Governo virtual

Antes da atual performance como autoproclamado presidente da República, Zé de Abreu aventurou-se no mercado de ações.

A diferença é que, na época, a performance da então presidente da República, ao contrário da agora inofensiva performance do ator-presidente, causava gigantescos estragos na economia.

No dia em que Zé de Abreu patrioticamente comprou Petro, a ação valia 10,30. Quando Dilma assumiu o governo, em janeiro de 2011, a Petro valia 26,70. Fez um excelente trabalho para que Zé de Abreu pudesse comprar a ação na baixa.

Mas o autoproclamado presidente errou o timing. Dilma continuava lá. A ação continuou caindo, atingindo 8,20 em abril/2016, quando ocorreu o impeachment. Zé de Abreu perdeu 20% de seu investimento. Mas foi por uma boa causa.

Depois do impeachment, o dublê de presidente deve ter vendido as ações, pois seria uma traição à causa ficar patrocinando governo golpista. Hoje, Petro vale 26,70, o mesmo valor do início do governo Dilma. Vale notar que, após o impeachment, Dilma se apresentava no Twitter como “presidenta legitimamente eleita”. Mais ou menos como Zé de Abreu se apresenta hoje.

Moral da história: governo de esquerda bom é governo virtual. Podem fazer discurso à vontade sem causar estragos.

Governo simbólico

Da página de Eduardo Affonso

Há quem a critique, mas eu acho sensacional o simbolismo da posse simbólica de Lula para um quinto mandato consecutivo do PT, depois de amanhã, em Curitiba.

Tomara que os petistas não se contentem em gritar um simbólico “Viva o presidente!” na calçada em frente ao prédio (concreto) da Polícia Federal, e nomeiem também um ministério simbólico para, simbolicamente, governar o país por simbólicos quatro anos.

Lamentável é que tenham demorado tanto para ter essa ideia. Isso deveria ter sido feito já em 2003. Um governo simbólico, naquela ocasião, teria indicado diretores simbólicos para a Petrobras e saqueado apenas simbolicamente a empresa.

Teríamos tido um mensalão simbólico e só o simbolismo do triplex e do sítio. O calote dos países bolivarianos teria sido simbólico, simbólica a quadrilha formada por Dirceu, Genoíno, Delúbio e cia.

Friboi e Odebrecht não passariam de símbolos. Toffoli e Lewandowski seriam ministros simbólicos do Simbólico Tribunal Federal.

A simbolicíssima Dilma faria uma faxina simbólica varrendo simbolicamente para debaixo de um simbólico tapete os malfeitos simbólicos dos seus simbólicos ministros. Simbólicas pedaladas culminariam num simbolicamente fatiado impítimã e permaneceria intacta a simbologia do golpe.

Após dezesseis anos de puro simbolismo, o presidente que efetivamente toma posse nesta terça receberia um país com menos desemprego, menos ódio, menos doutrinação, menos violência.

Que a posse simbólica de Lula seja um símbolo de que o Brasil enfim achou o rumo e que ninguém – nem o PT – consegue errar o tempo todo.

Muito sucesso em seu governo simbólico, presidente Lula!

(Questão de ordem: Em caso de indulto ou uma marcoaurelice qualquer, o Haddad assume simbolicamente o cargo?)

O elixir dos desenvolvimentistas

Neste artigo, três professores da FEA, com o pretexto de atacar o regime de capitalização da previdência, na verdade tentam nos convencer de que o problema da Previdência no Brasil se resolve com crescimento econômico.

Ao afirmarem que a reforma não gerará ganhos fiscais no curto prazo e que o problema da Previdência se manifestará apenas ao longo de 40 anos, os professores, na prática, descartam a reforma como algo fundamental. O problema, segundo eles, seria a falta de crescimento econômico.

Esta é a realidade fantástica em que vivem os economistas chamados “desenvolvimentistas”. Para estes, o crescimento econômico é uma espécie de elixir que está sempre à mão para que todos os desequilíbrios deixem de existir como que por mágica.

