FHC, o PT e o inferno

FHC mandando o PT para o inferno, em entrevista hoje no Estadão.

Isso tem história.

Há longínquos 29 anos, Mário Covas subiu no palanque de Lula, para apoiá-lo contra Collor. Era a aliança daqueles que fizeram oposição ao regime militar.

O tempo passou e Fernando Henrique elegeu-se presidente. Enfrentou, desde o início, feroz oposição do PT, incluindo 4 pedidos de impeachment patrocinados pelo partido. Isso não impediu que FHC passasse a faixa presidencial com incontido júbilo para o seu oponente, em 2002. Dizem, inclusive, que Lula era o seu candidato “in pectore” naquelas eleições.

Aparentemente, FHC viu aquela oposição como parte do jogo político, algo legítimo em uma democracia. Contava, inclusive, com interlocutores no partido, que o ajudavam a fazer alguma contraposição à sanha predatória de seus aliados do então Centrão, sempre ele.

Lula não esperou recolherem as sobras da festa da posse, para iniciar a sua peroração sobre a “herança maldita” do governo FHC. Passou seus dois mandatos amaldiçoando o PSDB e FHC pelos males do país. O PSDB virou a representação do “inimigo” a ser combatido.

Mesmo assim, FHC sempre poupou o PT, apesar de reconhecer sua deslealdade. No mensalão, foi um dos artífices do movimento anti-impeachment de Lula. E suas declarações sempre foram no sentido de colocar “panos quentes”.

FHC é um homem de esquerda. Ele nunca escondeu isso de ninguém. Mandar o PT para o inferno por estarem tentando coagi-lo moralmente é um passo gigantesco por vir de quem veio. Significa que, finalmente, o PT está só. Só com sua arrogância e seu projeto hegemônico de poder. Só com seu discurso excludente. Só com suas práticas anti-democráticas.

Não importa se FHC vai apertar o 13 na cabine de votação. Isso pertence à sua consciência e somente a ela. O que importa para o homem público FHC, é que ele mandou o PT para o inferno. Antes tarde do que nunca.

Saldão do 1o dia de campanha no 2o turno

Saldão do 1o dia de campanha no 2o turno:

– Haddad foi a Curitiba, receber novas orientações de seu chefe. Levou uma bronca, porque é claro que não deveria estar ali, aquilo seria visto como um radicalismo, como ele não sabia disso? Foi dispensado de novas visitas, e orientado a “amaciar” alguns pontos do seu Programa de Governo, como uma nova constituinte. Haddad, que estava pouco à vontade em seu figurino radical, vai poder finalmente despir a fantasia e assumir toda a moderação que Deus lhe deu. (Deus não, que ele é ateu. Lula.)

– FHC declarou sua neutralidade. Nada que resista ao Haddad “social-democrata” que se apresentou na entrevista ao JN.

– Bolsonaro recebeu apoios políticos: Ana Amélia, tentando reconstruir suas pontes com o PP do RS, Amazonino Mendes e João Doria, procurando surfar na popularidade do ex-capitão no 2o turno de seus respectivos estados. O caso de Amazonino Mendes é interessante: é do PDT, mesmo partido de Ciro, e no Amazonas a disputa foi muito igual entre Bolsonaro e Haddad. Ou seja, não teria motivo para não apoiar Haddad. No caso de Doria, o amor não foi correspondido: Bolsonaro disse que será neutro na disputa paulista.

– Haddad também recebeu apoio político. De Boulos. […] Não, Haddad ainda não recebeu apoio político.

– Bolsonaro mesmo não fez nada, a não ser a entrevista no JN. Deu um puxão de orelhas ao vivo e em cores no General Mourão por suas declarações desastradas. Só faltou dizer: “Mourão, aprende com a Manu D’Ávila, fica calado no canto aí”.

– Um capoeirista petista foi morto por um maluco bolsonarista. Foi facada. Haddad, provavelmente, já deve estar pensando em um estatuto do desarmamento envolvendo armas brancas.

FHC, vai catar coquinho

FHC está procurando costurar uma união dos candidatos “não-extremistas”.

FHC está chegando um pouco atrasado no baile.

Há dois anos, quando o PT começou sua campanha internacional de achincalhamento das instituições brasileiras, chamando o impeachment de golpe, FHC era um dos poucos brasileiros com estatura para se opor a este movimento, defendendo a legalidade do impeachment através de artigos em grandes jornais, palestras no exterior e conversas com chefes de estado.

Há um ano, quando o PT começou sua campanha internacional de achincalhamento do judiciário brasileiro, na medida em que ficava claro que o destino de Lula era a cadeia, FHC era um dos poucos brasileiros com estatura para se opor a este movimento, mostrando que Lula foi julgado e condenado por um judiciário independente, através de artigos em grandes jornais, palestras no exterior e conversas com chefes de estado.

FHC não fez nada disso.

FHC se omitiu.

E agora, a duas semanas das eleições, FHC vem pregar a “união das forças democráticas”.

FHC, vai catar coquinho.

Bombardeando a própria casa

A diferença eleitoral entre PSDB e PT, ou, mais especificamente, entre FHC e Lula, fica mais uma vez patente: enquanto o PT defende o seu candidato com unhas e dentes, mesmo estando preso, FHC não cansa de sabotar o seu, agora lançando o tal “manifesto pelo centro democrático e reformista” e citando o apoio a Marina como uma possibilidade.

Quer dizer, ao invés de arregaçar as mangas e trabalhar pelo candidato do seu partido, FHC bombardeia as bases da candidatura. Depois vai se perguntar porque o PT ganhou 4 eleições seguidas e Bolsonaro lidera as intenções de voto, com o apoio de muitos que votavam no PSDB.