A credibilidade do Banco Central

2,25%. A menor taxa de juros da história do Brasil.

Dilma Rousseff, na sua guerra declarada aos fundamentos econômicos, certa vez expressou seu desejo de ver uma taxa básica de juros de 2% ao ano. Taxa real, que se frise, acima da inflação. Pois bem, a taxa real de juros hoje é próxima de zero.- Ah, mas com essa brutal recessão é fácil, dirão os desenvolvimentistas.

Pois é.

Dilma foi apeada do governo em abril de 2016, depois de provocar uma recessão de mesma magnitude da que estamos vivendo hoje, cerca de 7,5% do PIB. Curiosamente, aquela recessão deixou um IPCA de 9,3% e uma Selic de 14,25% (números de abril de 2016). Pelo visto, somente a recessão do coronavírus tem o dom de gerar inflação e taxas de juros baixas. A recessão do dilmavírus gera inflação e taxas de juros na lua.

Em um sistema de metas de inflação, conta muito a credibilidade do BC e, em última instância, do governo. Credibilidade esta que foi destruída durante o governo Dilma. Então, não atribua somente à recessão as taxas de juros mais baixas da história. O colapso da atividade econômica é uma condição necessária, mas não suficiente, para este nível de taxas de juros. Sem credibilidade, as taxas de juros serão sempre mais altas ao longo do tempo. É o preço cobrado pelos credores de um devedor pouco confiável.

A inflação do governo

Claudia Safatle repercute estudo da CNI sobre a inflação brasileira nas últimas duas décadas (1999-2019). A conclusão é bem interessante.

Os três grupos de preços que mais subiram nos últimos 20 anos foram “serviços médicos e hospitalares” (374%), “energia elétrica” (358%) e “transporte público” (352%). O IPCA nesse período acumulou aumento de 240%.

Nestes três grupos temos o dedo do governo. No primeiro, além dos preços dos planos de saúde serem regulamentados pela ANS, o número de médicos é limitado pela autorização governamental para a prática da profissão. Nos outros dois grupos, os preços ou são diretamente estabelecidos pelos governos (no caso do transporte público), ou o são indiretamente, através da agência reguladora e das regras dos leilões de energia. Ainda no caso de preços regulados, uma parte do aumento dos preços teve a ver com a redução de subsídios por parte dos governos (no caso do transporte público) ou aumento de impostos embutidos (no caso da energia elétrica). Ou seja, o aumento de preços serviu para financiar os governos.

Dizem que se o capitalismo fosse deixado nas mãos dos mercados, viveríamos em uma selva. No caso brasileiro, pelo menos seria uma selva mais barata.

Crescimento e inflação

Brasil:
2015: inflação: 10,67%; PIB: -3,8%
2016: inflação: 6,29%; PIB: -3,6%

Argentina
2018: inflação: 47,6%; PIB: -2,5%

Venezuela
2018: inflação: 1.370.000%; PIB: -17,7%

Tenho lido por aí que a baixa inflação brasileira é o outro lado da moeda do baixo crescimento econômico.

Os números acima são só pra mostrar que baixo crescimento econômico não necessariamente leva a inflação baixa. Se temos inflação baixa hoje no Brasil, é porque houve uma competente gestão do Banco Central desde que Ilan Goldfjan assumiu no governo Temer. Dizer que a inflação baixa é somente fruto do baixo crescimento é negar a realidade mostrada pelos números acima.

Pelo contrário: está mais do que provado que inflação baixa e controlada é condição necessária (ainda que não suficiente) para o crescimento econômico de longo prazo. Se o país não está crescendo, não culpe o BC. Procure a explicação na Praça dos 3 Poderes.

O salário e a caneta

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A primeira medida econômica do novo governo do México foi elevar o salário mínimo em mais de 16%. Com isso, espera “elevar o padrão de vida da população”.

Ah, se fosse assim tão simples… Se uma canetada aumentasse o padrão de vida de alguém, não haveria mais pobres no mundo.

O novo governo do México deveria dar uma olhada no que aconteceu em um grande país-irmão no hemisfério Sul. Nesse país, o salário mínimo foi elevado acima da inflação durante quase 20 anos. O final desse processo? Os maiores desemprego e recessão da história.

Não que o aumento do salário mínimo tivesse causado o desemprego e a recessão. Mas foi medida no mínimo inócua, dada a produtividade estagnada da economia. Sem aumento de produtividade, o aumento do salário mínimo é medida apenas nominal, sendo comida pela inflação crescente, além do aumento do desemprego e da informalidade. E se houver aumento da produtividade, não é necessário aumentar o salário na canetada, os salários aumentam naturalmente.

