O populista e as más notícias

Esse foi o tuíte de Bolsonaro comemorando o Caged de fevereiro.

Na época, pensei cá com meus botões: além do efeito “carnaval em março”, que distorce a comparação com fevereiro de outros anos, é muito, mas muito cedo ainda, para atribuir ao novo governo a criação de vagas. Tudo o que está acontecendo agora na economia ainda é, em boa parte, efeito dos governos passados. A economia real é um bicho que reage lentamente.

Agora que o Caged apontou surpreendente corte de empregos em março, fiquei esperando o tuíte do presidente pedindo desculpas pelo corte de vagas. Não virá, por óbvio. Porque o populista só aparece para dar as boas notícias.

Mal posso esperar

Depois do chefe do Executivo ter inventado a intervenção que não é intervenção e o chefe do Judiciário a censura que não é censura, mal posso esperar o que o chefe do Legislativo está nos preparando.

Quiz político

“Maia tem 330 votos, Bolsonaro tem, no máximo, 100 votos”

“O governo não tem base, falta articulação política”.

“Quando ele criou as expressões “velha e nova política” ele criminalizou o parlamento, colocou todo mundo no mesmo saco”

“Ninguém vai votar com o governo porque Bolsonaro tem olhos azuis”

Quem disse as frases acima e as pérolas que vão abaixo?

a) o líder espiritual dos kombistas, Carlos Andreazza

b) a mocreia da Vera Magalhães

c) Rodrigo Maia, o líder da gangue

d) Delegado Waldir, líder do PSL na Câmara

Aceno

23:59: Sabemos que “articulação política” é um nome bonito para “roubalheira”. A velha política precisa entender que o “toma-lá-dá-cá” acabou, esse governo trabalha em outras bases. A reforma da Previdência foi enviada ao Congresso, agora os deputados devem votar pensando no Brasil.

00:00: Tudo faz parte da estratégia para aprovar a reforma da Previdência. Bolsonaro sabe o que está fazendo, ele é muito esperto.

Um bom ministro

Muito bacana a história do ministro da infraestrutura, Tarcísio Freitas.

Foi chefe do DNIT (do DNIT!) na gestão Dilma Rousseff, liderou a PPI na gestão Temer e agora chefia um ministério-chave para o crescimento econômico brasileiro na gestão Bolsonaro.

Tarcísio Freitas é a prova acabada de que pode haver servidores públicos excelentes em qualquer governo.

Propalado por alguns

Bem, eu particularmente nunca disse que conversar com político era o mesmo que negociar cargos e malas de dinheiro. Pelo contrário.

Deve ser um recado do presidente pra outros alguns.

A boa e velha articulação política

O funcionário de Bolsonaro, Paulo Guedes, entrou no jogo da Velha Política.

Bolsonaro tem três alternativas:

1) Demite Guedes, mostrando quem realmente manda.

2) Assume a paternidade da ideia, inventando uma estorinha qualquer do tipo “Guedes terá um diálogo republicano com os parlamentares”. Em outras palavras, reconhece que “articulação política” pode ter outro sentido do que as malas de dinheiro do Gedel.

ou

3) Faz cara de paisagem, continua fazendo seu espetáculo no Twitter para sua plateia cativa e deixa o trabalho sujo para o seu funcionário. No melhor modo “eu pago meu despachante para conseguir as coisas, não me interessa como ele consegue”.

Vamos ver.

Caiu a ficha

Hoje caiu-me uma ficha.

Foi um daqueles momentos em que uma determinada realidade aparece nítida, onde antes havia algo incompreensível.

Sou meio lento pra entender as coisas. Mas procuro me colocar no sapato dos outros, para entender suas razões e motivações. Mesmo não concordando, é um exercício útil, recomendo.

Neste fim de semana, lendo uma montanha de manifestações a respeito da postura de Bolsonaro diante do Congresso, como eu disse, caiu-me uma ficha.

Bolsonaro não vai conversar com o Congresso. O parlamento brasileiro representa o que há de mais abjeto. Só há interesses mesquinhos, para ficar na coisa mais branda, ou inconfessáveis, se quisermos traduzir o sentimento geral.

Se Bolsonaro cedesse e negociasse com este Congresso, estaria traindo o sentido mesmo de sua eleição, que foi o de negar as negociatas que têm lugar ali.

Para Bolsonaro e seu núcleo duro de eleitores (acho que 15%-20% dos leitores, os restantes 35%-40% que lhe deram a vitória no 2o turno são mais anti-PT do que bolsonaristas) o Congresso deveria votar as medidas enviadas pelo Executivo por patriotismo. O que não deixa de ser uma contradição em termos: bandido patriota parece ser um oximoro.

Minha premissa, nesses dias todos, estava equivocada. Ao pensar que Bolsonaro pudesse agir como um “político normal”, que negocia com o Congresso a sua pauta, estava simplesmente esquecendo a alma da campanha do agora presidente: limpar a política de toda a sua podridão. O meme que marcou a minha, digamos, “iluminação”, foi o das malas de dinheiro do Gedel, com a frase: “articulação política”. Sim, se isso é o que se entende por articulação política, então é óbvio que não tem negociação. Com ninguém.

Se não existe possibilidade de negociação com este Congresso (e, a bem da verdade, com qualquer Congresso, porque político é tudo igual), restam três alternativas:

1) O Congresso aprova as medidas enviadas por Bolsonaro sem qualquer tipo de “negociação” – negociação entre aspas para assumir o sentido bolsonarista da palavra. Os congressistas, ao se depararem com as consequências nefastas para a nação de não votarem com o governo, colocariam a mão na consciência. Há dois problemas com essa alternativa: a) bandido não tem consciência e b) pode haver parlamentares honestos que simplesmente não concordam com as medidas, ou que pensem que não sobrevirá o caos se não forem aprovadas.

2) O Congresso não aprovas as medidas, e o governo torna-se, na melhor das hipóteses, um lame duck durante 4 anos. Na pior, o presidente cai em função da piora significativa das condições econômicas. (Observação importante: não estou aqui prevendo e muito menos torcendo pela queda do presidente. Estou apenas cobrindo todas as possibilidades)

3) Na impossibilidade de passar medidas importantes, o Congresso é fechado, limpando-se o caminho para as reformas necessárias, sem precisar “negociar” com bandidos. Para quem acha isso um exagero, li muitas manifestações nesse sentido neste fim de semana.

Enfim, e para encerrar, vocês não vão mais ler aqui que Bolsonaro “deveria fazer isso”, ou “deveria fazer aquilo”. Bolsonaro é o que é, e trairia seus eleitores se fosse ou fizesse outra coisa.

Vamos ver onde isso tudo vai dar.

Cenários

Cenário 1: Bolsonaro consegue impor a sua agenda com a força das ruas. 308 deputados votam a reforma da Previdência sem qualquer tipo de negociação. O pacote passa inteiro. A economia deslancha e Bolsonaro é reeleito em 2022.

Cenário 2: Bolsonaro cede e negocia cargos e pontos da reforma. A reforma passa com alguns descontos. A economia deslancha e Bolsonaro é reeleito em 2022.

Cenário 3: Bolsonaro, fiel à sua agenda, não negocia, e a reforma da Previdência não é aprovada. A economia vai para o buraco e Bolsonaro até tenta colocar a culpa no Congresso. Mas, como no Brasil, tudo é sempre culpa do presidente, Bolsonaro é derrotado em 2022. Se conseguir chegar até lá, claro.

Qual desses cenários é o mais provável?