Os nossos russos são melhores que os deles

Ontem foi o ministro Edson Fachin. Hoje é o colunista de tecnologia Pedro Doria. No centro das atenções, os temidos “hackers russos”, que teriam o poder de mudar resultados eleitorais.

Que parcela relevante de ataques cibernéticos no mundo partam da Rússia e de outros países do leste europeu não é segredo para ninguém. São verdadeiras quadrilhas especializadas. Mas o que isto tem a ver com eleições? Como em toda boa teoria da conspiração, o link entre uma coisa e outra fica a cargo da imaginação de quem acredita “que alguma coisa tem aí”.

Da mesma forma que uma grande conspiração orquestrada por “forças globalistas” foi a responsável pela eleição de Biden em 2020, Putin e os “hackers russos” estariam por trás da eleição de Trump em 2016. A não ser que fosse pela manipulação das urnas em si, fica difícil entender como “hackers” teriam o poder de mudar um resultado eleitoral. Mandar “fake news” em massa não parece ser algo que demande a ação de hackers. E, convenhamos, “fake news” estão à disposição e são usadas por ambos os lados da disputa.

No Brasil, como o TSE nos garante que as urnas são seguras e à prova de hackers, não se consegue entender direito a que Pedro Doria se refere. Quem lê a coluna à procura de evidências dessa influência em outras eleições sai de mãos vazias. É a típica sensação de se ler uma boa teoria da conspiração.

De verdade, a única influência de hackers na eleição brasileira foi a dos que invadiram as contas do Telegram de Moro e dos procuradores da Lava-Jato. As mensagens vazadas ilegalmente serviram como base (!) para a decisão do STF de soltar Lula e torná-lo elegível. Nesse sentido, as eleições brasileiras foram sim influenciadas por um ataque hacker. Mas como não são russos e amigos de Bolsonaro, tudo bem, está valendo.

Também quero meu hacker!

Por que somente Lula? Com toda a razão, todo mundo quer ter acesso às mensagens roubadas. Eu também quero. Vai que meu nome também esteja citado lá.

O STF criou uma nova modalidade de chicana jurídica: a defesa baseada em mensagens raqueadas.

Você, advogado de defesa, está enfrentando dificuldades para contrapor as provas da acusação? Acabaram-se os seus problemas! Contrate um bom hacker, grampeie o juiz e os procuradores, deixe vazar conversas informais como se prova fossem e veja a mágica acontecer!

Dinheiro em casa

Entrevista hoje com a esposa do amigo do hacker. Mais uma inocente injustiçada pelo sistema persecutorial brasileiro.

A PF encontrou R$ 99 mil em dinheiro na casa dela. Hoje já não mais, mas em passado não muito distante, esse montante gerava mais de R$1.000 por mês de rendimento em qualquer aplicação conservadora do mercado. Quem abre mão desse montante para ficar com o dinheiro em casa?

Lembro de ter lido certa vez que Dilma guardava R$150 mil em casa. Parece que é uma prática recorrente entre os políticos.

Tenho um amigo que está tentando vender um apartamento no RJ. Finalmente, depois de mais de um ano, recebeu uma proposta. Mas teria que aceitar o pagamento em espécie. E em dólares. Apesar de estar precisando muito do dinheiro, meu amigo gentilmente declinou a oferta.

E você? Também é um inocente que guarda dinheiro em casa?

A história que não fecha

O Intercept nega que as conversas tenham sido obtidas por meio de hackers.

Ocorre que a fonte é “anônima”. Portanto, a ser verdade, o Intercept não tem como afirmar quem de fato está por trás.

Além disso, para afirmar que as conversas foram obtidas antes do hackeamento, seria preciso saber QUANDO ocorreu o hackeamento. O que o Intercept não tem como saber, a não ser que tivesse ligação com os hackeadores.

Ou seja, o Intercept tenta se livrar da acusação de interceptação de fruto de crime. Mas a história não fecha.

Moro na corda bamba

Provas obtidas por meios ilícitos não podem ser consideradas em um processo. Sendo assim, as supostas trocas de mensagens entre Moro e Dallagnol não serviriam, por exemplo, para anular a condenação de Lula. A qual, aliás, foi confirmada por duas instâncias superiores.

Mas o estrago político pode ser grande, a depender da disposição do Congresso, do Supremo e da opinião pública de acreditar nesses vazamentos e nos próximos que certamente estão por vir.

O cargo de Moro dependerá da disposição de Bolsonaro de segurar a bucha.