Quase não dá para acreditar

No dia 26/05 último, publiquei aqui um post com uma simulação: se 75% das doses prometidas pelo Ministério da Saúde fossem entregues, seria possível vacinar 100% da população adulta com a 1a dose até o dia 20/10.

Doria fez a mesma conta, e prometeu vacinar todo mundo no Estado até o dia 31/10. Possível é, portanto. É até conservador, se considerarmos que São Paulo está vacinando a um ritmo superior à média brasileira e a frustração na entrega das vacinas em relação ao cronograma tem ficado na faixa de 10%.

Claro que a premissa é a entrega das vacinas. Vamos ver.

Errando o alvo por muito

Estou longe de ser um especialista em marketing eleitoral. O que vou escrever a seguir pode estar completamente errado, porque me faltam conhecimentos. Mas é o que intuo sendo um observador da cena política nacional.

Tendo dito tudo isso, vamos lá: o posicionamento mercadológico de Doria é um desastre.

Diante da “ameaça” de Bolsonaro usar o exército para acabar com o toque de recolher, Doria faz um arrazoado “pela democracia”! Caraca! Como pode errar o alvo assim, tão longe???

É óbvio – não, é muito óbvio – que Bolsonaro não tem a mínima condição de fazer o que ele está dizendo que vai fazer. O quê? Ele vai jogar o exército contra as PMs? Provocar uma guerra civil? O Bolsonaro? Espera aí que eu vou gargalhar ali no canto e já volto.

É claro que a agenda de Bolsonaro é outra: ele está procurando cevar a narrativa de que o buraco econômico em que nos metemos é culpa dos governadores, não dele. Afirmar que “vai usar o exército” é só uma forma de dizer que vai “tomar providências” e, como bônus, agradar a sua grei mais fanática, que realmente acredita que o mito tem o poder de “acabar com essa bagunça”.

Responder que Bolsonaro tem “devoção pelo autoritarismo e alergia pela democracia” pode fazer sucesso nos círculos bem-pensantes da imprensa e da intelectualidade tupiniquim. Mas, para o povão, o que importa é ter meios de colocar comida na mesa. Democracia é um luxo que vem depois. Onde Doria quer chegar com essa mensagem? Talvez nos 5% que ele já tem em intenções de voto. Com esse tipo de discurso insosso, vai ser difícil sair daí.

Como ele poderia ter respondido? Na minha humilde opinião, colando na testa do presidente a palavra “incompetente”. Autoritário é um adjetivo abstrato, poucos sabem e muitos menos dão importância a isso. Agora, incompetente todo mundo sabe o que é. A resposta poderia ser algo na linha:

– Esse Bolsonaro é um fanfarrão. Está tentando esconder a sua incompetência para lidar com a pandemia e o desemprego por traz de uma ameaça ridícula”.

Ou, melhor ainda, alavancando no seu grande ativo, a Coronavac:

– Ao invés de ficar fazendo ameaças ridículas, o presidente poderia se esforçar um pouco mais para acelerar a vacinação. Se dependesse da incompetência do Bolsonaro, teríamos somente 20% das vacinas que temos hoje.

E não pensem que é só João Doria que se perde nesse lenga-lenga de democracia. Todos os chamados “candidatáveis” de centro cometem o mesmo erro. Vê se Lula gasta sua saliva falando de ameaça à democracia. No seu discurso no sindicato, a primeira coisa que fez foi desancar a incompetência do governo Bolsonaro no trato da pandemia e da economia. Esse entende do riscado.

O chamado “centro” precisa urgentemente de um João Santana que ajuste o discurso. Ops, parece que já foi contratado.

A busca pela terceira via

Tenho observado com vivo interesse o movimento para encontrar uma terceira via para enfrentar os “extremos” representados por Bolsonaro e Lula. Muitos não querem (eu me incluo) ter que escolher entre os dois no 2o turno de 2022.

Para tanto, muito se tem falado em unificar a candidatura de centro, pois a chance seria maior de passar para o 2o turno contra um dos dois. Será?

