Ainda a greve dos caminhoneiros.
Tese: nada do que o governo faça com o preço dos combustíveis irá melhorar a vida dos caminhoneiros.
Premissa: a atividade de transporte de cargas é uma atividade econômica livre, sujeita às leis de oferta e demanda. Não há oligopólios nem oligopsônios, de modo que as leis básicas da economia funcionam relativamente bem neste setor.
Hipóteses sobre a oferta: 1) houve aumento de oferta de caminhoneiros nos últimos anos ou 2) houve diminuição de oferta de caminhoneiros nos últimos anos.
Nesta quadra da vida nacional, é bem mais provável que a hipótese 1 seja a verdadeira. É difícil imaginar que, com o grau de ociosidade atual da economia, o setor de transporte seja o único que tenha falta de mão de obra. Vale lembrar que a venda de caminhões bateu recordes no governo Dilma, graças a programas de financiamento como o PSI, o que deve ter aumentado ainda mais a oferta do setor.
Hipóteses sobre a demanda: 1) houve aumento de demanda por transporte por caminhão nos últimos anos ou 2) houve diminuição de demanda por transporte por caminhão nos últimos anos.
Também aqui, é mais provável que a hipótese 2 seja a verdadeira, em função da profunda recessão que o país atravessou. É possível também que a demanda tenha diminuído porque deslocou-se para outros meios de transporte, em função do preço do frete. É uma possibilidade, mas parece (só parece, não tenho dados para confirmar) que o principal motivo para a diminuição da demanda seja mesmo a recessão.
Pois bem: se a premissa é válida e as hipóteses acima descritas são verdadeiras (aumento da oferta e diminuição da demanda por conta da recessão), congelar ou diminuir preços dos insumos não resolverá o problema fundamental do setor: excesso de oferta. Seria o mesmo que achar que o desemprego seria eliminado se congelássemos todos os preços.
Os aumentos recentes dos preços dos combustíveis foi somente o estopim de uma situação que provavelmente já vinha de muito tempo. A insatisfação dos caminhoneiros é a mesma de muitos brasileiros: o alto desemprego, causado pela mais brutal recessão da história.
Não será baixando o preço dos combustíveis que se resolverá este problema. Pelo contrário: ao adotar medidas que ameaçam o equilíbrio fiscal, o governo somente agrava o problema estrutural.
Em resumo: nada do que o governo possa fazer no curto prazo vai resolver a vida dos caminhoneiros. Portanto, o país continuará refém de um impasse sem solução.