As consequências vêm depois

Exemplo prático dos efeitos de políticas populistas.

A Caixa tinha mais ou menos o dobro do estoque de imóveis retomados por inadimplência no final de 2012, em relação à média dos bancos privados. Hoje tem 6 vezes.

Ao forçar os bancos públicos a baixarem os juros e rebaixar os critérios para conceder crédito, Dilma contratou uma crise que somente está sendo sentida anos depois.

Como diria o conselheiro Acácio, as consequências vêm depois.

PS.: o BB não aparece nessa estatística porque financiamento imobiliário nunca foi o seu forte. O problema do BB está em outros tipos de financiamento.

O bode expiatório perfeito para governos incompetentes

“Temos que enfrentar os bancos. Bancos foram feitos para serem enfrentados. Nós não temos mais paciência com esses caras.”

Esse é Fernando Haddad, na Paraíba, ontem.

Banco é um troço muito simples: trata-se de um lugar que faz a intermediação entre pessoas com excesso de dinheiro e pessoas que precisam de dinheiro. A isso chamamos de crédito.

O crédito, segundo o programa do PT, deve ser a mola propulsora do novo ciclo de desenvolvimento do país.

Assim, ligando uma coisa à outra, o que Haddad disse foi: “vamos obrigar os bancos a fornecerem crédito barato”.

Lembro como se fosse hoje. Corria o ano de 2004 e, certo dia, meu finado pai me contou, todo contente, que tinha aberto uma conta no Citibank. Além do status, o banco lhe havia garantido uma linha de crédito no cheque especial de R$10 mil.

“Tenho conta no Bradesco há 30 anos, e o meu cheque especial tem mil reais de limite”, contou, não sem uma ponta de mágoa.

Pensei cá com meus botões: se o Bradesco, com 30 anos de histórico, deu só mil reais de limite, motivo deve ter.

Não deu outra. Pouco mais de 10 anos depois, coube a mim renegociar as dívidas de meu pai na esteira da maior recessão da história (isso foi anos antes do programa Limpa Nome do Ciro que o PT roubou). Adivinha quem era, de longe, o maior credor? Exato, o banco americano que achou que sabia dar crédito no Brasil. O resto é história: poucos anos depois, o Citi encerraria suas operações de varejo no país, ajudando a concentrar, ainda mais, o mercado bancário.

Intermediar crédito é uma arte. Significa antecipar a inadimplência esperada, e cobrar um spread suficientemente alto para compensá-la. Para isso, o histórico do cliente e uma certa previsão sobre o ciclo econômico são as únicas bases sobre as quais o banco se apoia.

Quando, em 2012, Dilma “perdeu a paciência” com os bancos e forçou a redução dos spreads por parte dos bancos públicos, os bancos privados recuaram e perderam market share. Pensei cá com meus botões: se os bancos privados não acompanharam a redução dos spreads, aí tem.

Foi só uma questão de tempo para que a inadimplência aumentasse, na esteira da maior recessão do País.

O curioso é que, no raciocínio do PT, tanto na época quanto hoje, o crédito mais barato faria “a roda da economia girar”, o que, por si só, garantiria o pagamento desses empréstimos. Faltou combinar com os russos, ou melhor, com os agentes econômicos, que se retraíram diante da crescente intervenção do Estado no domínio econômico. Se ontem foi o setor elétrico e hoje são os bancos, amanhã poderei ser eu a sofrer nas mãos de um governo discricionário. Ninguém investe em um ambiente desses e, sem investimento, a demanda criada pelo crédito fica pendurada na broxa.

Mas Haddad, claro, é diferente de Dilma. Ele sabe que não se reduz spread por decreto. Por isso, ele propõe um imposto sobre o spread. Alexandre Schwartsman, em recente artigo na Folha, demonstra que esse imposto aumentaria o spread justamente para os que mais precisam de crédito, pois o custo seria repassado pelos bancos.

No limite, os bancos saem do mercado, deixando de dar crédito. Talvez seja esse mesmo o sonho de Haddad e dos economistas do PT: um mercado de crédito dominado pelos bancos públicos, que teriam, ao mesmo tempo, sensibilidade social e sentido de missão. Sensibilidade e sentido que seriam pagos, no final do dia, pelo contribuinte, quando o Tesouro fosse chamado a capitalizar esses bancos para cobrir a inadimplência de empréstimos mal dados.

Bancos são o bode expiatório perfeito para governos incompetentes.

Corra para as montanhas

O mercado financeiro tem como esporte ser enganado.

