Desilusão com a justiça

No México é um “esquerdista”. No Brasil é um “direitista”. O ponto em comum entre Lopez Obrador e Bolsonaro é o discurso anticorrupção. E o principal fator de atração de votos é a desilusão com a Justiça.

No andar de cima, a impunidade é consequência do “garantismo judicial”.

No andar de baixo, a impunidade é consequência da “política de direitos humanos”.

No meio, uma Justiça em que seus operadores estão mais preocupados com suas benesses do que em fazer justiça.

Temos assim o ciclo da impunidade, que une bandidos ricos e pobres contra a sociedade.

Não por outro motivo, a candidatura de Bolsonaro se apoia no combate à corrupção dos ricos e à violência dos “vagabundos” (modo politicamente incorreto com que o candidato se refere aos bandidos).

Ao que tudo indica, Lopez Obrador será vitorioso neste domingo. Vamos ver o que acontecerá em outubro no Brasil.

Orgulho!

Ilustrando meu post de ontem, matéria de hoje destaca a luta do excelentíssimo decano do STF em prol dos direitos dos manos contra a sanha punitivista que vem assolando o país. Orgulho!

Data máxima vênia

Desde o julgamento do HC de Lula, vinha procurando um trecho do voto do decano Celso de Mello que me chamou a atenção. Finalmente encontrei. Aí vai:

“É por isso que se mostra inadequado invocar-se a prática e a experiência registradas nos Estados Unidos da América, na República Francesa ou no Reino da Espanha, entre outros Estados democráticos, cujas Constituições, ao contrário da nossa, não impõem a necessária observância do trânsito em julgado da condenação criminal, mesmo porque não contêm cláusula como aquela inscrita em nosso texto constitucional que faz cessar a presunção de inocência somente em face da definitiva irrecorribilidade da sentença penal condenatória (CF, art. 5o, inciso LVII), o que revela ser mais intensa, no modelo constitucional brasileiro, a proteção a esse inderrogável direito fundamental.”

Vou repetir a última frase, que me parece a chave para entender porque estamos na m..da que estamos: “o que revela ser mais intensa, no modelo constitucional brasileiro, a proteção a esse inderrogável direito fundamental.”

Em outras palavras: a Constituição brasileira é uma das poucas no mundo (acompanhada das ilustres companhias de Portugal e Itália) que tem essa estrovenga na Constituição. Isso significa que tornar uma pessoa culpada é quase um milagre.

Note o entusiasmo do decano com esse dispositivo. Aplaude-o com entusiasmo, como se a falta de proteção da sociedade em relação aos criminosos representasse um avanço civilizatório. Países atrasados como EUA e França, na visão do excelentíssimo, deveriam seguir o exemplo do Brasil!

Com esse tipo de mentalidade, não é à toa que o Brasil é o país da impunidade. Dos vários REFIS, passando pela progressão de pena e inimputabilidade dos “de menor”, até a prisão somente após o “trânsito em julgado”, o crime compensa no Brasil.

Para nós, otários, que procuramos cumprir as leis, toda essa discussão é etérea. Provavelmente não precisaremos, ao longo de nossas vidas, dos vários recursos de que os criminosos dispõem para se livrarem da devida punição. Pelo contrário: é a sociedade que está indefesa em relação ao crime. Sob as bênçãos dos defensores dos direitos dos manos.

Cheiro de falcatrua

Gilmar Mendes afirmou ontem que o Brasil, a exemplo dos 200 milhões de técnicos de futebol, tem hoje 200 milhões de juízes. Segundo o excelentíssimo, todo mundo virou especialista em HC.

Longe de mim querer substituir a competência técnica dos luminares que ocupam as 11 cátedras do Supremo (em que pese que um deles tomou bomba duas vezes em concurso para juiz, mas quem se apega a esse tipo de detalhe, não é mesmo?).

No entanto, apesar de não ter treinamento técnico para saber o que é um HC, o brasileiro é treinado desde o berço para sacar o que é um jeitinho, um bem-bolado, uma chicana para driblar a lei.

E o cheiro de arranjo que sai do STF é inconfundível para os 200 milhões de doutores em detectar falcatruas. Por mais que esteja revestida das tecnicalidades que os doutos magistrados dominam com maestria.

Proteção de quem, cara-pálida?

“[…] se concede um HC para alguém […] irrita muitas pessoas, mas a gente está protegendo aquele que está irritado, porque o desmando do poder vai atingir também aquelas pessoas que antes torciam para a prisão de A, mas depois vem o B, o C”.

Este é Gilmar Mendes, dizendo que o cidadão comum estará mais protegido se o STF soltar Lula hoje. Excelentíssimo Ministro Gilmar Mendes: B e C são Aécio Neves e Michel Temer, não sou eu, nem qualquer outro cidadão que busca cumprir a lei. Se Sua Excelência quer proteger B ou C, não nos meta em sua equação.

Na verdade, o cidadão honesto fica mais desprotegido quando A, B, C e todo o resto do alfabeto não cumprem pena pelos seus crimes.

Só otário cumpre a lei

Ontem, o Congresso permitiu descontos de até 100% dos juros e multas para impostos atrasados do Funrural e do Refis das micro e pequenas empresas.

Hoje, o STF provavelmente dirá que criminosos bem assessorados não precisam cumprir pena pelos seus crimes.

Só otário cumpre a lei no Brasil.

A lei é só para os comuns

Se o TSE permite que Lula faça campanha antecipada, travestida de “caravana”, em flagrante descumprimento da lei eleitoral, por que não validaria uma candidatura flagrantemente contra a mesma lei?

Lei, no Brasil, é para os comuns.