Sempre que estou planejando uma viagem para o exterior, faço um orçamento de quantos dólares mais ou menos vou gastar, e faço um hedge: compro dólares ou aplico em um fundo cambial.
Faço sempre isso depois de ter levado um tubo com pregos sem vaselina em uma viagem que fiz em 2002 para a Itália. Alguns vão lembrar do stress que foi aquele ano, com o dólar batendo R$ 4 por causa do medo do Lula. Sim, o mesmo preço de hoje. Só que, com a inflação desses 17 anos, aquele nível do câmbio equivale a R$6,50 em dinheiro de hoje!
Depois daquilo, sempre faço o que, no mercado financeiro, chamam de hedge. Não dou uma de “especialista”, nem dou ouvidos a “especialistas”, como fez a advogada da matéria, que achava que o dólar iria baixar depois da aprovação da reforma da Previdência. É um raciocínio até lógico, mas quem disse que o mercado de câmbio (ou qualquer outro mercado) é lógico no curto prazo? O fato é que o dólar subiu, não caiu, e a advogada vai precisar cortar programas na Disney.
Há dois tipos de erro quando se trata do câmbio: o erro tipo 1 é comprar dólar e ver o dólar cair. O erro tipo 2 é não comprar dólar e ver o dólar subir. Ambos doem, mas acho que o segundo dói mais. No erro tipo 1, você supostamente já vez um planejamento e aquele planejamento está preservado. No erro tipo 2, você precisa abrir mão do planejamento. Perder é sempre pior do que não ganhar.
Edmar Bacha (acho que foi ele) dizia que o câmbio é a variável econômica inventada por Deus para tornar os economistas mais humildes. Trata-se de um preço influenciado por uma miríade de variáveis dos mais diversos tipos e tamanhos. Não dá para fazer uma correlação bobinha do tipo “reforma da previdência aprovada, câmbio para baixo”. Ninguém consegue prever o câmbio. Ninguém. Por isso, faço hedge quando pretendo viajar.