Fiz uma pesquisa em todas as eleições desde a redemocratização. As duas únicas eleições em que a soma das votações de todos os candidatos que não os dois mais votados excedeu a votação do 2o colocado (ou seja, esse hipotético “tercius” teria ido ao segundo turno) foram as eleições de 1989 e 2002.

Em 1989, a soma das votações de Brizola, Covas, Maluf, Afif, Ulysses e uma longa lista de outros candidatos somou 50,8%, bem mais do que os 16,7% obtidos por Lula, o segundo colocado. Na verdade, em tese, se somente Brizola e Covas tivessem se unido, os seus 27,2% de votos teriam tirado Lula do 2o turno. Em tese.

Em 2002, as votações de Anthony Garotinho e Ciro Gomes somaram 29,8%, contra 23,2% de José Serra, o 2o colocado naquele ano. Vamos analisar este caso mais de perto.

Digamos que Garotinho tivesse aberto mão de sua candidatura em favor de Ciro. Será que Ciro Gomes teria herdado todos os votos de Garotinho? Não será que uma parte desses votos teria ido para Serra, mantendo-o no 2o turno?

Tivemos uma experiência semelhante na eleição de 2014. Marina Silva era esse “tertius” contra a “polarização” entre PT e PSDB, a que mais chegou perto de tirar um dos dois partidos do 2o turno, tanto em 2010, quando teve 19,3% dos votos, quanto em 2014, quando teve 21,3% dos votos. Mas em 2014, ao contrário de 2010, Marina Silva declarou apoio formal à candidatura de Aécio Neves. Tivemos, então, a oportunidade de observar a migração de votos causada por esse apoio. Foi como se Marina tivesse aberto mão de sua candidatura em favor de Aécio.

Para acompanhar melhor o que aconteceu, vejamos os números desse eleição (os números se referem às votações no 1o e 2o turnos, respectivamente):

  • Dilma: 41,6% / 51,6%
  • Aécio: 33,6% / 48,4%
  • Marina: 21,3%
  • Outros: 3,5%

O resultado: dos 21,3% recebidos por Marina, no mínimo 6,5 pontos percentuais foram para Dilma, que aumentou a sua votação de 41,6% no 1o turno para 51,6% no 2o turno (estou assumindo que os outros 3,5 pontos percentuais que faltam para completar os 10 pontos vieram dos outros candidatos). O restante (no máximo 14,8 pontos percentuais) foi para Aécio. Ou seja, a migração não foi suficiente para dar a vitória a Aécio.

Digamos que, desses 6 que assinaram o tal “Manifesto pela Democracia”, se encontre um candidato único. Quanto dos votos que os outros candidatos teriam migrarão efetivamente para o “candidato escolhido”? Vou dar um exemplo concreto: digamos que esta terceira via seja Ciro Gomes. Quantos votos o coronel vai herdar dos supostos eleitores de Doria ou de Moro? E vice-versa?

Parece-me que aqueles que estão preocupados em encontrar uma terceira via que unifique todas as candidaturas fariam melhor em encontrar um candidato, qualquer um. O triste fato é que há um deserto de opções com chances reais de desafiar o presidente e o ex-presidente. Eu iria além: mesmo que Lula não possa concorrer, não há, hoje, opções com chances reais de desafiar o presidente e qualquer candidato do PT.

Um candidato com chances reais, qualquer que seja, saberá encontrar o seu caminho para ganhar corações e mentes dos eleitores, sem precisar construir estruturas artificiais. O desafio não é encontrar um candidato único. É encontrar um candidato.

Um nome de centro. Qualquer um.

Eliane Catanhêde é colunista política. Não é analista nem muito menos cientista política. É colunista. E, sendo colunista, tudo o que escreve tem fonte, tenha sempre isso em mente.

Não é à toa que o nome de Luiza Trajano aparece nesta coluna. Noutro dia, o nome da fundadora da Magazine Luiza apareceu em uma outra notinha como vice dos sonhos de Lula.

Luiza Trajano está se preparando para entrar no jogo da sucessão de 2022. A colunista descarta Eduardo Leite, por ter “pouca experiência política” mas acolhe o nome de Trajano como uma alternativa séria. No fundo, o que Catanhêde e todos os jornalistas e analistas buscam desesperadamente é uma alternativa “de centro” viável.

