Assim começa declaração de dirigente do Corinthians em reportagem de março do ano passado. Com isso, se inviabiliza a realização de shows no Itaquerão, o que poderia aliviar a situação financeira do clube.
Quem é torcedor do Palmeiras sabe que, de vez em quando, o time precisa jogar no Pacaembú, pois o Allianz Park está ocupado por algum show.
Palmeiras e Corinthians não são donos de seus estádios. A diferença é que os palmeirenses sabem disso.
Cansei de tentar explicar para amigos corinthianos, entusiasmados com a ideia de, finalmente, ter um estádio próprio, que aquilo estava sendo construído com o dinheiro deles. Não!, diziam, não tem um tostão público, vai ser tudo pago pelo clube, com o faturamento adicional proporcionado pelo estádio.
Bem, o estádio foi pago pela Odebrecht e pelo BNDES, em empréstimo operado pela Caixa. Os dois viram apenas uma fração do dinheiro de volta até o momento.
A Odebrecht seria paga com CIDs, certificados emitidos pela prefeitura que dão direito a isenção fiscal no município. A empresa poderia negociar esses CIDs no mercado para reembolsar-se. Para a Odebrecht, obviamente, tratava-se de uma enrascada, pois a empresa trabalha com dinheiro, não com CIDs. Mas negar um pedido pessoal do “amigo do meu pai” não pegava bem. Além disso, havia muitas outras frentes de negócios com o Estado brasileiro onde a empresa poderia se “ressarcir”. Não sei onde foi parar essa história dos CIDs, mas o fato é que a Odebrecht está cobrando a fatura do clube. Há exato um mês, o inefável Andrés Sanchez veio a público afirmar que haviam chegado a um acordo com a empresa, faltava só assinar o contrato. Acho que estão esperando o Bessias chegar com o papel.
Agora, a Caixa resolveu partir pras vias de fato, provavelmente porque a nova diretoria do banco, calejada no mercado financeiro, deve ter percebido que a diretoria do clube é uma versão menos séria do personagem Rolando Léro.
No final disso tudo, seja por meio de CIDs, seja por meio de corrupção em outros contratos, seja por meio do calote pura e simples, o estádio do Corinthians foi feito com o meu, o seu, o nosso. Os partidos de esquerda fãs de uma “auditoria da dívida” podem contabilizar mais essa.
Ainda lembro das discussões homéricas que tive sobre o financiamento para a construção do Itaquerão. Alguns amigos defendiam que as CIDs, emitidas pela prefeitura da cidade, não eram investimento público, mas apenas incentivo para o desenvolvimento da Zona Leste da capital. O seja, o que seria gerado de impostos mais que compensaria a renúncia fiscal. Outros defendiam que o estádio era autossustentável, que os fãs da maior torcida de São Paulo fariam fila na entrada do museu do clube, pagando R$50 a entrada, como os fãs do Barcelona fazem.
A triste realidade é que a condição sócio-econômica do torcedor médio brasileiro não viabiliza a construção de estádios somente para o futebol. O ticket médio que o torcedor pode pagar não justifica a construção de estádios.
Há somente duas soluções. A primeira foi adotada pelo Palmeiras: uma empresa explora o estádio para eventos e, de vez em quando, cede o espaço para jogos de futebol. A segunda é o Tesouro bancar a construção do estádio a fundo perdido, como um patrimônio público. A construção do Itaquerão tentou explorar uma terceira via: a construção com dinheiro público, mas com utilização privada. O Corinthians faz de conta que está pagando, e o poder público faz de conta que está recebendo.
A Caixa, ao acionar a Odebrecht no caso do Itaquerão, decidiu parar de fazer de conta.
O Itaquerão está para o Corinthians assim como a Refinaria Abreu e Lima está para a Petrobras: uma obra faraônica, feita por motivos populistas (e, quiçá, criminais), sem viabilidade financeira, mas que rendeu dividendos políticos a Lula (coincidentemente ou não, a FUP e a Gaviões estão contra o impeachment).