Imagine que uma família viva acima de sua renda. Ela começa a se endividar para manter o seu padrão de vida, com a confiança de que, no futuro, vai aumentar a sua renda de modo a pagar as suas dívidas. Aliás, ela começa a se endividar para montar um novo negócio, com a esperança de que este novo negócio seja capaz de gerar a renda necessária para pagar tanto as dívidas do negócio em si como as dívidas geradas pelo seu padrão de vida acima de suas posses. Este é o raciocínio dos economistas desenvolvimentistas. Para estes, é possível manter o padrão de vida dos aposentados com o aumento da renda futura das pessoa que trabalham. E se a renda não aumentar? Esta é a pergunta que se fazem os credores hoje.

Mas para estes heróis da resistência desenvolvimentista, a reforma da Previdência deveria ficar em segundo plano e o governo deveria focar fortemente na retomada do crescimento econômico. Afinal, com o crescimento, todo o resto se resolve. Seria uma espécie de moto-contínuo: o endividamento tem importância secundária, desde que se mantenha o crescimento econômico. Este se manteria porque todo mundo sabe que, sem crescimento, a dívida é impagável. Seria uma espécie de bicicleta: se parar de pedalar, todo mundo cai.

Aliás, foi o que aconteceu nos anos Dilma: um governo desenvolvimentista que patrocinou uma série de políticas pró desenvolvimento e deixou uma penca de esqueletos fiscais nos armários da República. Aos poucos, os agentes econômicos descobriram a natureza da brincadeira e pararam de pedalar.

É óbvio que o crescimento econômico é fundamental. Afinal, em casa onde falta pão, todo mundo grita e ninguém tem razão. O busílis é saber como fazer o país crescer. Aliás, o problema fiscal também afeta o crescimento econômico. Na medida em que os agentes econômicos começam a duvidar da capacidade do Estado de fazer frente às suas dívidas, começam a precificar um calote futuro, seja por via de suspensão do serviço da dívida, seja por via inflacionária. Este calote potencial é um claro inibidor de investimentos. E, sem investimentos, não há crescimento econômico. O equilíbrio fiscal não é condição suficiente para o crescimento econômico, medidas para o aumento da produtividade são igualmente fundamentais. Mas é condição absolutamente necessária.

A questão da previdência NÃO se resolve com crescimento econômico. É o justo contrário. Senão, a bicicleta não para em pé. Eu esperaria que os anos Dilma tivessem deixado isso claro. Pelo visto, não.

Protejam a rede de proteção

Um dos argumentos utilizados por apoiadores do PT é de que essa história de transformar o Brasil em uma Venezuela é completamente fora de propósito. O PT esteve 13 anos no poder e, aí vai o “argumento”, “não nos transformamos em uma Venezuela”.

Parece aquela piada do cara que cai do 10o andar de um prédio e, ao passar pelo 5o andar, alguém na janela lhe pergunta se está tudo bem. Ao que o homem responde: “tirando o vento na cara, por enquanto está tudo bem”.

A resposta é tão idiota quanto o “argumento” usado pelos petistas. O vento estava batendo nas nossas caras até o impeachment, mas para os petistas estava “tudo bem”.

Quais as evidências de que nos aproximávamos do solo?

– Assim como a PDVSA, a Petrobras foi usada para implementar políticas desenvolvimentistas e para fazer populismo tarifário. Claro, a PSVSA é muito mais importante para a economia da Venezuela do que a Petrobras é para o Brasil, mas mesmo assim o impacto foi relevante.

– Assim como na Venezuela, o governo Dilma adotou política econômica intervencionista, mexendo profundamente com o sistema de preços relativos e a confiança dos agentes econômicos. Eu diria que este é o fator, tomado isoladamente, mais importante para explicar a pior recessão da história brasileira.

– Assim como na Venezuela, as estatais e outros órgãos do governo foram aparelhados até a medula, tornando-se instrumentos do partido para a manutenção do poder.

– Assim como na PDVSA, a Petrobras foi usada para manter um esquema gigantesco de corrupção do sistema político.

– Assim como fez o chavismo na Venezuela, o PT tentou emplacar uma “constituinte” por meio de um plebiscito. Isso aconteceu como resposta às manifestações de 2013, uma das 5 medidas propostas pelo governo para “dar uma resposta às ruas”. Não custa lembrar que esta mesma ideia voltou no programa de governo do PT deste ano e foi espertamente retirada por Haddad.