Por algum motivo misterioso, Trajano teria chances reais em um campo onde nomes muito mais consistentes como Doria, Huck, Moro e até Eduardo Leite já não têm chances. O desespero obnubila o raciocínio das pessoas.

Viva a competição capitalista!

A competição é a essência do capitalismo.

Por que o socialismo nunca funcionou e nunca funcionará em lugar algum? Por que as pessoas não se movem se não tiverem um incentivo. E não há maior incentivo do que salvar a própria pele. Ter um competidor nos calcanhares é o combustível do capitalismo.

Doria teve o grande mérito de colocar fogo no parquinho das vacinas. Forçou a barra, politizou, a ponto de o governo federal ter que levantar de seu berço esplêndido e sair correndo atrás de alternativas. A próxima, pelo visto, é a Sputinik-V.

Na competição capitalista, o beneficiário final é o consumidor. Na competição pelas vacinas, o beneficiário final serão todos os brasileiros. Quanto mais vacinas (eficazes e seguras), melhor. Viva a competição!

Os fatos, sempre eles

No dia 07/12 do ano passado, o governador de São Paulo, João Dória, prometeu o início da vacinação para o dia 25/01/2021. Portanto, hoje.

Foi um Deus nos acuda!

“Precisa da aprovação da Anvisa!”

“Como pode prometer se não sabe se vai ter a vacina!”

“Não sabe nem se a vacina é eficaz!”

“Só fez politicagem em cima da vacina!”

O fato é que hoje, 25/01/2021, mais de 600 mil brasileiros já foram vacinados com a vacina prometida por João Dória. Os fatos se precipitaram, e uma data que parecia ser otimista demais, mostrou-se absolutamente conservadora.

Os fatos, sempre eles.

Se não fosse o Dória…

Então, é isso: não fosse a vachina do Doria, estaríamos assistindo o mundo inteiro vacinando, esperando a nossa vez em março. Se não chovesse.

Nem acho que seja uma questão ideológica anti-vacina. Parece-me mais incompetência mesmo. Falta de foco e de gestão de prioridades.

Pode até ser que a ideologia tenha levado à incompetência. Mas pouco importa a existência e a ordem dos fatores. O fato é que estamos nas mãos de amadores na gestão da vacinação.

Politização e realidade alternativa

Politizou? Politizou.

Mas vamos imaginar uma realidade alternativa.

Nessa realidade alternativa, o governo federal atua de maneira diligente em busca da vacina. Além de patrocinar o convênio da Fiocruz com a AstraZeneca e comprar uma parcela tímida do consórcio COVAX, encampa a iniciativa de São Paulo, assumindo a coordenação desde o início. E, principalmente, adota uma postura pró-vacina, não detonando a iniciativa. Quem acompanha as redes bolsonaristas, sabe de quanto ceticismo foram vítimas as vacinas de maneira geral e a Coronavac de maneira particular. As falas do presidente não deixam dúvidas com relação a isso.

O governo federal preferiu atuar como concorrente dos estados, não como parceiro. Na verdade, como um sabotador da vacina. A realidade alternativa até deu uma colher de chá em outubro, quando o Ministério da Saúde se comprometeu a adquirir os lotes de Coronavac produzidos pelo Butantan. Mas Bolsonaro preferiu continuar antagonizando, e desautorizou o seu ministro da saúde. A partir daí, a realidade seguiu o seu curso.

Quando viu que a vaca da vacinação nacional estava indo para o brejo, o Ministério da Saúde tentou uma última cartada, mandando um avião para a Índia em busca da vacina da AstraZeneca. Um papelão. Não satisfeito, deu uma ordem para que São Paulo entregasse toda a produção imediatamente, como se Doria fosse um ginasiano assustado com o berro do professor.

Tendo frustrada a derradeira tentativa de evitar que o governador de São Paulo saísse na foto, o ministro da saúde conseguiu protagonizar o maior papelão de seu já deveras longo mandato, ao chamar uma coletiva não para comemorar a aprovação das vacinas, mas para passar recibo de perdedor, em uma competição que só interessa a Bolsonaro e Doria.

