Já mostrei esse gráfico aqui, mas tem muita gente nova acompanhando, então explico de novo: trata-se do acompanhamento das pesquisas de opinião sobre os governos ao longo do tempo, medindo a popularidade líquida, ou seja, a diferença entre avaliação positiva (ótimo/bom) e negativa (ruim/péssimo). É a média de DataFolha, Ibope, MDA (da CNT) e Ipespe (da XP).
Observamos uma queda da popularidade de Bolsonaro nas pesquisas de dezembro, voltando ao nível de agosto, após três meses consecutivos de alta. Talvez já seja efeito do início do fim do auxílio emergencial. No entanto, o nível ainda está acima do pior momento, no 2o trimestre.
Para onde vai a popularidade do presidente? A julgar pelo fim dos efeitos do auxílio emergencial, talvez tenhamos mais uma pernada de queda no curto prazo. Uma campanha de vacinação rápida poderia compensar, mas é pouco provável que aconteça. Na falta de dinheiro para patrocinar um auxílio mais robusto, a retomada da atividade econômica e do emprego será chave para o futuro da popularidade do presidente.
Isso que vai abaixo é um trecho do discurso hoje do presidente na Ceagesp. Não vai ter privatização do entreposto.
Lembrando que a Ceagesp estava na lista de empresas que seriam privatizadas, anunciada em agosto de 2019. Nenhuma delas foi privatizada ainda e, nesse meio tempo, foi criada uma nova estatal, a NAV. Agora, temos menos uma na lista. Fica claro porque Salim Mattar pulou do barco.
Dois recados.
O primeiro é para o paulistano: quando você ficar preso no trânsito na marginal porque um caminhão indo ou voltando da Ceagesp quebrou na pista, já sabe quem é o culpado pela manutenção do entreposto dentro da cidade.
O segundo é para meus amigos faria limers: ministro da fazenda não é presidente. Quando você quiser um governo liberal, eleja um presidente liberal.
Affonso Celso Pastore mandando a real sobre o governo Bolsonaro. Este é o sentimento majoritário no mercado financeiro, hoje. Não é à toa que o real foi a moeda que mais se desvalorizou neste ano.
No futebol, quando o time está caindo pelas tabelas, é comum o presidente do clube vir a público para dizer que “o técnico está prestigiado”. Esta frase normalmente precede a demissão. É até natural: quem está prestigiado não precisa de uma declaração formal do presidente, não é mesmo?
Têm sido cada vez mais recorrentes as declarações de Bolsonaro em favor de seu ministro da Economia. Não estivesse sob pressão por resultados, essas declarações seriam dispensáveis. A multiplicação das declarações de apoio estariam antecedendo a demissão? Só o tempo dirá.
Se sair do governo, Guedes estará apenas repetindo a sina dos ministros da Fazenda no Brasil. Desde a proclamação da República, tivemos 77 ministros da Fazenda, incluindo Paulo Guedes. A média de permanência no cargo foi de 1 ano, 8 meses e 20 dias. Guedes já é ministro da Economia há mais de 1 ano e 9 meses, o que já o faz estar na parte superior da tabela.
O ministro da Fazenda mais longevo da história do Brasil foi Artur da Souza Costa, que serviu o governo Getúlio Vargas por nada menos que 11 anos, 3 meses e 9 dias. O segundo mais longevo, acredite se quiser, foi Guido Mantega, que foi ministro da Fazenda dos governos Lula e Dilma durante 8 anos, 9 meses e 7 dias. O terceiro foi Pedro Malan, que foi o ministro da Fazenda de FHC durante 8 anos e o quarto foi Delfim Netto, que serviu os governos de Artur da Costa e Silva e Garrastazu Médici durante exatos 7 anos.
O que podemos observar, sem surpresa, é que situações econômicas instáveis detonam mais rapidamente os ministros da Fazenda. João Goulart, por exemplo, teve 5 ministros da Fazenda em 2 anos e 7 meses de mandato. Sarney teve 4 ministros em 5 anos, enquanto Itamar Franco teve inacreditáveis 5 ministros em 2 anos e 4 meses de mandato, batendo o recorde de João Goulart. Por outro lado, há pouca rotatividade durante períodos de bonança e estabilidade.
Paulo Guedes vai sair? Não sei. O que sei é que as juras de prestígio abundam. Por quê?
Nos EUA, a escolha de um ministro da Suprema Corte gira em torno do eixo liberal-conservador.
Aqui no Brasil, Bolsonaro até ensaiou essa mesma dicotomia, ao prometer um ministro do STF “terrivelmente evangélico”. Mas seu eixo é outro, como se vê.
O loteamento do STF ao centrão só confirma, mais uma vez, a ordem de prioridades deste governo, que descrevi aqui há mais de um ano:
1. Família e amigos
2. Agenda de costumes
3. Agenda econômica
4. Agenda anti-corrupção
Desta vez, a agenda de costumes foi sacrificada para proteger sua família e amigos. Claro, já fomos informados que o novo ministro é “católico”, como se esta não fosse uma característica da maior parte dos brasileiros. O fato é que não foi nomeado por ser “terrivelmente evangélico”.
A demissão de Moro e as nomeações de Aras e, agora, do desembargador de Brasília, mostram a verdadeira agenda do governo Bolsonaro.