– O governo Dilma tentou emplacar uns tais “conselhos populares”, em que decisões importantes de governo passariam pelo crivo popular. Uma forma de driblar o Congresso.

– A exemplo da Venezuela, está ainda no programa do PT uma tal “regulação econômica da mídia”. Juram que é só para acabar com os monopólios. Ok, acreditamos.

Sim, é verdade que não nos transformamos em uma Venezuela nos 13 anos do PT. Mas isso só não aconteceu porque as instituições brasileiras, a imprensa livre e o povo nas ruas estendeu uma rede de proteção, impedindo a continuidade da queda.

Não se engane: o que o PT quer fazer agora é retirar a rede de proteção.

Checando as agências de checagem

Fake news. Essa é a palavra do momento.

Minha primeira fake news está na minha certidão de nascimento. Consta lá que nasci às 7:20 hs de um certo dia de dezembro. Agências de checagem chegaram à conclusão de que, na verdade, pode ter sido às 7:19 ou 7:21. Ou mesmo qualquer outro horário, porque o relógio da sala de parto estava atrasando por aqueles dias.

Claro que é uma piada. Mas não tem dúvida de que a chance de eu ter nascido exatamente às 7:20 é muito baixa. Trata-se de um horário aproximado, suficiente para dizer: Marcelo Guterman nasceu no início da manhã de um certo dia de dezembro. Mas com toda probabilidade, essa informação seria classificada como fake news pelas agências de checagem.

Essa comparação me ocorreu quando li um artigo onde a agência Lupa selecionou as 8 fake news mais compartilhadas via Whatsapp. A primeira está abaixo e é bastante curiosa: mostra uma suposta Dilma Rousseff jovem na companhia de Fidel Castro. A agência conclui que se trata de fake news, porque Dilma teria, na data da foto, apenas 11 anos de idade. O fake está em que aquela moça da foto não é Dilma, apesar da engraçada semelhança física.

Ora, mas o ponto da foto não é este. Não é que Dilma, a vida inteira, tenha jurado de pés juntos que não apoiava Fidel, que achava Cuba um lixo, que deplorava a revolução cubana e, de repente, encontraram uma foto que desmentia tudo isso. Não! É pública e notória a simpatia de Dilma pelo regime cubano.

Assim, a foto serve, até de maneira jocosa, para reafirmar uma verdade: Dilma é próxima de Fidel e do regime cubano. Não, Dilma não esteve com Fidel em 1959. Isso é falso, assim como é falsa a informação de que eu nasci à 7:20. Mas sim, é verdadeira a informação de que Dilma e Fidel tem tudo a ver.

Esta foto serve para reforçar uma verdade, apesar de ser, em si, mentirosa. Ao checar exclusivamente a veracidade da foto, a agência de checagem perde (proposital ou inadvertidamente, não vou julgar) o “big picture”.

Outro ponto, o reverso da medalha: tirar uma foto ao lado de uma personalidade não é prova de apoio àquela personalidade. Ficou famosa a foto de Sérgio Moro ao lado de Aécio Neves.

Esta foto foi usada ad nauseam para “provar” que Moro favoreceria o PSDB em seus julgamentos. As agências de checagem não diriam que é fake. Afinal, a foto é verdadeira, de fato Moro foi fotografado ao lado de Aécio, dando risadas. O problema são as inferências que se fazem a partir da foto. No caso de Dilma, a foto é falsa mas a inferência é verdadeira. No caso de Moro, a foto é verdadeira, mas a inferência é falsa. As agências de checagem se limitam a julgar as fotos, mesmo porque seria subjetivo julgar as inferências. Mas são essas que importam, no final.

A foto da Dilma jovem com Fidel serve para reforçar uma verdade. Há outras, no entanto, que servem para reforçar preconceitos. Uma das fake news mostra mulheres defecando em uma igreja (não reproduzo aqui por pudor) com a legenda “Feministas invadem igreja, defecam e fazem sexo”. A foto foi classificada como fake porque foi tirada na Argentina, em um protesto contra Macri. Mas o problema não é este. O problema está em relaciona-la com “feministas”. Pode-se não concordar com a ideologia feminista no campo das ideias. Outra coisa, no entanto, é relacionar o feminismo com depravação dos costumes, coisa que ultrapassa em muito o admissível. Temos aqui um caso em que a agência de checagem novamente perde o big picture, pois afirma que a notícia é fake porque a coisa aconteceu na Argentina e não no Brasil, enquanto o busílis da questão não é se a foto é verdadeira ou falsa, mas sim se o feminismo pode ou não ser associado a este tipo de foto. Não se trata de fake ou não, mas de honestidade intelectual, coisa impossível de medir em um fact checking.

