Reportagem de hoje no Estadão sobre os supostos “dissabores” de Moro em Brasília. Um dos exemplos seria a separação do crime de Caixa 2 do restante do pacote anticorrupção.
Como “prova” de que Moro voltou atrás em um posicionamento histórico, o jornalista contrapõe duas falas do atual ministro.
Aí você vai ler, e não é nada disso.
Na primeira fala, mais atual, Moro distingue os dois crimes, afirmando que ambos são graves. Na segunda, mais antiga, Moro diz que o caixa 2 é um crime grave, uma espécie de “trapaça eleitoral”. Fiquei procurando onde Moro dizia que caixa 2 é o mesmo que corrupção.
Que caixa 2 não é o mesmo que corrupção parece claro. Recursos de doações podem não ser contabilizados porque sua origem pode ter sido fruto de crime, qualquer crime, inclusive corrupção, mas não necessariamente. Pode ser, por exemplo, sonegação fiscal por parte do doador.
Que caixa 2 é uma “trapaça” eleitoral também parece claro. Um partido que não contabiliza os recursos que recebe tem vantagem ilícita sobre outro que contabiliza, pois amplia irregularmente o leque de potenciais doadores. Novamente, isso pode ou não ter a ver com corrupção, a depender da origem do dinheiro, mas são crimes diferentes.
Os dois textos de Moro, separados por 3 anos, são claros: ambos condenam o caixa 2 e nenhum deles diz que caixa 2 é equivalente a corrupção. Das duas uma: ou o jornalista que escreveu a matéria não consegue fazer a interpretação do texto e realmente acredita naquilo que escreveu, ou está de má fé. Assim como caixa 2 e corrupção, incapacidade de ler um texto e má fé são crimes diferentes, ainda que possam ser correlatos.