Editorial do Estadão reflete a perplexidade liberal (no sentido americano do termo) diante do favoritismo de Donald Trump pela indicação de seu partido e como o mais competitivo dos candidatos diante de seu oponente democrata.
Em determinado trecho, o editorialista pergunta como pode um sujeito ameaçado de prisão em vários processos, ainda assim, receber a preferência da maioria de seus correligionários. Eu tenho uma hipótese, que deriva não da observação do cenário americano, mas de algo muito mais próximo: a candidatura Lula.
Lula viveu uma situação ainda pior que Trump. O atual presidente não estava ameaçado por processos, ele foi de fato processado, condenado e preso. Viveu seu exílio em Curitiba durante quase dois anos, até ter seus processos anulados por um problema de CEP dó juiz que o condenou em primeira instância. A confirmação da sentença por três desembargadores e a revisão do processo pelo STJ, do ponto de vista judicial, não valeram nada. No entanto, do ponto de vista político, deveriam significar a morte política de Lula. Não só não significaram, como Lula se reelegeu. Esse fato pode nos ajudar a entender porque Trump ainda é, apesar de tudo, o favorito dos republicanos.
Podemos dividir os eleitores de Lula em três categorias: 1) aqueles que acham que ele foi vítima de uma armação, 2) aqueles que sabem que ele cometeu crimes, mas seria um mal menor para o país e 3) aqueles que nem sabem direito o que aconteceu, mas gostam do Lula pai dos pobres. Assim, explica-se como alguém que “violou escandalosamente diversas leis no exercício da presidência”, no dizer do editorialista, consegue se eleger presidente da República. Os republicanos também se dividem nessas três categorias, sendo que, na última, podemos substituir “pai dos pobres” por “make America great again”.
Costuma-se, com razão, comparar Bolsonaro com Trump, com base na posição dentro do espectro político. Mas, do ponto de vista de sobrevivência política mesmo enfrentando processos e cadeia, é Lula o modelo para entender os eleitores de Trump.