Doria politizou a vacina, sem dúvida. Mas é dele a única vacina brasileira aprovada e disponível até o momento. Na realidade alternativa, o espaço para politização da vacina por parte de Doria seria bem menor, pois o protagonismo seria do governo federal. Mas Bolsonaro preferiu jogar um jogo que não tinha como ganhar, pois nunca trabalhou com seriedade para isso.

A esperteza engoliu o esperto

Demorei um pouco a voltar a escrever sobre Doria e o Coronavac, porque as nuvens estão mudando de formato dia a dia, e não quis correr o risco de escrever algo que ficasse velho algumas horas depois. Acho que agora, aparentemente, a coisa estabilizou-se. Vamos ver, espero não queimar a língua.

No meu primeiro post a respeito, saudei o movimento do governador de São Paulo, ao anunciar um cronograma de vacinação. Isso foi no dia 07/12. O Reino Unido começaria sua campanha de vacinação no dia seguinte, enquanto vários países já anunciavam os seus programas para dezembro. O nosso governo, deitado eternamente em berço esplêndido, fazia cara de paisagem. O anúncio de Doria serviu para chacoalhar o cenário.

Avaliei, na ocasião, que ele já devia ter um trunfo nas mãos. Caso contrário, não arriscaria um cronograma com data marcada. Data esta, inclusive, que dependia da boa vontade da Anvisa. O anúncio servia para emparedar o governo federal.

Na época, chamei a atenção para o papel dos fatos no jogo político. Cada um pode dizer o que quiser, pode usar a narrativa que lhe convém. Mas, no final do dia, o que vai determinar o rumo dos acontecimentos são sua majestade, os fatos. E o fato é que Doria contava com uma vacina eficaz nas mãos, a única até aquele momento disponível no Brasil. Por motivos técnicos, no entanto, o anúncio da eficácia da vacina não podia ser feita naquele momento, mas foi prometida para o dia 15/12. Como eu imaginava que Doria não faria esse movimento sem ter uma razoável segurança sobre este dado fundamental, achei que fosse somente cumprimento de tabela.

Na véspera do anúncio, no entanto, Doria adiou mais uma vez, desta vez para o dia 23/12, e afirmando que já entraria com o pedido de registro junto à Anvisa naquele dia. Escrevi neste dia (14/12) que os fatos começavam a jogar contra a narrativa de Doria. Por que houve a promessa de divulgação para o dia 15/12? Com que base foi determinada aquela data, que, como se viu, não era real? O cheiro de intervenção política foi ficando mais forte.

No dia 23/12, o anúncio foi novamente adiado. A desculpa, desta vez, é que a Sinovac queria unificar os resultados obtidos no Brasil com as suas experiências na Turquia e Indonésia. Como vimos posteriormente, bullshit, os dados foram divulgados de maneira separada. O detalhe sórdido foi a ausência de Doria durante a coletiva do não-anúncio, em uma escapadinha para Miami neste dia. Os fatos, definitivamente, começavam a jogar contra o governador.

O interessante deste não-anúncio da eficácia no dia 23/12 foi justamente o anúncio da eficácia: o diretor do Butantã afirmou que a vacina tinha eficácia acima de 50%, conforme o exigido pelas agências reguladoras. Essa informação, vista de hoje, foi absolutamente correta, o que mostra que o governador e a diretoria do Butantã já tinham os dados de eficácia no dia 23/12, e provavelmente antes. Estavam apenas tentando encontrar um modo de comunicar melhor a questão.

A próxima data prometida para o anúncio foi o dia 07/01. De fato, neste dia, com pompa e circunstância, e até com direito a filminho da diretoria do Butantan recebendo a notícia “fresquinha”, soubemos que a eficácia da vacina era de 78%. Um excelente número, para quem estava esperando algo “acima de 50%”. Os fatos começavam a pender novamente para o governador. Todos os adiamentos anteriores eram apenas por motivos técnicos mesmo, agora ficava claro que tínhamos uma vacina decente.

Mas os fatos teimam em colocar o seu nariz para fora. Não demorou a surgirem questionamentos sobre este número de eficácia. Descobrimos que se tratava de um corte do estudo, não a eficácia geral. Aquela festinha filmada no Butantan não passava de encenação. Um verdadeiro papelão de todos os envolvidos.

