O capitalismo fofinho

Lido profissionalmente com investimentos há mais de 25 anos. Coisa de 15 anos atrás, viraram moda os chamados “fundos de sustentabilidade empresarial”. Por “sustentabilidade empresarial” entende-se a “sustentabilidade corporativa, baseada em eficiência econômica, equilíbrio ambiental, justiça social e governança corporativa”, segunda a definição da BM&F, que criou em 2005 um índice chamado ISE para acompanhar o desempenho de empresas “fofinhas”, no dizer da manchete do Valor Econômico.

Pois bem. O índice ISE rendeu 10,5% ao ano desde a sua criação. Nesse mesmo período, o IBrX, que é um índice amplo que reflete o desempenho da bolsa como um todo, rendeu 11,8% ao ano. Como o IBrX reúne tanto empresas fofinhas quanto as maldosas, podemos concluir que estas últimas renderam bem mais nesse período. O resultado podemos ver 14 anos depois: os fundos de Sustentabilidade Empresarial são marginais na indústria de fundos. Aposto que você nunca tinha ouvido falar.

Hoje esse movimento voltou com tudo, na sigla ESG (Environmental, Social, Governance). No mercado internacional de investimentos há uma cobrança cada vez maior, por parte de investidores institucionais, pela aderência aos princípios ESG. Na avaliação de investimentos, não conta somente a performance, mas também esta aderência.

Falta, no entanto, combinar com os russos. No caso, os investidores finais, que são as pessoas físicas que vão, no final do dia, receber menos pelos seus investimentos em nome dos princípios ESG. Há uma lenda urbana que diz que as empresas politicamente corretas têm rentabilidade maior no longo prazo. Não é o que vimos aqui no Brasil com o ISE e não é o que mostram os estudos acadêmicos a respeito. A comparação com alimentação orgânica é irresistível: a “consciência social” custa um dinheiro que poucos podem pagar.

Claro que tudo pode não passar de um discurso sob medida para roubar as bandeiras da esquerda antes que esta tome o poder e implemente mudanças que não sejam meramente cosméticas. Os próprios CEOs alertam para essa possibilidade. E é absolutamente esperado que seja isso mesmo. Afinal, por mais que a consciência social pese, é ao anúncio de lucros que os preços das ações reagem. Os investidores continuam agindo com os bolsos, ainda que o discurso seja politicamente correto.

O artigo diz que Milton Friedman teve um ano difícil, pois supostamente as empresas estariam buscando outros paradigmas além da geração de lucros. Eu diria que, fosse Milton Friedman vivo, estaria dizendo “me deem um almoço de graça, que eu lhes darei um capitalismo sem lucros”.

Grande descoberta!

Eu também, se o preço de um Porsche fosse igual ao da minha Doblô, compraria o Porsche.

Não é que as pessoas não estejam DISPOSTAS a gastar mais. É que as pessoas NÃO TEM DINHEIRO para pagar a mais.

Na linha do post que coloquei aqui ontem, a indústria politicamente correta alimentaria a elite e mataria de fome 99% da população.