foram poupados pela CPI, que centrou fogo no governo federal. Dessa forma, o atual governador teria saído ileso. Eu acrescentaria uma terceira hipótese, de alguma forma ligada à primeira: o uso político da pandemia não pegou bem junto a uma população que sofreu na pele seus efeitos. São apenas hipóteses, claro.

Mas existem algumas pérolas escondidas na coluna, oferecidas pelo analista entrevistado, e que merecem o devido destaque.

– Bolsonaro não perde votos por conta da pandemia, mas porque reduziu geral o IPI, o que prejudicou a Zona Franca de Manaus;

– Os ribeirinhos acham (“equivocadamente”, segundo o analista) que os indígenas atrapalham o desenvolvimento econômico da região. Quem acompanha a saga do linhão Manaus-Boa Vista sabe o quão “equivocada” é essa visão;

– A defesa da Amazônia ganha votos no eixo Rio-São Paulo-Brasilia, mas não no Amazonas;

– O assassinato de Dom Phillips e Bruno Pereira tem influência zero nas eleições locais.

Pelo visto, a população do Amazonas está mais preocupada, vejam só, com o seu dia-a-dia, do que com pautas importadas. O analista local acha mais provável a reeleição do atual governador. Será interessante conferir.

Haddad seria o novo Palocci?

Quando Lula foi eleito pela primeira vez, surpreendeu o mercado e seu próprio partido ao escolher o ex-prefeito de Ribeirão Preto, o médico Antônio Palocci, para o ”pior emprego do mundo”, no dizer de Thomas Traumann. Lembro-me como se fosse hoje, um colega analista de crédito, muito experiente, dizendo-me que Palocci havia feito um excelente trabalho na área de finanças públicas à frente da prefeitura da cidade do interior paulista, e que o mercado iria se surpreender positivamente com ele. Dito e feito.

Ao contrário do discurso, Lula não escolheu um político com o objetivo de dialogar com o mundo político e fazer avançar a sua agenda no Congresso. Na verdade, com exceção da reforma da Previdência dos servidores, aprovada no fim de 2003, a agenda parlamentar do primeiro governo Lula na área econômica foi bem esquálida. Palocci foi escolhido, na verdade, para ajudar a segurar a bronca dentro do próprio PT. O ex-prefeito servia como anteparo para as críticas dos petistas-raiz, que queriam uma política econômica heterodoxa. Passou seus três anos à frente da pasta debaixo de uma chuva de críticas, até que foi abalroado pelo escândalo do caseiro. Em conjunto com o Mensalão, essa foi a senha para que a ala “desenvolvimentista” do partido tomasse conta, e Guido Mantega assumisse o leme da economia. O resto é história.

Haddad faria esse papel? Pouco provável. Haddad, ideologicamente falando, está mais para Mantega do que para Palocci. Além disso, 20 anos, um Petrolão e uma Dilma depois, será bem mais difícil atrair nomes como Joaquim Levy, Marcos Lisboa ou Alexandre Schartzman para a sua equipe. O programa de governo do PT está tão claro quanto a luz do dia em relação aos seus pendores desenvolvimentistas, e não há uma Carta aos Brasileiros para mitigá-lo. Haddad seria o nome perfeito para implementar esse programa. A semelhança com Palocci se reduz ao fato de os dois serem políticos. E só.

Como nota de rodapé, o nome de Haddad ser ventilado como futuro ministro da Fazenda mostra o grau de convicção dos petistas sobre as reais chances de o ex-prefeito ser eleito governador de São Paulo.