Um terceiro e último exemplo, muito parecido com minha certidão de nascimento falsa: uma determinada mensagem afirma que o os gastos do governo cresceram 4% entre os anos de 2011 e 2016 (governo Dilma), enquanto os gastos das famílias recuaram mais de 1% no mesmo período, em uma mensagem de que o governo tomou o lugar das famílias durante aqueles anos.

A agência de checagem verificou os números e sentenciou: é fake. Segundo a agência, neste período (2011-2016), o consumo do governo cresceu 3,1% enquanto o consumo das famílias cresceu 1,8%. Portanto, falso. Novamente, a agência perde o big picture ao se apegar à verdade dos números. Mesmo considerando os números reais, podemos concluir que os gastos do governo cresceram mais do que os gastos da família nesse período. Mas concedo que os números do gráfico são muito mais “chocantes” e levam a uma conclusão viesada.

Mas o ponto não é este. A agência de checagem se ateve ao período indicado no gráfico (2011-2016). No entanto, se o cálculo fosse feito até o 2o trimestre de 2016 (quando efetivamente o governo Dilma se encerrou) o resultado seria o seguinte: queda de 1,2% do consumo das famílias e crescimento de 2,5% do consumo do governo. Portanto, um resultado semelhante ao mostrado no gráfico. Ou seja, a agência de checagem, ao se limitar estritamente aos dados do gráfico, na verdade, está dizendo que o mais importante é saber se nasci exatamente às 7:20, sendo pouco relevante se nasci ou não.

O benefício da dúvida

Abaixo, um trecho do artigo semanal de Fernando Limongi no Valor de hoje. Professor de ciência política na USP e na FGV, não decepciona aqueles que sempre esperam seu apoio ao PT.

No artigo de hoje, o prof Limongi desanca o mercado financeiro por preferir Bolsonaro ao PT. Afinal, Bolsonaro teria um passado tenebroso em termos de suas posições sobre a economia, mas estaria merecendo o benefício da dúvida negado a Haddad. Segundo a teoria do professor, essa assimetria somente se explicaria por “preferências ideológicas”.

Destaquei o trecho abaixo para mostrar como petistas travestidos de isentos distorcem fatos para provar suas teses.

Quando Levy foi apontado por Dilma para fazer o serviço sujo do ajuste negado durante a campanha, o mercado deu sim o benefício da dúvida. Foram aproximadamente 6 meses de bonança, até o fatídico anúncio da meta de déficit para 2015, em julho, quando apenas Nelson Barbosa apareceu, e Levy alegou um resfriado para não comparecer. Ali, o mercado percebeu que Levy havia perdido a batalha, e era uma questão de tempo para a sua queda.

O mercado está sempre disposto a dar o benefício da dúvida. Afinal, os preços dos ativos são determinados por uma distribuição de probabilidades. Se existe alguma probabilidade de que políticas prudentes serão adotadas, o mercado não vai apostar 100% contra. Cada aposta custa dinheiro, e se tem uma coisa que o mercado procura evitar a qualquer custo é rasgar dinheiro.

Até Haddad e o PT poderiam receber o benefício da dúvida, SE ASSUMISSEM OS ERROS DO MANDATO DE DILMA. O que vemos, no entanto, é o inverso. O programa do PT é a reafirmação de todos os erros cometidos. Nenhum ficou de fora. A questão fiscal é tocada em algumas frases soltas, e a reforma da previdência, a mãe de todas as reformas fiscais, sequer é mencionada no programa petista. E, até o momento, Haddad vem fazendo sua campanha com esse programa debaixo do braço. Santo Deus, como dar o benefício da dúvida?

Bolsonaro, por outro lado, tem feito campanha com um programa liberal, e apontou o Chicago boy Paulo Guedes como seu guru econômico. Seu passado o condena, mas o mercado está dando o benefício da dúvida, pois há base material para isso.