No final, temos uma vacina de fácil produção e estocagem, que serve bem para diminuir os números da Covid e aliviar a pressão sobre os hospitais. Não se trata da bala de prata, mas em conjunto com outras vacinas e procedimentos, pode sim servir para voltarmos a uma vida minimamente normal.

A pantomima patrocinada pelo governador de São Paulo serviu, quando muito, para diminuir a eficácia da campanha de vacinação. Com tantos números rodando por aí, não é à toa que as pessoas fiquem em dúvida sobre a vacina. Doria começou bem, tomou à frente em um processo arriscado, teve sucesso na obtenção de uma vacina. Temos, de fato, uma vacina. Mas a forma como tentou dourar a pílula deitou por terra todo esse trabalho. A esperteza engoliu o esperto.

Os fatos, sempre eles

Escrevi um post na primeira data em que o governador João Doria havia prometido divulgar os dados de eficácia da Coronavac, 15/12. No dia anterior, a divulgação havia sido adiada para o dia 23/12. O motivo era até nobre, ainda que não convincente: iriam submeter o registro definitivo e não mais emergencial. Precisavam, portanto, de mais tempo para “organizar a papelada”. Ou seja, estava tudo certo, era mais uma questão burocrática.

Ontem, adiaram novamente o anúncio. Dessa vez porque, aparentemente, os dados de eficácia se mostraram diferentes no Brasil, Indonésia e Turquia, países onde a Coronavac foi testada.

Estatística não tem muito segredo. Você tem um certo nível de confiança nos resultados a depender do tamanho da amostra. Por exemplo, quando dizemos que os resultados de sondagens eleitorais têm uma incerteza de dois pontos percentuais com confiança de 95%, isso significa que, se fizermos a mesma pesquisa 100 vezes, em 95 os resultados tendem a ser os mesmos, 2 pontos percentuais para cima ou para baixo.No caso da Coronavac, foram testadas populações diferentes. Não ficou claro, mas eu entendo que os resultados foram diferentes a ponto de ficarem fora do intervalo do nível de confiança. Ou seja, as eficácias foram estatisticamente diferentes nesses países. Aparentemente, a Sinovac pediu mais tempo para “harmonizar” os resultados, ou seja, encontrar variáveis que possam explicar as diferenças.

Tudo isso que falei é muito técnico. E o pior, é só chute, porque é o que consegui inferir da coletiva de ontem, não tenho certeza de que seja isso. Mas essa é a parte técnica. A parte política é outro departamento.

Trabalho com investimentos. Às vezes é difícil explicar para os meus clientes porque perderam dinheiro. É um assunto muito técnico, que às vezes fica difícil traduzir para o leigo. Fica aquela impressão de rolando-lero.

Mas tem uma coisa que nunca faço: prometer resultados. Existem muitas variáveis envolvidas que não estão sob o meu controle, o que chamamos de risco. Ficaria muito mal prometer algo e não entregar. É o que chamo de “parte política” dos investimentos.

Voltemos à Coronavac. O Butantan e o laboratório chinês podem ter todos os motivos técnicos do mundo para terem adiado o anúncio da eficácia da vacina. Não vou aqui entrar no mérito. Mas ficou a impressão de rolando-lero. Mas o problema de fundo foi o governador prometer algo que não estava totalmente sob seu controle. Certamente, quando ele planejou a ação, lhe disseram que a Coronavac era eficaz. Ele pode ser tudo, menos burro. O problema foi ter colocado uma data ANTES de efetivamente poder mandar a vacina para registro. O atraso no envio para registro é até mais grave do que a não divulgação dos dados de eficácia.

No post citado, havia afirmado que os fatos, esses senhores da política, começavam a se virar contra Doria. O adiamento de ontem é mais um passo nessa direção. Somente uma eficácia muito alta, devidamente reconhecida por publicação acadêmica de primeira linha, e a preservação da data de 25/01 como início da vacinação, poderão colocar os fatos novamente trabalhando para Doria. Convenhamos que ficou bem mais complicado.