Impressões sobre o debate no SBT

No #debateSBT vi alguns movimentos interessantes, que indicam a tática para esta reta final no 1o turno, e podem dizer um pouco sobre apoios no 2o turno:

– Álvaro Dias foi o mais vocal contra o PT, chamando o partido de “organização criminosa”. Nem citou Bolsonaro. Surfando na onda anti-petista no sul, pode declarar apoio ao candidato do PSL.

– Ciro também foi agressivo com o PT. Pelo visto, ainda não desistiu de ser visto como uma 3a via, uma alternativa da esquerda para bater Bolsonaro. As pesquisas de 2o turno lhe dão razão.

– Alckmin bate no PT e em Bolsonaro, mas quase en passant. Gasta o grosso do seu tempo com platitudes, do tipo “precisamos investir em infra-estrutura”. Soltou um “resolutividade” no meio de uma resposta, o que deve ter lhe roubado 0,5% das intenções de voto.

– Haddad vai bem. É inteligente, rápido e articulado nas respostas, e tem um script que executa bem, a mistificação dos bons tempos do Lula. Tem um patrimônio para mostrar, e mostra com habilidade. Mas tenho a impressão de que, se pegar o ex-capitão inspirado em um debate no 2o turno, vai ser comido com farinha, pois será tirado de sua zona de conforto, coisa que só Álvaro Dias tentou uma vez, e com relativo sucesso.

– Marina: oi?

– Meirelles: muito ruim. Mas muito ruim mesmo.

– Cabo Daciolo: respondendo a uma pergunta de Guilherme Boulos, proclamou seu amor às mulheres brasileiras e “profetizou” sua vitória em 1o turno, em nome de Deushhhhh. (um debate em que Boulos faz pergunta a Daciolo, ambos com traço nas pesquisas, e deixa Amoedo, tecnicamente empatado com Marina, de fora, tem alguma coisa muito errada).

– Bolsonaro: o grande vitorioso da noite, porque não apanhou muito. Seu nome só foi pronunciado por Boulos e por Carlos Nascimento, que lembrava, no início de cada bloco, que ele não estava presente porque havia sofrido um ataque (propaganda subliminar positiva). O tema das mulheres foi tocado algumas vezes, principalmente pela Marina, o que indiretamente o prejudica. A essa altura, Bolsonaro está tocando a bola no meio de campo esperando o fim do 1o tempo. Quanto menos aparecer, melhor.

Inversão de papeis

Ainda sobre salários de homens e mulheres.

Em determinada altura do debate, Bolsonaro é questionado por Meirelles sobre a política salarial para as mulheres. Bolsonaro responde que isso já está na CLT, e a lei precisa ser respeitada. Meirelles insiste na réplica, dizendo que a lei, apesar de existir, não é cumprida, e que, no seu governo, este assunto merecerá especial atenção.

Então acontece, na minha visão, a inversão dos papeis que normalmente associamos a Bolsonaro e a Meirelles. Em sua tréplica, Bolsonaro insiste que a lei deve ser cumprida. Mas chama Meirelles de demagogo, ao querer explorar esta questão para jogar as mulheres contra ele. Insiste, nesse sentido, que o governo não tem nada que se meter na vida das empresas.

Essa questão da diferença salarial entre homens e mulheres é muito complexa. Não conheço estudo que comprove, controlando por todas as variáveis relevantes, esta diferença. Pode existir tal estudo, reconheço minha ignorância neste assunto. E também não estou dizendo que a diferença não exista. Estou apenas supondo que, se existe, pode ser explicada por outras variáveis que não o gênero. Como eu disse, a questão é muito complexa para se prestar a tratamentos demagógicos.

Mas o ponto não é se existe ou não a diferença. O ponto é que, se existe esta diferença, pode haver uma explicação econômica por trás, que deve ser investigada. Acontece que este debate não está no plano econômico, mas sim, sociológico. Os empresários pagariam menos para as mulheres por puro preconceito, e não por razões econômicas. Aí, não tem jeito, só uma lei para resolver.

O que Bolsonaro diz, por incrível que pareça, tem muito mais bom senso do que o que Meirelles diz a respeito do assunto. O capitão afirma que o governo não deve se meter na vida das empresas. Estamos cansados de ver leis que tornam a vida dos empresários um inferno e que, no limite, impedem a atividade econômica. Uma lei que promovesse a igualdade de salários entre homens e mulheres na marra seria tão complexa, envolveria tantas variáveis, seria tão difícil de implementar, que apenas faria a festa dos fiscais do trabalho, sem resolver realmente o problema.

E não resolveria por um motivo muito simples: o problema tem natureza econômica, não sociológica. No limite, o empregador deixaria de empregar mulheres, por absoluta incapacidade de cumprir a lei. O passo seguinte seria criar cotas para mulheres, em mais uma intromissão do Estado na vida das empresas. Curioso que o “estatista” Bolsonaro esteja defendendo a liberdade das empresas de atuarem de acordo com a lógica empresarial, e o “liberal” Meirelles esteja defendendo a intervenção do Estado na vida das empresas apenas para supostamente ganhar alguns votos de mulheres e ficar bem com o politicamente correto.

Não estou aqui defendendo uma ou outra visão. Estou apenas chamando a atenção para a inversão de papeis: o “populista” Bolsonaro assumindo posições pouco populares e indo um pouco além da platitude “não deve haver nenhuma discriminação”, e o “estadista” Meirelles defendendo medidas demagógicas de implementação pra lá de complicada. Muito interessante.

Coerência

Bolsonaro cortejou o PR de Valdemar da Costa Neto. Quando recebeu um pé no traseiro, afirmou que “sua aliança era com o povo”.

Ciro cortejou os partidos do “Centrão”. Quando recebeu um pé no traseiro, Carlos Lupi, presidente do seu partido, afirmou que “o doce poderia estar estragado”.

O fato de esses partidos terem procurado o que há de pior no fisiologismo brasileiro mostra, em primeiríssimo lugar, que o tal fisiologismo não tira voto. Ou, pelo menos, o tempo de TV é visto como um ativo muito mais importante do que a suposta perda de votos pela associação com o fisiologismo. Se é que há perda relevante de votos.

Assim, os candidatos “anti-establishment” se digladiam pelo apoio do “establishment” em busca de votos. Movimento legítimo em uma democracia, desde que consigam explicar a aparente contradição para o distinto público.

Nesse sentido, quatro candidatos parecem mais coerentes: Alckmin, Meirelles, Manuela e Amoêdo. Os dois primeiros porque não negam sua ligação com o establishment, quem está votando sabe o que está comprando. Manuela e Amoêdo porque têm uma agenda que não se mistura, mesmo que isso signifique permanecer nanico. Aqui também fica claro o que se está comprando.

A coerência é um ativo intangível importantíssimo para a governabilidade. Que o diga Dilma Rousseff, que se elegeu com um discurso e governou com outro.

O próximo presidente da República

Nenhum nome da lista do Fachin tem condições de chegar à presidência da república em 2018.

Tomando essa premissa como verdadeira, o próximo presidente está entre os seguintes nomes (em ordem alfabética):

Ciro Gomes

Henrique Meirelles

Jair Bolsonaro

João Doria

Joaquim Barbosa

Marina Silva

Ronaldo Caiado

Já vai se acostumando com a ideia.