Melhor destino para o meu dinheiro

Sempre pensei na Petrobras como uma empresa que poderia dar bom retorno para o acionista se fosse bem gerida. Dependeria apenas do governante de plantão.

Esta crise me fez abrir os olhos (ainda que tardiamente) e descobrir que não tem jeito da Petrobras ser bem gerida. Porque o problema não é o governante de plantão. O problema é o povo brasileiro.

Tenho participado de várias discussões com pessoas esclarecidas e inteligentes, que estão convencidas de que a Petrobras deveria servir os “interesses da nação”, no caso, subsidiar os combustíveis, nem que seja “temporariamente”. Afinal, nas palavras de Ciro Gomes, se não é pra isso que serve uma estatal, pra que serve então?

Assim, o problema não é o governo, mas a mentalidade do povo. A Petrobras nunca vai dar um retorno decente para o acionista em prazos mais longos, pois seu objetivo é ser uma “empresa estatal”.

Se é para ajudar o País, tenho destino melhor para o meu dinheiro. A Petrobras nunca mais vai ver um tostão meu.

O subdesenvolvimento está na cabeça dos brasileiros

Pesquisa publicada hoje no Valor.

72% dos pesquisados consideram que as principais empresas do país devem ficar nas mãos do Estado ou não têm uma opinião forte a respeito. Isso depois do Petrolão e das inúmeras demonstrações da incompetência do Estado-empresário.

O subdesenvolvimento não é acidental. Está na cabeça dos cidadãos.

Então…

Entrevista do novo presidente dos Correios, indicado por Gilberto Kassab.

Sabe aquela história de racionalização dos Correios, com fechamento de agências deficitárias? Então…

Pode acreditar

Falou o deputado do partido que deixou a Eletrobras com prejuízo de mais de R$ 20 bilhões.

Sim amiguinho, a Eletrobras na mão do estado dá lucro sim, pode acreditar.

Pode isso, Arnaldo?

Essa história é absurda, ouve só.

A equipe de advogados da Eletrobrás vai levar para casa uma bolada de R$100 milhões porque intermediou o acordo entre a empresa e a Eletropaulo. Ou seja, vão faturar como se tivessem corrido o risco de ter uma empresa, mas mantendo o conforto de seus empregos em uma empresa estatal.

Pode isso, Arnaldo?

Empresas muito importantes para o país

Debate na Globo News sobre o afastamento dos vice-presidentes da Caixa.

Indignação de todos.

Um dos jornalistas aponta que isso não pode acontecer com uma empresa tão importante para a economia brasileira. Acenos positivos com a cabeça dos outros participantes do programa.

Assim como eles, a avassaladora maioria dos brasileiros, de todas as idades e níveis de renda, pensa o mesmo: a Caixa é uma empresa muito importante para o Brasil.

O ideal, portanto, seria que as estatais fossem tocadas por técnicos de reputação ilibada, mas que continuassem a implementar a “política social” do governo.

Não percebem a contradição em termos: a “política social” é o que quebra as estatais ao longo do tempo. A roubalheira é apenas um efeito colateral, com alcance limitado. Enquanto a roubalheira desvia milhões, a “política social” faz a estatal sangrar em bilhões. Foi o que aconteceu com a Petrobras e o que está acontecendo com a Caixa agora.

Políticos ladrões ganham as manchetes e inflamam os debates, mas o que acaba com o Brasil mesmo é essa crença de que as estatais são “empresas muito importantes para o país”.

A privatização é a única solução

Lembro de quando levei uma delegação japonesa para uma reunião com um diretor do BC. Detalhe: esse diretor havia sido meu colega de trabalho durante muitos anos, tínhamos alguma intimidade. Pois bem: a reunião foi acompanhada o tempo inteiro por uma funcionária, que anotava tudo o que estava sendo falado.

Obviamente, eu não tive nada a ver com a indicação deste meu colega para a diretoria do BC. E ele é um sujeito extremamente ético, de modo que não passaria informações confidenciais nem se tivéssemos nos encontrado em um depósito de bebidas em Brasília.

Assim, a diligência de um funcionário que acompanha as reuniões oficiais é supérfluo para quem é honesto (ainda que necessário para salvaguardar as aparências) e inútil para quem é bandido, pois informações sigilosas e tráfico de influência podem ser arranjados fora de reuniões formais.

A única solução para o problema da influência política na Caixa é sua privatização. Essa coisa de “governança das estatais” é conversa de quem quer manter tudo como está.

Prefiro a minha parte em dinheiro

Em artigo no Valor de hoje, o presidente do IPEA saúda “A Revolução Silenciosa da Governança das Estatais”. Seu ponto é que, agora, será muito mais difícil fazer rapinagem nas estatais. Ou, em uma versão mais benevolente, usar as estatais para fins políticos.

É óbvio ululante que a privatização é a medida mais eficaz para o saneamento das estatais. Mesmo porque, são tantas as amarras para se evitar a rapinagem, que a simples existência da estatal perde o seu sentido econômico.

O presidente do IPEA até reconhece isso no artigo, ao dizer que “a privatização das estatais traz maior transparência, equivalência e efetividade no pagamento de tributos e accountability das suas atividades”. Mas o sujeito não resiste e acrescenta: “No entanto, em alguns casos, manter empresas controladas pelo Estado é relevante, em razão da natureza essencialmente social dos serviços ofertados, típicos de Estado”.

Bem, não consigo pensar em nada com mais “natureza essencialmente social” do que alimentação, saúde, educação e segurança pública. Esses últimos três estão na mão do Estado, e são o descalabro conhecido. E me recuso a imaginar os efeitos da existência de uma grande estatal de alimentação.

Bancos, petróleo, satélite artificial e uma grande lista de etceteras não parece cumprir a “natureza essencialmente social” para justificar a existência de estatais. Mas o presidente do IPEA encerra o artigo justificando tudo: segundo ele, “está-se construindo um novo Brasil por meio do capitalismo democrático de mercado”. Como se “a nova governança das estatais” estivesse finalmente tirando essas estrovengas das mãos dos políticos e devolvendo-as para o povo.

Prefiro a minha parte em dinheiro mesmo.

Bem feito

Você, que é funcionário ou aposentado da Caixa ou da Petrobras, e que vai ter desconto no contracheque para pagar o rombo dos seus respectivos fundos de pensão, duas observações:

1) Se você é a favor da privatização, faça-se ouvir, porque a conta, no final, chega pra todo mundo.

2) Se você é contra a privatização, bem feito.