Interessante levantamento sobre parcerias público-privadas é repercutido hoje no Estadão. Trata-se de uma espécie de censo do avanço desse tipo de parceria no país.
Lembrei da grande repercussão negativa que causou o pedido, por parte do governo federal, de um estudo a respeito de possíveis parcerias no âmbito do SUS. Lembro da histeria que tomou conta da bancada da Globo News, que gastou horas debatendo a “privatização” do SUS. “Debatendo” é modo de dizer, porque em um debate há ideias diversas sendo discutidas. No caso, havia uma unanimidade: o SUS jamais deveria ser “privatizado”. Claro que todos os jornalistas ali presentes nunca devem ter colocado os pés em um hospital público.
A reportagem cita o exemplo de um hospital de Salvador, sob responsabilidade do governo do PT, e que firmou parceria de administração com a iniciativa privada. Um escândalo, que não teve a devida repercussão na Globo News e na imprensa em geral. Afinal, “privatizaram” um hospital público. Onde estão os defensores do SUS?
Cada vez me convenço mais de que o ideal para o Brasil seria um governo de esquerda, que acalma a consciência da inteligentzia tupiniquim, com ideias de direita, que são as que funcionam. Se existisse tal bicho, claro.
Pesquisa da Globo para fazer propaganda de uma série de educação financeira que irá ao ar na Globo News aponta que 70% dos brasileiros vivem acima de sua renda. Para suportar esses gastos, lançam mão principalmente do cartão de crédito.
O que me chamou a atenção na matéria foi o jornalista ter atribuído o “motivo” e a “razão” das dívidas ao cartão de crédito e ao crédito pessoal. Obviamente está errado. O “motivo” e a “razão” estão no descontrole financeiro. O cartão e o crédito pessoal são apenas os instrumentos usados para tapar o buraco. Não foram os instrumentos de crédito que cavaram o buraco, apesar de que, em muitas vezes, os juros cobrados servirem para alarga-lo. Espero que meu amigo Liao Yu Chieh, que vai capitanear com o seu usual brilhantismo o programa na Globo News, explique a diferença.
Aproveito a oportunidade para anunciar que, em setembro, estarei lançando meu livro sobre finanças pessoais, Administração Financeira do Lar – Um Guia de Sobrevivência e Prosperidade para as Famílias, escrito com base em minha experiência pessoal, e que abordará este e muitos outros conceitos de finanças pessoais.
Ouvindo agora a repercussão na Globo News sobre a proposta de estudos sobra a possibilidade de terceirização das Unidades Básicas de Saúde.
Todos horrorizados. Todos, jornalistas e especialistas. Aguardava ansioso algum argumento mais técnico, mas só ouvi que “a saúde é dever do Estado, e o Estado não pode tirar o corpo fora”. Uma espécie de dogma que não se pode discutir, sob pena de excomunhão da sociedade brasileira. Este é o mindset.
Claro que a discussão terminou com loas ao SUS. Ah, se não fosse o SUS, a pandemia teria efeitos muito mais graves no Brasil, ah porque o SUS isso, porque o SUS aquilo. Por óbvio, ninguém naquela bancada, nem jornalistas, nem especialistas, depende do SUS para cuidar da sua própria saúde ou da saúde da sua família.
PS.: não tenho opinião formada sobre a terceirização das UBS. Mas acho que a discussão deveria se dar no nível técnico, não dogmático. Só acho.
Ontem, mais uma vez uma amiga postou a balbúrdia instalada em frente ao seu prédio, altas horas da noite, com direito a pancadão, que se seguiu a um “desfile de bloco” que não estava na programação.
Minha amiga pergunta: onde está o poder público? Cadê a PM para colocar ordem na casa? Ao que eu respondo: está afastando seus agentes que procuraram colocar ordem na casa.
Ontem mesmo, circulou vídeo de truculência policial contra estudantes de uma escola estadual.
Obviamente, foi objeto de reportagem indignada da Globo News, com direito a entrevista com “especialista”, que recomendava o diálogo como melhor forma de enfrentar esse tipo de situação.
Pergunto: a direção da escola, ao chamar a polícia, já não havia tentado o “diálogo” com os estudantes? A chamada da polícia já não caracteriza o esgotamento de todas as outras possibilidades de resolver o problema? Aliás, tanto na matéria da Globo News quanto na reportagem do Estadão (de onde tirei a manchete) não há menção ao tipo de problema causado pelos estudantes, a ponto de a direção do colégio ter sentido necessidade de chamar a polícia. Os repórteres nos devem essa informação, que não é um mero detalhe.
Obviamente, nada justifica a truculência policial. Excessos devem ser punidos. Mas a cobertura jornalística deveria procurar levantar todas as informações, para que os leitores e telespectadores pudessem formar sua opinião com mais objetividade. A polícia é a vilã em 100% dessas “reportagens”. Há algo de errado.