Com Dilma foi a mesma coisa. Dilma veio com um discursinho de eficiência e rigor fiscal que encantou boa parte do mercado durante um bom tempo. A intervenção no setor elétrico foi um choque de realidade. Mesmo depois de tudo o que aconteceu, o mercado deu um voto de confiança quando Joaquim Levy foi apontado como ministro da Fazenda. Dilma havia, finalmente, se rendido à realidade.

Este é o problema do mercado: achar que todo político, mais cedo ou mais tarde, vai se render à realidade. Não lhes ocorre que, talvez, esse tipo de político ideológico realmente acredite na eficácia de medidas sabidamente ruins. Dilma se achava muito “pragmática”, palavra especialmente apreciada pelo mercado.

Lula foi o único petista capaz de surpreender e de ser realmente pragmático. Ou seja, sem escrúpulos de ganhar uma eleição com um discurso de esquerda e governar com um programa de direita. E sua ascendência sobre o partido lhe permitiu fazer isso por um tempo.

Haddad não tem ascendência sobre o partido e está longe de ser um pragmático. Trata-se de um scholar preso a esquemas ideológicos muito bem definidos.

Não se deixe enganar pelo canto das sereias. Se Haddad for eleito, corra para as montanhas.

Dilma 2: a missão

Mais um pouco sobre “transferência de votos”.

Por enquanto, Haddad é um nanico nas pesquisas. Quando começar a incomodar, as outras campanhas começarão a lembrar do outro poste de Lula.

Dilma será a pedra no sapato na estratégia de transferência de votos. “Já elegemos um poste de Lula, vamos repetir o desastre?” é um mote óbvio.

Não à toa, mais da metade dos que votam em Lula não votam em Haddad de forma alguma, conforme DataFolha e Ibope. Isso, antes da campanha dos adversários começarem a destruição (ainda que, como sabemos, o dono de metade do horário na TV ser um incompetente nessa matéria).

Então, o PT tem 2 desafios: ligar Andrade a Lula E convencer que Andrade não é Dilma 2, a missão. Vamos ver.

Consequências não intencionais

Entrevista de Rodrigo Maia.

Análise interessante: ao conseguir demonizar Temer, o PT fez desaparecer Dilma da cronologia política brasileira.

“Ah, mas Temer é um chefe de quadrilha, e eu não passo pano pra bandido”.

Nem eu. Mas é preciso sempre ter em mente que toda a ação tem suas consequências não intencionais.

O setor elétrico do governo Temer

Frete tabelado.

Fiscalização de preços nos postos de gasolina.

ANP impondo periodicidade de reajuste de preços à Petrobras.

O governo Dilma desorganizou o setor elétrico ao intervir no sistema de preços, e vamos pagar a conta ainda por muito tempo.

O setor de combustíveis é o setor elétrico do governo Temer.

Fórmula para resolver o problema da imigração venezuelana

Tem uma solução relativamente simples para o drama da imigração venezuelana para o Brasil.

Um venezuelano somente poderia entrar se houvesse um voluntário brasileiro que topasse migrar para a Venezuela.

Não faltariam voluntários, principalmente entre aqueles fãs da revolução bolivariana e que sentem saudades do governo Dilma, que estava nos levando celeremente para uma crise a lá Venezuela.

A julgar pelo desfile da Paraíso do Tuiuti, só na Sapucaí dava pra salvar algumas centenas de venezuelanos.

Lula e o motorista

O motorista Alfredo José dos Santos atacou a juíza Tatiane Moreira Lima. Imobilizou-a e ameaçou incendiá-la. Santos não se conformava com a postura rigorosa da magistrada.

Santos foi preso.

O palestrante Luís Inácio Lula da Silva atacou o juiz Sérgio Moro. Imobilizou-o no STF e ameaçou incendiar o país. Lula não se conformava com a postura rigorosa do magistrado.

Lula virou ministro.

Grande serviço prestado ao país

Quem ainda tem estômago para ler as “análises” dos auto-declarados “economistas (sic) desenvolvimentistas”, vai perceber que a tática é jogar nas costas do Levy o desastre que foi o ano de 2015. E não vai adiantar nada o ano de 2016 ser pior ainda, pois a “herança maldita” do Levy terá sido muito pesada, e o coitado do Barbosa precisa trabalhar ainda muito pra reverter a situação, e bla, bla, bla. Como disse um desses “economistas”, o Levy mostrou como teria sido horroroso um mandato de Aecio Neves.

Parabéns, Levy. Sua passagem pelo Ministério da Fazenda só serviu pra isso: álibi perfeito e eterno para o discurso cínico da petezada. Obrigado Levy, pelo grande serviço prestado ao país.