O Prof Limongi acusa o mercado de ser ideológico. Nada mais longe da realidade. O mercado é uma prostituta barata, que se vende por pouco ao primeiro que lhe paga. Estaria agora mesmo aderindo a Haddad, se este lhe desse o mínimo sinal na direção correta. Este sinal simplesmente não existe.

Ideológico é o prof Limongi, que distorce fatos para que caibam em suas teses.

A tática óbvia

Claro, cada um joga com as armas que têm. Então, não há que condenar a propaganda do PT, que dá o mesmo destaque para o candidato e para o presidiário. Se este é o super-trunfo que o partido tem na mão, tem mais é que usar mesmo.

O problema está nas campanhas adversárias.

Dilma é o grande passivo do PT. Um desastre inventado por Lula. O paralelo é óbvio.

Dilma saiu com mais de 70% de reprovação. Pior, só o Temer. Que também foi invenção do Lula.

O problema é que uma narrativa não se faz da noite para o dia. É preciso ser perseverante e martelar a ideia dia e noite. Não adianta chegar na véspera da eleição e dizer que Dilma foi um desastre. Teria sido preciso amaldiçoar a “herança maldita” todo dia. O governo Temer tentou fazer isso com alguns anúncios no jornal, mas obviamente não era o ator ideal, dado que fez parte daquele desgoverno. Quem tinha que ter feito isso era, obviamente, o PSDB. Que estava muito ocupado em disputas intestinas para ver quem seria o candidato a presidente, e não tinha tempo nem foco para esses detalhes.

Não é que agora não funcione. Apenas que a eficácia é muito menor. Claro, se a tática óbvia finalmente for adotada, coisa que até o momento não aconteceu, preocupado que o PSDB está em desconstruir Bolsonaro.

A candidatura Haddad só está sendo levada a sério porque os adversários são ruins de doer.

Escolhendo o menos pior

Passei férias em Buenos Aires em janeiro de 2014. Alguns lugares aceitavam o real, ao câmbio de 4 para 1. Ou seja, um real comprava 4 pesos.

Ontem, esse mesmo câmbio fechou em 9 para 1. Hoje, um real compra 9 pesos.

E lembre-se, o real também se desvalorizou muito nesse período em relação ao dólar. Mas o peso argentino se desvalorizou muito mais.

Não por coincidência, Argentina e Venezuela são os dois países com as finanças mais em frangalhos na América do Sul. Anos e anos de políticas populistas, aquelas baseadas na premissa Unicampiana de que basta estimular a demanda para o país crescer, resultou em uma inflação estratosférica e na corrida contra a moeda. O dinheiro para estimular a demanda simplesmente acabou.

Brasil, Equador e Bolívia, apesar de fazerem parte do “circuito bolivariano” por muitos anos, não chegaram a este ponto. Lula, Correa e Evo tiveram a esperteza de se elegerem com um discurso de esquerda e governarem a economia com práticas de direita. Os três países estão longe de serem economias exemplares, mas não chegam perto de Argentina e, principalmente, Venezuela.

Dilma estava nos levando para o mesmo caminho. Ela de fato acreditava que a mão forte do Estado era fundamental para fazer a roda da economia girar. O país percebeu que a vaca estava indo para o mesmo brejo onde já estavam os dois países-irmãos, e resolveu impicha-la antes. Temer pode ter todos os defeitos do mundo, mas é preciso reconhecer que, com ele, aquela trajetória foi, ao menos, interrompida.

Agora temos uma eleição. É preciso distinguir, dentre os candidatos, aqueles que retomariam o caminho para o desastre. Considerando os que têm chance de vitória, Haddad e Ciro vestem esse figurino. Seus programas de governo são populistas na área econômica, e têm a fé no Estado como indutor do crescimento econômico como ponto em comum. O risco é que, tanto um quanto o outro, realmente acreditam nisso, assim como Dilma acreditava. É difícil encontrar um candidato que bata 100% com nossas preferências. Em uma eleição majoritária, é preciso, muitas vezes, votar no menos pior. Antes de votar, vou dar uma olhada na Venezuela e na Argentina. E vou procurar votar de forma a diminuir as chances de que o Brasil retome o mesmo caminho.