Voltando ao pancadão no bairro de classe média. Se a PM aparecesse por lá, provavelmente o “diálogo” com “foliões” bêbados seria infrutífero. Os policiais, então, seriam obrigados a empregar força. Aliás, é para isso que serve a polícia. Se o diálogo resolvesse, os próprios moradores poderiam conversar com os “foliões”. Ao empregar força, imagens da “truculência policial” viralizariam imediatamente, levando ao afastamento dos agentes da lei. A PM sabe disso. Talvez por isso, estejam preferindo deixar a população resolver seus problemas com “diálogo”.
Pauta na Globo News hoje: a violência policial no Rio. Muito instrutivo. Aprendi várias coisas em menos de 3 minutos:
“Ghandi dizia que a violência traz benefícios de curto prazo e malefícios de longo prazo” “Só se combate violência com muito amor” “É preciso distribuir coletes à prova de balas para os policiais como se faz em Nova York” “Estressado tem que estar eu, o policial tem o dever de não estar estressado”
Essas frases estão entre aspas porque foram ditas assim, desse jeito.
Deve ter alguma substância estranha nesse ar-condicionado do estúdio da Globo.
Se a inflação de março de 2018 tivesse sido de zero, a manchete seria “a inflação foi infinitos porcento maior”? E se tivesse sido negativa? “A inflação foi menos 20 vezes maior”?
Nem acho que seja má fé. É dificuldade mesmo de interpretar números.
Reportagem na Globo News (sim, de novo, resolvi pegar no pé) sobre a sonda que pousou em Marte.
Imagem de um cientista americano, explicando que Marte era habitável há 3 bilhões de anos e hoje é um deserto gelado. A missão tem como objetivo estudar o solo do planeta para tentar entender o que aconteceu.
Corta para a inefável Leilane Neubarth, que complementa com o óbvio “para que nós não façamos o mesmo”.
Então, para a apresentadora do GN, nem precisa de sonda, a explicação é óbvia: a civilização marciana fucked o planeta vermelho e aquilo virou um deserto inóspito. Só faltou dizer que o líder dos marcianos tinha cabelo laranja, apesar de sabermos que os marcianos eram verdes.
A Globo News debate os destinos da economia brasileira, agora que estamos nas mãos dos desalmados “Chicago Boys”.
Além das observações de praxe sobre as reformas impostas por Pinochet, a ditadura e blá, blá, blá, os bravos jornalistas estavam genuinamente preocupados com os efeitos negativos das reformas empreendidas pelos Chicago Boys chilenos. Parece que algumas coisas deram errado por lá.
Fui checar.
A inflação média brasileira desde 1996 foi de 6,80% ao ano, enquanto a chilena foi de 3,67% ao ano. Ou seja, se tivéssemos a inflação do Chile, os preços teriam subido praticamente metade do que subiram no Brasil nos últimos 22 anos (deixei de fora os anos da hiperinflação pra coisa não ficar mais feia para o nosso lado).
-Ah, mas inflação é uma tara dos Chicago Boys. Eles sacrificam tudo ao deus da estabilidade. Aposto que o crescimento econômico foi anêmico nesse período.
Vamos lá. O crescimento econômico médio do Brasil desde 1980 foi de 2,32% ao ano. Do Chile foi de 4,31% ao ano. Se o Brasil tivesse crescido tanto quanto o Chile nos últimos 38 anos, a renda per capita brasileira seria mais do que o dobro da atual. 108% maior, para ser mais exato.
– Ah, mas PIB não quer dizer nada. O que importa é o bem estar das pessoas.
Ok. Também o desemprego foi menor no Chile. Desde 1991 (primeiro dado disponível para o Brasil), o desemprego médio chileno foi de 7,8%, contra 10,9% de desemprego médio no Brasil. Hoje, o desemprego no Chile está em 6,9%, contra 11,8% no Brasil. Se tivéssemos hoje o desemprego do Chile, cerca de 5 milhões de brasileiros a mais estariam trabalhando.
– Ok. Mas e a desigualdade? Qual a preocupação dos Chicago Boys com a distribuição de renda? Aposto que nenhuma!
Segundo dados do Banco Mundial, o índice de Gini do Chile caiu de 54,8 em 1987 para 47,7 em 2015. Já o índice do Brasil caiu de 59,7 para 51,3 no mesmo período (quanto menor, melhor a distribuição de renda). Ou seja, além de mostrar uma distribuição de renda melhor do que a brasileira, o índice de Gini do Chile recuou só um pouco menos do que a o brasileiro nesse período de 28 anos. Parece ok para um país que adota um modelo econômico neoliberal selvagem.
Resumindo: o Chile, administrado segundo a escola de Chicago, teve metade da inflação, o dobro do crescimento, menos desemprego e melhor distribuição de renda do que o Brasil, administrado segundo a melhor escola unicampiana de preocupação social. E ainda ficamos discutindo “o que deu errado” no modelo chileno.
PS.: antes que alguém levante a questão, dá sim para usar o Chile como exemplo. Apesar de ser um país menor e com maior dependência de exportações, há muitos países ainda menores que não dão certo. E há países bem maiores que têm uma performance bem superior à brasileira por seguirem os cânones econômicos ortodoxos. Vide EUA e Alemanha, por exemplo.