Assim como o nobre deputado Alessandro Molon, tenho lido de fontes, digamos, a sinistra, que o governo Bolsonaro poderia estar controlando os preços do arroz se tivesse mantido a política de estoques reguladores. Tenho uma opinião, mas como costumo não dar palpite antes de verificar os números, fui atrás.
O gráfico abaixo mostra a evolução dos estoques de arroz desde o governo Sarney, em toneladas.
Apenas para se ter uma ideia da ordem de grandeza, consumimos algo como 12 milhões de toneladas/ano ou 1 milhão de tonelada/mês de arroz (fonte: brazilianrice). Se assumirmos que o consumo per capita não deve ter mudado muito ao longo do tempo, o consumo durante o governo Sarney devia ser cerca de 30% a menos do que hoje, ou 8 milhões de toneladas/ano, crescendo ao longo do tempo até chegar nos atuais 12 milhões.
Uma primeira coisa que chama a atenção é o imenso estoque de arroz durante os últimos anos do governo Sarney, em média 4 milhões de toneladas, ou 6 meses do consumo nacional. Era a época da hiperinflação, em que instrumentos de intervenção no mercado eram usados sem cerimônia.
O governo Collor baixou estes estoques para cerca de 1 milhão de toneladas, que foi mais ou menos o novo patamar vigente ao longo do tempo. Durante o governo FHC os estoques variaram de zero a 2 milhões de toneladas, enquanto nos governos Lula e Dilma estes estoques variaram entre zero e 1 milhão, com alguns raros momentos em que atingiram 1,5 milhão.
Duas coisas chamam a atenção no período dos governos do PT: o longo período (quase 3 anos) em que os estoques de arroz ficaram zerados no início do governo Lula e, isso é o mais importante, a diminuição e, por fim, a zeragem dos estoques na segunda metade do governo Dilma.
Poderíamos pensar que estes estoques foram zerados para combater altas de preços de alimentos. Mas não foi o caso. Observando o gráfico da inflação de alimentos (que reproduzo novamente abaixo), notamos que os períodos de zeragem dos estoques não coincidem com os períodos de alta dos preços. A zeragem se deu, portanto, por outro motivo. Minha hipótese é que acabou o dinheiro. Para manter estoques, é óbvio que é preciso empatar algum dinheiro. No final do ano passado, uma tonelada de arroz custava, no atacado, cerca de R$ 1.800. Para manter um estoque de um milhão de toneladas, é preciso desembolsar R$ 1,8 bilhões. E isso só para o arroz. Some a isso outros itens da cesta básica, a conta sai cara.
O ponto que quero fazer, portanto, é que não foi Bolsonaro, nem tampouco Temer, que acabaram com os estoques reguladores. Foi o governo Dilma. Justamente o governo que amava um intervenção no mercado. Só que o dinheiro acabou.
Um imposto sobre transações financeiras é o sonho de qualquer governante. Por que? Porque é um imposto insonegável, e sua alíquota pequenininha passa a impressão de ser um imposto inofensivo. Fica lá, escondido, ninguém nota. Só tem um problema: não é um imposto pequeno. Na verdade, é bem grande. Por ser cumulativo, soma-se em cada fase de uma cadeia de produção.
Consideremos um exemplo prosaico: um saco de arroz, vendido no supermercado. Vejamos: o supermercado paga a indústria de arroz, que paga o produtor de arroz, que paga o fabricante de fertilizantes, que paga o produtor dos insumos para a indústria de fertilizantes, que paga o produtor de petróleo, que paga a siderúrgica que produz o equipamento para tirar o petróleo, que paga o produtor de minério, que paga…E isso porque fui em uma vertical só. Não considerei o transporte, as embalagens e outros vias de produção laterais. Não é à toa que a CPMF tem um grande poder arrecadatório com uma pequena alíquota.
Como eu ia dizendo, a CPMF é o sonho de todo governo, pois deixa o imposto escondido. Nem parece que você está sustentando a máquina. Dizem que a alíquota do IVA proposto pela reforma tributária da Câmara precisaria ser de algo em torno de 25%. Um horror. Pois bem, é esse horror que estão tentando esconder de você, ao propor a CPMF.
Todo mundo tem uma linha vermelha. Eu tenho duas: o imposto sindical e a CPMF. Qualquer político que contribua para a volta de um ou de outro não tem o meu voto.
Esqueçam as chamadas dos jornais sobre a última pesquisa Datafolha. O foco das manchetes foi sobre a possibilidade ou não de abertura de processo de impeachment, e o apoio ao ex-ministro Sergio Moro. Isso tudo importa quase nada.
O que importa, de fato, é a aprovação do governo. E essa continua no mesmo lugar que estava em dezembro/2019, última pesquisa Datafolha sobre a aprovação geral do governo Bolsonaro. Quatro meses atrás, a diferença entre ótimo/bom e ruim/péssimo estava em -6 pontos. Na última pesquisa, feita após o affair Moro e o desgaste com o Covid-19, a diferença estava em -5 pontos. Não mudou absolutamente nada.
Mas todos sabemos que a Datafolha é comunista. Vamos aguardar alguma pesquisa que seja idônea.