O Banco Central do México está brigando para baixar uma inflação persistentemente acima da meta. Esse aumento do salário mínimo torna a tarefa do BC ainda mais difícil, o que deve levar a taxas de juros mais altas no futuro, desacelerando a atividade econômica. O justo inverso do pretendido. É isso, ou é uma inflação mais alta.

Não se alcança a riqueza com canetadas. É preciso trabalho duro e perseverante durante gerações, fazendo as coisas certas e evitando as coisas erradas. Dentre as coisas certas estão uma justiça rápida e eficiente, o investimento pesado e inteligente em educação básica, a atividade empresarial nas mãos da iniciativa privada, manter equilibradas as contas públicas.

É difícil? Sim, é difícil, muito difícil. Infelizmente, não há atalhos. Os populistas prometem a felicidade ao alcance de uma canetada. Invariavelmente entregam mais pobreza e sofrimento. Sempre.

O candidato do povo

Essas são palavras de Jaques Wagner, um cara até considerado “moderado” pelo mercado.

Todos os sonhos arrebatadores contidos no programa de governo do PT são financiados por três agentes: o contribuinte (que paga impostos), o mercado financeiro (que empresta dinheiro para o governo) e o povo mais pobre (que tem o seu poder de compra reduzido pela inflação quando nenhum dos outros dois agentes topa a brincadeira).

O contribuinte já mandou avisar que não quer mais impostos.

O mercado também já mandou avisar que vai se curvar sim, mas é para pegar a sua malinha e ir embora.

Adivinha para quem vai sobrar?

É fácil chegar lá

O FMI estima que a inflação na Venezuela atingirá 10.000.000% em 2019.

O ser humano tem dificuldade de entender números muito grandes. Esse número de 10 milhões obviamente impressiona, mas não fazemos ideia do que realmente significa. Vou procurar explicar.

Dez milhões porcento ao ano significa uma inflação diária (dias corridos, considerando sábados, domingos e feriados) de 3,2%. Para comparação, a inflação brasileira ANUAL está em 4%. Ou seja, em apenas um dia, os preços na Venezuela sobem quase o equivalente ao que sobem os preços no Brasil em um ano.

Uma outra forma de ver a coisa: 10.000.000% de inflação significa que os preços dobram a cada 3 semanas.

Para 2018, o FMI estima a inflação em “apenas” 1.350.000%, ou 2,64% ao dia. Isto significa que os preços dobram a cada mês.

Claro que essas estimativas não significam nada. O sistema de preços deixou de existir na Venezuela. Se em países “normais” já é difícil medir a inflação, imagine nesse caos em que se tornou a república bolivariana.

Muitos podem se perguntar: mas como conseguiram chegar a isso? É mais simples do que parece. Basta seguir a cartilha bolivariana para a economia: usar o balanço do governo e das estatais para induzir crescimento, subsidiar preços, subordinar a política econômica às necessidades políticas do partido.

Se quiser o detalhamento desse roteiro, dá uma olhada no programa de governo do PT. Está tudo explicadinho lá.

As várias faces do Bolívar

Ontem, uma reforma monetária cortou 5 zeros da moeda venezuelana, dando origem ao “Bolívar Soberano”.

O “Bolívar Soberano” sucede ao “Bolívar Forte”, moeda criada após outra reforma monetária, feita por Chávez em 2008, que cortou 3 zeros da moeda venezuelana.

Com o objetivo de ajudar a autoridade monetária venezuelana a controlar a inflação na república bolivariana, sugiro a seguir alguns nomes para o Bolívar nas próximas reformas monetárias:

  • Bolívar Super-Poderoso
  • Bolívar Todo-Poderoso
  • Bolívar Invencível
  • Bolívar Transformer
  • Bolívar Fodão do Bairro Peixoto
  • Bolívar Chuck Norris

Mais alguma ideia?

Ainda há esperança

Da página de Gustavo Franco:

Hoje, 1 de julho de 2018, o real faz 24 anos. É o padrão monetário mais bem sucedido de todos os 9 que o Brasil já teve. Até hoje, 24 anos depois, voce vai ter dificuldade com o troco para a nota de R$100. Em 1967, quando o cruzeiro de 1942 foi substituido pelo cruzeiro novo, Pedro II, da cédula de Cr$ 100, ganhou um carimbo redondo e passou a valer 10 centavos. Vamos festejar uma reforma que fizemos direito, e que era muito dificil. Podemos perfeitamente resolver os outros problemas, o Brasil não é um caso perdido.